1. Início
  2. / Ciência e Tecnologia
  3. / A cidade escondida de Saruq Al-Hadid: a civilização de 5000 anos revelada sob o “Atlântis das Areias”
Tempo de leitura 4 min de leitura Comentários 0 comentários

A cidade escondida de Saruq Al-Hadid: a civilização de 5000 anos revelada sob o “Atlântis das Areias”

Escrito por Jefferson S
Publicado em 27/05/2025 às 09:23
A cidade escondida de Saruq Al-Hadid a civilização de 5000 anos revelada sob o “Atlântis das Areias

Oásis de metal e mito no coração do maior deserto de dunas contínuas do planeta, Saruq Al-Hadid permaneceu invisível até 2002, quando o xeque Mohammed bin Rashid Al Maktoum avistou manchas escuras e dunas fora de padrão durante um voo sobre o Rub’ al-Khali.

Sob cerca de três metros de areia, arqueólogos descobriram um campo de escória que preservava vestígios de uma comunidade florescente há5 000 anos: fornos de fusão de cobre e ferro, joias elaboradas em ouro puro, selos vindos da Mesopotâmia e do Egito, além de depósitos de ossos que revelam intensa caça, criação de animais e até a salga de peixes trazidos da costa.

As peças, mais de 12 000 artefatos singulares, entre armas, ferramentas e misteriosas figurinhas de cobra, transformaram um “mar vazio” na chave para compreender como populações da Idade do Bronze e do Ferro domesticaram um ambiente hoje hiperárido, estabeleceram rotas comerciais que iam do Vale do Indo ao Levante e talvez até inspiraram a lenda da Atlântida das Areias, a cidade de Ubar tragada por punição divina.

Dia
Xaomi 14T Pro tá um absurdo de potente e barato! Corre na Shopee e garanta o seu agora!
Ícone de Episódios Comprar

Duas décadas depois, tecnologias de ponta estão expandindo esse mapa do ado sem mover um grão de areia. Pesquisadores da Khalifa University utilizam Radar de Abertura Sintética (SAR) e algoritmos de aprendizado de máquina para atravessar eletronicamente as dunas e identificar muros soterrados, estradas e aterros de metalurgia a até dez metros de profundidade.

A precisão desses “raios-X” geológicos já convenceu as autoridades de Dubai a liberar novas escavações, enquanto satélites de sensoriamento remoto rastreiam irregularidades que podem esconder templos, tumbas ou núcleos urbanos inteiros.

Cada pulso de radar e cada camada analisada reforçam um retrato: entre 2600 a.C. e 600 a.C., no ponto onde hoje o deserto parece inóspito, existiu um complexo metalúrgico, ritualístico e mercantil que ecoa na Dubai globalizada do século XXI, prova de que o Empty Quarter jamais esteve realmente vazio.

O voo que revelou Saruq Al-Hadid ao mundo

Durante séculos o Rub’ al-Khali, maior deserto de dunas contínuas do planeta, foi visto como um “mar vazio”, até que sinais inéditos começaram a despontar sob a areia.

Em 2002, sobrevoando a região, o xeque Mohammed bin Rashid Al Maktoum notou ondulações incomuns e uma mancha escura; ao investigar, arqueólogos identificaram um campo de escória metálica que preservava um sítio ancestral.

A área, hoje dentro da Reserva de Conservação do Deserto de Al Marmoom, revelou cerâmicas, contas e peças metálicas logo nos primeiros testes, indicando ocupação humana muito antiga.

A descoberta reacendeu a lenda de Ubar, a “Atlântida das Areias” que, segundo relatos transmitidos desde T. E. Lawrence, teria sido tragada pelo deserto por castigo divino.

Escavações mostram que vestígios da comunidade repousavam a cerca de três metros da superfície, escondidos por milênios de tempestades de areia.

Estudos climáticos citados pelos pesquisadores lembram que há cerca de 6 000 anos o deserto conheceu fases de umidade e lagos rasos, cenário propício a assentamentos humanos e megafauna.

Radar, IA e satélites: tecnologia que decifra o “Atlântis das Areias”

Para mapear o sítio sem escavar cada duna, cientistas da Khalifa University recorreram ao Radar de Abertura Sintética (SAR), capaz de “enxergar” até dez metros sob a areia.

O SAR lança pulsos eletromagnéticos e mede o eco refletido; ao combinar esses dados com imagens ópticas de alta resolução, formou-se um modelo subterrâneo preciso do terreno.

Algoritmos de aprendizado de máquina processaram padrões captados pelo radar, distinguindo formações naturais de linhas retas, muros e valas criadas por mãos humanas.

A chefe do ENGEOS Lab, Dra. Diana Francis, explicou que o método supera as barreiras logísticas de um ambiente hiper-árido que dificulta levantamentos em solo.

Em setembro de 2024, a própria equipe confirmou que satélites de sensoriamento remoto continuarão a guiar futuras escavações, mirando estruturas, tumbas e novos artefatos.

A precisão dos mapas já levou a Dubai Culture a autorizar investigações em setores antes ignorados, demonstrando como SAR e IA se tornaram ferramentas-chave para proteger o patrimônio.

Metalurgia, culto da cobra e rotas comerciais nas areias

Saruq Al-Hadid teve ocupação ininterrupta do período Umm Al Nar (2600–2000 a.C.) à Idade do Ferro, destacando-se entre 1100 e 600 a.C. como polo de fundição de bronze, cobre e ferro.

Mais de 12 000 objetos únicos, de pontas de flecha a um anel de ouro que inspirou o logotipo da Expo 2020, reforçam a ideia de um centro artesanal vibrante e simbolicamente rico.

Figurinhas e jarros com cobras sugerem práticas ritualísticas; o tema é tão recorrente que muitos estudiosos associam o local a um culto serpentíno regional.

Pilhas de escória, lingotes e armas indicam produção em larga escala; análises revelam ligas de cobre puro, “latão” rico em zinco e objetos com estanho importado, prova de comércio intercontinental.

O sítio rendeu 223 889 fragmentos ósseos de camelos, órix, peixes marítimos e aves, mostrando caça, pecuária, salga de peixe litoral e um ecossistema outrora mais verde.

Cinquenta e três selos, a maior coleção da Idade do Ferro na península, conectam Saruq Al-Hadid a Mesopotâmia, Vale do Indo, Egito e Levante, revelando uma rede econômica que atravessava desertos e mares.

Inscreva-se
Entre com
Notificar de
guest
0 Comentários
Mais antigos
Mais recente Mais votado
s
Visualizar todos comentários
Jefferson S

Profissional com experiência militar no Exército, Inteligência Setorial e Gestão do Conhecimento no Sebrae-RJ e no Mercado Financeiro por meio de um escritório da XP Investimentos. Trago um olhar único sobre a indústria energética, conectando inovação, defesa e geopolítica. Transformo cenários complexos em conteúdo relevante sobre o futuro do setor de petróleo, gás e energia. Envie uma sugestão de pauta para: [email protected]

Compartilhar em aplicativos
0
Adoraríamos sua opnião sobre esse assunto, comente!x