Apesar de trabalhar mais horas que muitos países ricos, o Brasil enfrenta um abismo de produtividade. Infraestrutura precária, má gestão e deficiências educacionais ajudam a explicar por que o rendimento brasileiro ainda está tão distante dos líderes globais.
Um trabalhador brasileiro leva, em média, uma hora para produzir o que um norte-americano realiza em apenas 15 minutos.
Essa diferença brutal de produtividade foi destacada em um levantamento recente do The Conference Board, divulgado em 2024, que reforça um problema estrutural da economia brasileira.
Segundo o estudo, a produtividade do Brasil equivale a apenas 23,5% da dos Estados Unidos.
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Isso significa que, para cada dólar gerado por um trabalhador americano, um brasileiro contribui com cerca de 23 centavos.
Essa métrica é obtida ao se comparar o Produto Interno Bruto (PIB) ajustado pela paridade de poder de compra com as horas efetivamente trabalhadas, uma fórmula padrão utilizada por instituições internacionais para medir a eficiência do trabalho em diversos países.
A constatação é alarmante, pois revela não só um atraso crônico da economia nacional, mas também as dificuldades enfrentadas por empresas e profissionais para acompanhar o ritmo da inovação global.
Alta carga de trabalho, baixo rendimento
Embora o brasileiro trabalhe, em média, 39,5 horas semanais — mais do que em países como Alemanha e Itália —, a entrega de resultados continua aquém do esperado.
Esse dado, extraído de relatórios da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), evidencia que o problema não está no esforço, mas sim na eficiência.
O baixo desempenho atinge todos os setores da economia brasileira, incluindo indústria, serviços e até o agronegócio — tradicionalmente considerado uma fortaleza nacional.
A revista Veja já alertava sobre isso em 2019, mostrando que, mesmo com avanços tecnológicos no campo, o desempenho geral do setor ainda sofre com gargalos estruturais.
Infraestrutura precária e burocracia excessiva
A produtividade não depende apenas do esforço humano, mas também do ambiente em que esse esforço é aplicado.
E, nesse ponto, o Brasil enfrenta sérias limitações.
Estradas esburacadas, portos ineficientes, excesso de burocracia e uma carga tributária elevada são entraves conhecidos que comprometem o desempenho das empresas brasileiras.
No entanto, um dos fatores mais relevantes é a qualidade da educação, que impacta diretamente a capacidade de absorção e aplicação de novas tecnologias.
Sem uma base educacional sólida, torna-se difícil transformar mais horas trabalhadas em mais valor agregado.
Anos de estudo não se convertem em produtividade
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o brasileiro médio possui 8,1 anos de estudo formal, enquanto nos Estados Unidos esse número supera os 12 anos.
Entre 2000 e 2021, a média de escolaridade no Brasil aumentou de 7,4 para 9,8 anos.
Além disso, a porcentagem de adultos com ensino superior ou de 14,1% em 2012 para 23% em 2023, conforme dados da PNAD Contínua.
Ainda assim, a produtividade não acompanhou o avanço na escolarização.
Enquanto nos EUA a formação técnica e universitária prepara o profissional para operar tecnologias de ponta, no Brasil, a educação básica precária impede até mesmo o uso eficiente de sistemas digitais simples.
Paulo Sardinha, presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), ressalta que a produtividade é apenas o reflexo final de condições estruturais, como educação, saúde e ambiente de negócios.
Ele alerta: “Se o profissional estiver em condições inadequadas de saúde ou sem o à educação de qualidade, ele não performará no seu melhor”.
Lideranças despreparadas freiam o progresso
Outro fator que agrava a situação é a falta de qualificação em cargos de gestão.
De acordo com o World Management Survey, divulgado em 2023, 18% das empresas brasileiras têm lideranças mal preparadas — contra apenas 2% nos Estados Unidos.
Isso gera desperdício de talentos e má alocação de funções, reduzindo ainda mais a capacidade produtiva.
Milena Seabra, diretora da Faculdade Belavista, explica que os gestores devem unir habilidades técnicas a soft skills, como resiliência, comunicação clara e pensamento estratégico.
Um levantamento da Page Personnel reforça essa visão, ao indicar que 9 em cada 10 líderes são contratados por competências técnicas, mas acabam sendo demitidos por falhas comportamentais.
Michele Bonamo, gerente de Recursos Humanos, destaca que esse tipo de habilidade emocional é mais difícil de treinar, o que reforça a importância de uma formação mais completa desde o início da carreira.
Equilíbrio entre técnica, emoção e tecnologia
Sardinha afirma que, quanto mais alto o cargo de liderança, maior é a necessidade de equilibrar conhecimentos técnicos com inteligência emocional.
Milena Seabra acrescenta que não basta apenas ensinar um profissional a usar inteligência artificial ou outras ferramentas digitais: é necessário que ele saiba escolher as soluções certas e fazer bom uso delas.
Segundo ela, a formação ideal de um líder do século XXI envolve tanto domínio tecnológico quanto conhecimento humanístico, com bases em filosofia, antropologia e ética, para uma tomada de decisão mais sensível e eficaz.
Tecnologia pode aumentar a produtividade em até 30%
A adoção de tecnologias avançadas é vista como uma das principais saídas para o aumento da produtividade.
Um estudo da consultoria McKinsey indica que o uso inteligente de inteligência artificial pode elevar a produtividade industrial em até 30% até 2030.
Já dados do Banco Mundial apontam que países tecnologicamente avançados têm produtividade até quatro vezes maior que a do Brasil.
Contudo, sem preparo adequado, tanto dos trabalhadores quanto das lideranças, essas tecnologias permanecem subutilizadas.
Como observa Sardinha: “Uma vez que o profissional aprende a usar a tecnologia, ela o ajuda a produzir mais e melhor”.
Soluções am por reformas e investimentos estruturais
Superar esse abismo entre Brasil e EUA requer ações coordenadas e profundas.
Entre as medidas essenciais estão a simplificação da burocracia, modernização da infraestrutura logística e investimentos robustos em educação técnica e emocional.
Somente com profissionais bem formados e lideranças competentes, o país poderá transformar esforço em resultados e sair da estagnação.
A meta não é apenas trabalhar mais, mas sim trabalhar melhor.
A distância entre 23 centavos e um dólar não se fecha com horas extras, e sim com estratégia, capacitação e inovação.
E você, acredita que a tecnologia e uma educação mais completa podem realmente mudar esse cenário de baixa produtividade no Brasil? Comente abaixo!