Em editorial em tom de alerta, o jornal britânico defende que governos e sociedades precisam priorizar a adaptação contra a elevação dos oceanos, diante de um cenário de riscos inevitáveis
O jornal britânico The Guardian publicou neste domingo (25) um editorial dando um alerta claro e direto: “o mundo já não tem mais tempo para discutir se deve ou não se adaptar às mudanças climáticas, a adaptação agora é uma questão de urgência absoluta”. O texto critica a lentidão dos governos e o desequilíbrio nas respostas globais, afirmando que, diante do avanço inevitável dos oceanos, proteger populações vulneráveis e repensar a ocupação das áreas costeiras é tão importante quanto reduzir as emissões de carbono.
“Adaptar-se nunca foi tão urgente”: o centro da opinião do The Guardian
O editorial abre com uma reflexão histórica, relembrando como a Holanda, desde o século 17, aprendeu a conviver com a ameaça constante das águas, investindo em engenharia e adaptação. Segundo o jornal, esse exemplo deveria ser uma lição global sobre a capacidade humana de se proteger, mas, principalmente, sobre os riscos de não agir a tempo.
O texto ressalta que, diferente da Holanda, boa parte do mundo não tem tradição nem recursos suficientes para enfrentar o avanço do mar. E é exatamente esse desequilíbrio que torna a adaptação uma urgência global. Países como Bangladesh, ilhas do Pacífico e regiões costeiras da África estão na linha de frente dos impactos, mas com poucos meios para reagir.
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O Guardian não minimiza a gravidade da crise. Ao contrário, deixa claro que mesmo se o mundo conseguir cumprir a meta do Acordo de Paris e limitar o aquecimento a 1,5°C, algo cada vez mais improvável, o aumento do nível dos oceanos virá. A diferença, agora, está em escolher entre uma adaptação planejada ou um colapso desordenado.
O jornal alerta que visões catastróficas, como cidades costeiras submersas e geleiras derretendo, não devem gerar paralisia, mas sim ação. E reforça que adiar planos de adaptação é escolher, na prática, deixar milhões de pessoas à própria sorte.
Além disso, o texto faz uma crítica direta a posturas como a do presidente Donald Trump, que retirou os Estados Unidos do fundo da ONU voltado a ajudar países pobres a enfrentar desastres climáticos. Segundo o Guardian, essa é uma “escolha moralmente indefensável” e que compromete a segurança global, inclusive das próprias nações ricas.
Por fim, o editorial resume sua visão em uma frase direta: “Preparar-se para o que vem não é caridade, é uma questão de sobrevivência compartilhada”.
O desequilíbrio global na capacidade de enfrentar o avanço dos oceanos
O Guardian reforça que os riscos da elevação dos oceanos não são distribuídos de forma igualitária. Na prática, quem menos contribuiu para o problema será quem mais sofrerá as consequências.
Enquanto países desenvolvidos como a Holanda, Inglaterra, Alemanha e Japão têm tecnologia e recursos para construir defesas costeiras, erguer diques e até promover migrações planejadas, milhões de pessoas em países em desenvolvimento vivem em situação de alta vulnerabilidade.
O jornal cita como exemplo as planícies costeiras de Bangladesh, onde milhões de pessoas vivem a menos de um metro do nível atual do mar, sem qualquer proteção física contra o avanço das águas. A situação se repete em ilhas do Pacífico, regiões do sudeste asiático e partes da África Ocidental.
De acordo com dados da NOAA, desde 1880 o nível médio global do mar subiu entre 21 e 24 centímetros, e essa elevação já provoca inundações regulares, destruição de ecossistemas e contaminação de fontes de água doce por salinização em várias partes do mundo.
O editorial deixa claro que, sem uma mobilização global e sem rees efetivos de recursos dos países ricos para os mais pobres, o mundo caminha para um cenário de deslocamentos em massa, crise humanitária e instabilidade geopolítica.
Preparação ou colapso: os dois caminhos que restam à humanidade
Para o Guardian, não existe mais a ilusão de que o problema pode ser evitado apenas com redução de emissões. Embora essa redução seja fundamental para limitar os piores cenários, a elevação dos mares ao longo deste século é um fato científico irreversível.
O jornal defende que as nações com maiores responsabilidades históricas pelas emissões, como Estados Unidos, União Europeia e China, têm também a maior responsabilidade na liderança desse processo. Isso inclui financiamento massivo para infraestrutura de proteção costeira, realocação de comunidades, desenvolvimento de novas tecnologias de contenção e apoio internacional ir.
Além disso, alerta que quanto mais lenta for a ação, maiores serão os custos. Estudos recentes mostram que, nos EUA, o nível do mar subirá nos próximos 30 anos tanto quanto subiu nos últimos 100 anos, colocando dezenas de cidades sob risco constante de inundações.
O texto conclui que ignorar o problema não o torna menor. Pelo contrário, o preço da inação será pago com vidas, deslocamentos forçados, colapso econômico em regiões inteiras e aumento das tensões sociais e políticas em escala global.