A Volkswagen implementa uma reestruturação profunda, buscando cortar milhares de empregos sem demissões diretas, enquanto ajusta a produção global e equilibra o avanço da eletrificação com o papel estratégico do Brasil no cenário automotivo mundial.
A Volkswagen enfrenta uma crise sem precedentes e está implementando um plano para reduzir sua força de trabalho sem recorrer a demissões compulsórias.
A montadora alemã confirmou que cerca de 20 mil funcionários já aceitaram acordos para deixar a empresa até 2030.
Esse número representa mais da metade da meta de cortes que prevê eliminar 35 mil postos de trabalho na Alemanha, como parte do programa de reestruturação “Zukunft Volkswagen”.
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O anúncio foi feito por Gunnar Kilian, diretor de Recursos Humanos da empresa, durante uma assembleia em Wolfsburg, sede da montadora.
Segundo ele, o plano segue em curso conforme o cronograma, com resultados promissores nas primeiras etapas.
O acordo que viabilizou o programa foi fechado em dezembro de 2023, após intensas negociações com os sindicatos.
Desde então, a Volkswagen tem adotado estratégias para reduzir sua folha de pagamento sem lançar mão de demissões diretas, algo que causaria grande desgaste institucional e social.
As principais ferramentas usadas nesse processo são os programas de aposentadoria antecipada e pacotes de indenização voluntária, oferecidos aos colaboradores em diversas áreas e níveis hierárquicos.
Transformação afeta toda a operação alemã
O plano de reestruturação afeta diretamente as seis unidades da Volkswagen AG na Alemanha, incluindo a emblemática fábrica de Wolfsburg.
Com aproximadamente 130 mil funcionários no país, a montadora pretende eliminar quase um quarto dessas vagas ao longo dos próximos anos.
A medida faz parte de uma ampla reavaliação estrutural, focada na redução de custos e no aumento da eficiência produtiva em meio a uma conjuntura global cada vez mais competitiva.
A empresa busca tornar-se mais enxuta, ágil e sustentável até 2029, enfrentando os próprios gargalos que surgiram com o avanço da eletrificação e digitalização automotiva.
Para Gunnar Kilian, os esforços iniciais mostram que o plano é viável e necessário para garantir a sobrevivência da companhia a longo prazo.
Ele destacou que o programa está sendo conduzido de forma responsável, respeitando os direitos dos trabalhadores e mantendo o diálogo com os representantes sindicais.
Problemas estruturais desafiam o futuro da montadora
Apesar dos avanços no corte de pessoal, a Volkswagen ainda enfrenta sérios desafios estruturais que colocam em risco sua competitividade.
De acordo com David Powels, diretor financeiro da marca, os custos operacionais elevados, os investimentos pesados e a baixa rentabilidade dos veículos elétricos dificultam o equilíbrio financeiro da empresa.
Ele itiu que a montadora opera com um ponto de equilíbrio muito alto, o que significa que são necessárias vendas em grande volume apenas para que o negócio deixe de dar prejuízo.
Esse cenário é insustentável em médio e longo prazo.
“Não há mais espaço para resistência às mudanças”, afirmou Powels, indicando que toda a organização precisa se engajar para virar a página.
A estratégia da montadora a por modernizar processos internos, aprimorar sua cadeia de produção e fortalecer o foco em veículos elétricos e tecnologias limpas.
Além disso, há uma tentativa de manter a lucratividade dos modelos a combustão durante a transição.
Turnos extras e readequações na produção
Enquanto reestrutura parte da operação, a Volkswagen também programou turnos extras na fábrica de Wolfsburg.
O objetivo é atender à demanda crescente por modelos tradicionais, como Golf, Tiguan e Touran — todos com motorização a combustão.
Esse reforço na produção sinaliza que, apesar do discurso de transição energética, os veículos convencionais ainda têm espaço garantido nas estratégias de curto prazo. No entanto, mudanças já estão sendo planejadas.
O sucessor elétrico do Golf será produzido em Wolfsburg, enquanto o modelo movido a combustão terá sua produção transferida para o México, onde os custos industriais são menores.
A movimentação reflete um reposicionamento global da Volkswagen, buscando alocar suas linhas de produção de maneira mais eficiente em termos de custos e logística.
Além disso, a montadora registrou um crescimento expressivo nas vendas de veículos elétricos nos últimos trimestres, indicando que o mercado europeu começa a responder às novas ofertas.
Esse avanço ajuda a compensar parte das perdas com margens reduzidas nesses produtos e representa um alento para o planejamento estratégico da empresa.
A aposta é que a escalada das vendas e a evolução tecnológica ajudem a melhorar a rentabilidade no segmento nos próximos anos.
Impactos no Brasil e o papel estratégico do país
A reestruturação global da Volkswagen também levanta questões sobre os impactos nas operações brasileiras da montadora.
No Brasil, a Volkswagen possui fábricas em São Bernardo do Campo (SP), Taubaté (SP) e São José dos Pinhais (PR), que produzem modelos como Polo, Virtus, Nivus, T-Cross e Saveiro.
Até o momento, não há anúncios oficiais de cortes ou mudanças significativas nessas unidades.
No entanto, a empresa tem adotado uma abordagem cautelosa em relação à eletrificação no país.
Enquanto na Europa a Volkswagen planeja encerrar a produção de carros a combustão até 2035, no Brasil a montadora ainda aposta em motores a combustão e híbridos, com foco no uso do etanol como alternativa sustentável.
Recentemente, a Volkswagen anunciou investimentos significativos no desenvolvimento de motores a combustão, redirecionando parte dos recursos que seriam destinados aos elétricos.
Cerca de R$ 342 bilhões serão investidos para aprimorar os propulsores convencionais, visando atender mercados onde a eletrificação enfrenta desafios, como infraestrutura e custo.
Essa estratégia reforça o papel do Brasil como um mercado estratégico para a Volkswagen, especialmente na produção de veículos a combustão que serão exportados para outras regiões.
A transferência da produção do Golf a combustão para o México e o foco na eletrificação na Europa indicam que países como o Brasil continuarão a desempenhar um papel crucial na oferta de modelos convencionais durante a transição energética global.
Mas será que os funcionários vão continuar aderindo aos pacotes de desligamento ou, em algum momento, a Volkswagen terá que lidar com resistências mais fortes?