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Serra Pelada: a história da maior corrida do ouro a céu aberto do Brasil

Escrito por Bruno Teles
Publicado em 01/05/2025 às 11:16
A sinistra história de Serra Pelada: riqueza e miséria na corrida pelo ouro. Entenda a dura realidade do garimpo, seu fim e o ouro que ainda existe.
A sinistra história de Serra Pelada: riqueza e miséria na corrida pelo ouro. Entenda a dura realidade do garimpo, seu fim e o ouro que ainda existe.

Do achado casual de ouro por uma criança à febre que atraiu milhares, a história de Serra Pelada é marcada pela ganância, violência e um profundo impacto ambiental e social.

Serra Pelada foi palco da maior descoberta de ouro a céu aberto já vista. O local, no estado do Pará, prometia toneladas do metal precioso. Tudo começou em 1979, quando uma criança encontrou pedras douradas em um riacho. A notícia se espalhou rapidamente.

Em um Brasil de crise econômica e ditadura militar, a promessa de riqueza fácil atraiu uma multidão. Milhares de homens correram para Serra Pelada, iniciando uma saga de sorte, desespero, violência e condições de trabalho brutais.

A descoberta acidental e o início da corrida pela riqueza

A história de Serra Pelada começou por acaso em 1979. A filha de Genésio, funcionário de uma fazenda na região, encontrou pedras douradas enquanto brincava em um riacho. Sem saber o que era, entregou ao pai. As pedras foram levadas para Marabá, onde um vaqueiro identificou o achado: era ouro. A notícia de que havia ouro fácil, na superfície, correu o país. O nome Serra Pelada descrevia bem o local: uma elevação de 150 metros de altitude, que mais tarde se tornaria uma cratera.

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O contexto brasileiro dos anos 80, com inflação alta, desemprego e regime militar, fez com que a promessa de enriquecimento rápido fosse irresistível. Em pouco tempo, cerca de 90 mil homens, movidos pela ganância e desespero, chegaram ao local. Serra Pelada rapidamente se tornou uma das maiores minas a céu aberto do mundo.

Bamburrados e miséria: a vida no formigueiro humano de Serra Pelada

A sinistra história de Serra Pelada: riqueza e miséria na corrida pelo ouro. Entenda a dura realidade do garimpo, seu fim e o ouro que ainda existe.

Para trabalhar, os garimpeiros precisavam tirar uma carteirinha, apresentando documentos e fotos. As filas eram enormes. Histórias de “bamburrados” – os sortudos que encontravam grandes quantidades de ouro – alimentavam o sonho de todos. Havia relatos de baldes cheios de ouro e pepitas de até 100 kg. Zé Maria, dono de um barranco rico, chegou a vender 245 kg de ouro em um único dia. Muitos que bamburravam gastavam suas fortunas instantaneamente. Fretavam aviões particulares, compravam um carro para cada dia da semana, substituíam dentes por ouro e distribuíam pepitas. No entanto, a falta de educação financeira fez com que a maioria voltasse para casa mais pobre do que chegou.

A realidade da maioria era dura. A mineração era precária, com poucas ferramentas. Os trabalhadores enfrentavam condições desumanas: trabalho exaustivo, falta de água potável, comida escassa e abrigos inadequados. A exposição a doenças e acidentes era constante. Uma cidade improvisada surgiu, com cerca de 40 mil homens vivendo em barracos de madeira espalhados pela serra. Era um local sujo, sem vegetação, e inicialmente sem a presença de mulheres, crianças ou idosos na área de extração.

A chegada do governo: intervenção e a lei do Major Curió

A partir de 1980, o governo brasileiro interveio em Serra Pelada. O objetivo era tentar controlar o caos, a violência e, claro, garantir sua parte no ouro extraído. Toda a venda de ouro ou a ser obrigatoriamente feita em agências da Caixa Econômica Federal, que pagava um preço considerado justo. O Major Curió foi designado para organizar a situação.

Uma das primeiras medidas foi desapropriar a fazenda de Genésio (os termos do acordo com o dono original não são claros). Curió anunciou à massa de garimpeiros que ninguém mais pagaria percentuais sobre o ouro encontrado. Ele também proibiu permanentemente a presença de mulheres na área do garimpo, uma medida que, na época, foi recebida com aplausos por parte dos homens ali presentes.

Violência, doenças e as escadas “Adeus Mamãe”

A vida em Serra Pelada e arredores era extremamente perigosa. Comunidades se formaram nas proximidades, como a atual cidade de Curionópolis, conhecida na época como “Vila dos 30”. Localizada a 30 km do garimpo, era o centro de bares, bordéis e também onde muitas desavenças eram resolvidas violentamente. O local ganhou o apelido “de dia 30, à noite 38”, devido à alta frequência de tiroteios e mortes. Disputas por ego e dinheiro eram comuns, especialmente quando garimpeiros ostentavam sua riqueza recém-adquirida nos bordéis.

A morte era uma constante. Perdia-se a vida por malária, febre amarela, tiros, facadas e até picaretadas. No entanto, uma das maiores causas de morte eram as quedas das precárias escadas usadas para subir e descer os barrancos da enorme cava. Essas escadas ficaram conhecidas pelo apelido sinistro de “Adeus Mamãe”. No início, as quedas geravam comoção, mas com o tempo, as mortes se tornaram banais, e a corrida pelo ouro continuava sem interrupções.

O fim do garimpo, o legado ambiental e o ouro submerso

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A exploração do ouro em Serra Pelada durou pouco mais de uma década, terminando oficialmente em 1992. Estima-se que foram extraídas cerca de 50 toneladas (50 mil quilos) de ouro nesse período. Contudo, esse número é provavelmente subestimado, pois o contrabando era comum. Mais de 150 mil pessoas aram pelo garimpo, e o número de vidas perdidas é incalculável, pois muitos trabalhadores não possuíam documentos.

O fim do garimpo foi causado pela própria exploração: ao cavar profundamente, atingiram o lençol freático, inundando toda a cratera. O que era uma serra de 150 metros de altura se tornou um lago em um buraco com mais de 200 metros de profundidade. A exploração deixou um legado de destruição ambiental, considerada uma das maiores intervenções humanas na natureza já registradas.

Hoje, a área do antigo garimpo pertence à empresa Vale. Apesar disso, ainda existe muito interesse na região por parte de garimpeiros, companhias e governo. Estimativas sugerem que ainda podem existir cerca de 1 milhão de toneladas de ouro submersas sob a água da cratera, aguardando extração – talvez a maior reserva de ouro do mundo ainda intocada. A história de Serra Pelada permanece como um testemunho da febre do ouro e suas consequências.

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Jose widerlan oliveira da silva
Jose widerlan oliveira da silva
07/05/2025 13:19

Entra gonverno e sai gonverno e nada de resolver a vida das pessoas se fosse la fora ja tinha resolvido lamentavel

Alberto Batista de Lima
Alberto Batista de Lima
05/05/2025 19:38

O que vem fácil e com ganância, vai mais fácil ainda.

Magno oliveira
Magno oliveira
05/05/2025 18:31

Estive lá também quase morri duas vezes lá uma laje que desabou e eu cai lá embaixo e a outra vez foi no setor da milharina porque a areia lá era amarela com milho 1quando a ribanceira caiu eu tinha acabado de chegar no topo aí tinha uma pessoa pegando no meu pé para se segurar aí dei um coice para trás quando olhei a ribanceira tinha caindo e muita gente coberta de areia aí fuo ajudar a tirar o pessoal quando fui pegar estava faltando o braço au eu outro puxamos pelo outro braço o foi um clamou muito grande muita gente morta e decapitada pelo braços e pernas graças a Deus que eu estou lhe falando fui embora no outro dia para fortaleza onde moro até hoje .

Vanusa rocha
Vanusa rocha
Em resposta a  Magno oliveira
06/05/2025 06:06

Marido da minha irmã foi e nunca mas voltou deixou ela grávida o bebê já estar com 40 anos

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Bruno Teles

Falo sobre tecnologia, inovação, petróleo e gás. Atualizo diariamente sobre oportunidades no mercado brasileiro. Com mais de 7.000 artigos publicados nos sites G, Naval Porto Estaleiro, Mineração Brasil e Obras Construção Civil. Sugestão de pauta? Manda no [email protected]

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