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Caso Sete Brasil: um dos episódios mais marcantes — e controversos — da história recente da engenharia, construção naval e setor de petróleo no Brasil

Escrito por Débora Araújo
Publicado em 15/05/2025 às 11:30
Caso Sete Brasil - um dos episódios mais marcantes — e controversos — da história recente da engenharia, construção naval e setor de petróleo no Brasil
Imagem gerada por inteligência artificial

Criada para impulsionar o pré-sal, a Sete Brasil mobilizou bilhões, parou estaleiros e mergulhou a engenharia nacional em um dos maiores colapsos da história da construção naval no Brasil.

A Sete Brasil foi criada em 2010 com uma proposta ambiciosa: construir e operar 28 sondas de perfuração para a Petrobras, abastecendo o pré-sal com tecnologia nacional e incentivando a indústria de construção naval e de engenharia pesada no país. No papel, era um marco para o setor de petróleo e uma vitrine do conteúdo local. Mas, em menos de uma década, o projeto virou símbolo de desperdício, paralisações e escândalos de corrupção.

O caso é considerado um dos episódios mais marcantes — e controversos — da história recente da engenharia brasileira. Com investimentos estimados em mais de R$ 25 bilhões, a iniciativa mobilizou estaleiros, bancos públicos, empresas de engenharia e contratos de longo prazo que, com o tempo, revelaram falhas estruturais, entraves financeiros e práticas ilícitas.

Sete Brasil: uma empresa criada para viabilizar o pré-sal

A Sete Brasil surgiu como uma solução intermediária entre a Petrobras e os fornecedores de sondas, num momento em que o país apostava fortemente na exploração do pré-sal. A ideia era que a nova empresa contratasse os estaleiros brasileiros para construir as plataformas, financiadas por bancos como o BNDES, e alugasse as sondas à Petrobras.

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A proposta pretendia alavancar o parque industrial nacional e recuperar a capacidade dos estaleiros brasileiros, criando uma cadeia de engenharia e manufatura voltada para o mar profundo. Grandes grupos da engenharia, como Odebrecht, UTC e Queiroz Galvão, participaram da iniciativa, assumindo o controle de vários estaleiros envolvidos.

O colapso do financiamento e a paralisação dos estaleiros

A Sete Brasil chegou a contratos para 28 sondas, com previsão de entrega até 2020. No entanto, a crise financeira da empresa começou a se tornar pública em 2014, quando os custos dos projetos extrapolaram os valores previstos e os financiamentos não se concretizaram no ritmo necessário. A queda do preço do petróleo e os escândalos de corrupção na Petrobras também afetaram diretamente a viabilidade do negócio.

Em meio a denúncias da Lava Jato, que atingiram executivos da Petrobras e de construtoras envolvidas nos estaleiros, os rees financeiros foram suspensos. A engenharia dos projetos já em curso foi interrompida, e dezenas de obras foram paralisadas com navios parcialmente construídos em estaleiros de estados como Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco.

Engenharia e construção naval atingidas em cheio pelo escândalo da Sete Brasil

A paralisação da Sete Brasil gerou efeitos em cadeia no setor de engenharia e na construção naval brasileira. Estaleiros como o Enseada (BA), Jurong (ES), EAS (PE) e Brasfels (RJ) viram projetos gigantescos serem interrompidos sem previsão de retomada. As estruturas de sondas inacabadas enferrujaram por anos, com prejuízos acumulados para fornecedores e trabalhadores.

Milhares de engenheiros, soldadores, técnicos e operários foram demitidos. Projetos de infraestrutura, linhas de produção e sistemas de integração industrial foram desmontados ou desativados. O sonho de criar uma indústria naval de alta complexidade no Brasil, com domínio tecnológico e engenharia nacionalizada, perdeu fôlego.

A quebra da Sete Brasil também enfraqueceu a formação de capital técnico. Universidades, centros de pesquisa e empresas de engenharia perderam contratos, reduzindo a continuidade de projetos e o desenvolvimento de novas tecnologias para águas profundas.

Envolvimento com corrupção e Lava Jato

A Operação Lava Jato revelou que a Sete Brasil foi utilizada como canal para o pagamento de propinas, com contratos superfaturados e favorecimento a determinados fornecedores. A estrutura da empresa foi marcada por ingerência política e ausência de controle interno eficaz. Entre os delatores estavam ex-executivos da Petrobras e empreiteiras envolvidas na gestão dos estaleiros.

As investigações apontaram que, dos contratos firmados pela empresa, pelo menos 15 apresentaram irregularidades em série, com prejuízo estimado em bilhões de reais. A Sete Brasil pediu recuperação judicial em 2016, e seu processo de liquidação se estendeu por anos.

Sondas inacabadas e o destino dos estaleiros

Das 28 sondas previstas inicialmente, apenas quatro foram efetivamente concluídas, após serem absorvidas pela Petrobras e renegociadas com estaleiros que conseguiram retomar a produção em condições mínimas. As demais foram canceladas ou deixadas como estruturas sucateadas.

Em 2020, parte do acervo da Sete Brasil foi leiloado como sucata ou vendido com valores bem abaixo do investimento inicial. Algumas das embarcações inacabadas foram desmontadas ou perderam funcionalidade devido à deterioração.

Os estaleiros brasileiros, por sua vez, aram por um período de estagnação que durou quase uma década. Muitos ainda operam com capacidade reduzida, enquanto tentam captar novos contratos para a indústria offshore ou para a construção de embarcações menores.

Reflexos para o setor de petróleo

O colapso da Sete Brasil comprometeu a política de conteúdo local do setor de petróleo, levando a Petrobras a buscar fornecedores estrangeiros para novas sondas. O episódio também reduziu a confiança de investidores e técnicos na viabilidade de grandes projetos conduzidos por consórcios nacionais.

A engenharia nacional, que chegou a liderar megaprojetos na década de 2000, ficou marcada por atrasos, investigações e falta de continuidade. O modelo de financiamento, baseado em aportes públicos e contratos de longo prazo, foi revisto, e as exigências para novas concessões tornaram-se mais rígidas.

Caso serve de alerta para a indústria nacional

O caso da Sete Brasil segue como exemplo de como erros de gestão, interferência política e falta de controle técnico podem comprometer grandes projetos industriais. Para o setor de engenharia e construção naval, a lição permanece: planejamento, governança e transparência são elementos indispensáveis para o sucesso de empreendimentos de alta complexidade.

Enquanto parte da indústria tenta se reerguer com foco em inovação e readequação de capacidade, a memória da Sete Brasil continua presente como um alerta para o futuro da infraestrutura naval brasileira.

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Débora Araújo

Débora Araújo é redatora no Click Petróleo e Gás, com mais de dois anos de experiência em produção de conteúdo e mais de mil matérias publicadas sobre tecnologia, mercado de trabalho, geopolítica, indústria, construção, curiosidades e outros temas. Seu foco é produzir conteúdos íveis, bem apurados e de interesse coletivo. Para sugestões de pauta, correções ou contato direto: [email protected]

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