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A TV na Coreia do Norte é uma LOUCURA | Isso é o que você vai ver se assistir à TV norte-coreana por uma semana

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 10/06/2025 às 20:11
Coreia do Norte
Foto: Reprodução

Durante uma semana inteira, uma equipe assistiu à programação da televisão norte-coreana, buscando entender o que realmente chega aos olhos e ouvidos dos cidadãos do país mais fechado do mundo. A experiência revelou um universo controlado, repetitivo e repleto de propaganda, onde até desenhos infantis falam sobre esterco e a música serve para exaltar o líder supremo. A seguir, um mergulho nesse mundo paralelo.

A televisão na Coreia do Norte não é só diferente. Ela parece pertencer a outro planeta. Uma realidade paralela onde tudo gira em torno de um único nome: Kim. Uma equipe da ABC News assistiu e viu muitas coisas estranhas.

Logo ao ligar a Televisão Central Coreana (KCTV), o telespectador se depara com os rostos do “Querido Líder” Kim Jong-il e de seu pai Kim Il-sung, estampados num fundo vermelho.

Nenhum texto, nenhum som. Apenas os rostos. É o aviso silencioso de que ali, naquela tela, quem manda são os Kims.

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Uma imagem do falecido líder norte-coreano Kim Jong Il aparece antes da transmissão diária na Televisão Central da Coreia.

Sem zapping, sem escolha, sem descanso

Na Coreia do Norte, não existe algo como um “guia de TV“. A programação é enxuta e previsível. A KCTV transmite cerca de sete horas por dia.

Os outros canais, como a Mansudae TV ou a Televisão Educacional e Cultural, aparecem de forma esporádica — e muitas vezes silenciosa — graças à falta de energia ou de recursos.

A rotina começa às 15h com uma introdução simples do que será mostrado.

Quem está assistindo, porém, já sabe o que vem: adoração aos Kims, propaganda socialista, notícias selecionadas, desenhos infantis com esterco e músicas patrióticas que grudam na cabeça.

Sem concorrência, sem limites

Não há competição. Nenhum outro canal para mudar. E com isso, o conteúdo é transmitido sem nenhuma preocupação com o gosto do espectador.

A programação é pensada para um único objetivo: fortalecer o culto à personalidade de Kim Jong-un e manter viva a ideologia socialista do regime.

A estrutura das reportagens segue um padrão rígido. Primeiro, elogios ao líder supremo. Depois, notícias “econômicas”, geralmente sobre fábricas ou fazendas coletivas. Na sequência, críticas aos Estados Unidos e à Coreia do Sul. E, por fim, uma música patriótica para animar o encerramento.

Uma semana de esterco, meias e fábricas

Durante uma semana inteira de observação, a programação girou em torno da produção de esterco nas fazendas, do orgulho de trabalhadores em fábricas e do papel quase divino do líder norte-coreano.

Reportagens exaltavam camponeses de Anbyeon e Uiju que já estavam com toneladas de fertilizante preparado para a primavera. Já as fábricas, como uma de meias em Pyongyang, eram descritas como centros de excelência tecnológica. Qualquer visita de Kim a esses locais virava manchete principal.

Na sexta-feira, por exemplo, Kim visitou uma fábrica de medicamentos acompanhado de sua esposa. Nenhuma imagem em vídeo, apenas fotos. Mesmo assim, a reportagem ocupou boa parte do telejornal, narrando como o líder orientava os trabalhadores a buscar mais qualidade.

Os Estados Unidos são o inimigo, sempre

Um dos temas preferidos da KCTV é o “imperialismo americano”. Todos os dias, há pelo menos uma crítica direta ou indireta aos Estados Unidos. Trump é chamado de “lunático de guerra”, a Casa Branca é acusada de sabotar a paz na Península Coreana, e qualquer exercício militar vira “ameaça catastrófica”.

Até a gripe comum vira arma de propaganda. Na terça-feira, a TV norte-coreana noticiou surtos em países como EUA, Alemanha e Tunísia, com um tom alarmista: “cidadãos de muitos países perderam a vida”.

A mensagem subliminar é clara: fora da Coreia do Norte, tudo é caos. Aqui, tudo é ordem, trabalho e felicidade.

O país mais perfeito do mundo (segundo ele mesmo)

Na narrativa oficial, a Coreia do Norte é um paraíso socialista. A capital Pyongyang é retratada como moderna, limpa e repleta de escolas e fábricas de ponta. Não há fome, não há crime, não há injustiça.

Mas o contraste com a realidade é gritante. Enquanto o canal exibe fábricas supostamente modernas, o país enfrenta sanções, escassez de alimentos e um sistema de saúde precário. Aparentemente, isso não cabe no roteiro da TV estatal.

Um musical ininterrupto de propaganda

Sem comerciais, os intervalos da programação são preenchidos com canções de propaganda. E não são músicas improvisadas. São bem produzidas, com melodias cativantes e letras que exaltam o exército, o partido e, claro, o líder.

Na terça-feira, por exemplo, foi exibido o videoclipe de “Guarde o Partido Central com a Vida”. Soldados marcham com orgulho. A bandeira tremula ao fundo. A música repete versos sobre sacrifício, honra e fidelidade ao Partido dos Trabalhadores.

A letra aparece na tela em estilo karaokê, permitindo que o espectador cante junto. E muitos provavelmente o fazem.

Animações que ensinam a obedecer

Mesmo os desenhos animados exibidos às crianças carregam mensagens políticas. São produções antigas, com traços que lembram os anos 1980, e narrativas que exaltam o esforço coletivo, a obediência e a importância de seguir os planos do líder.

Em um desenho chamado “Keep in Mind”, o enredo era sobre escovar os dentes corretamente. Mas tudo envolto em um tom militarizado e com uma estética austera.

Outro, chamado “A História dos Irmãos Scale”, tinha balanças, frascos e microscópios como personagens. A missão deles era preparar a plantação de feijão… com muito esterco, claro. A mensagem era clara: siga as ordens, trabalhe duro e confie no planejamento central.

O âncora que parece uma autoridade divina

O estilo do noticiário é outro espetáculo à parte. O apresentador fala com uma voz firme, pausada e quase autoritária. Ele não lê notícias. Ele faz discursos.

Na quinta-feira, por exemplo, uma “declaração oficial” à Coreia do Sul durou 15 minutos. Nenhum vídeo, nenhuma foto. Apenas o rosto do apresentador e sua voz monocórdia, lendo uma longa advertência sobre a ameaça dos Estados Unidos e a necessidade de manter a soberania norte-coreana.

O mais surreal é que tudo isso é feito com seriedade absoluta. Não há ironia, não há espaço para dúvidas. A TV norte-coreana é uma máquina de crença.

Nenhum elogio ao exterior. Apenas desgraças

Durante toda a semana de observação, não houve um único elogio a outro país. Em vez disso, o canal listava tragédias pelo mundo: protestos nos EUA, desastres climáticos na Alemanha, surtos de doenças na Ásia e na Europa.

Tudo isso reforça a ideia de que o mundo exterior é perigoso, instável e corrupto. A mensagem implícita: agradeça por viver aqui.

Uma lavagem cerebral diária e repetitiva

Depois de cinco dias assistindo à programação da KCTV, fica evidente o verdadeiro papel da televisão no país: não é informar, não é entreter — é doutrinar.

Mesmo os conteúdos mais inocentes são usados como instrumentos de controle. A música pop é propaganda. O noticiário é propaganda. O desenho animado é propaganda. Até o tempo é propaganda.

A programação martela as mesmas ideias em ciclos intermináveis: os Kims são heróis, o socialismo é o caminho, o mundo está em colapso, e só a Coreia do Norte é segura.

E no final… você canta junto

Pode parecer absurdo, mas depois de alguns dias, até um estrangeiro começa a cantarolar as músicas, repetir os slogans.

É como se a TV criasse uma bolha onde a lógica do regime começa a fazer sentido — mesmo que seja só por alguns minutos.

É isso que você vê se assistir à TV norte-coreana por um dia. Agora imagine viver uma vida inteira com esse conteúdo.

A televisão na Coreia do Norte não é apenas um canal. É o próprio Estado falando com seus cidadãos. E ele fala alto. Todos os dias.

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor. Para sugestões de pauta ou qualquer dúvida, entre em contato pelo e-mail [email protected].

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