Parceria entre os dois países avança com plano para alimentar base lunar com energia nuclear, enquanto projeto dos EUA sofre atrasos
China e Rússia firmaram um acordo para construir uma usina nuclear na Lua até 2035.
O objetivo é fornecer energia para a Estação Internacional de Pesquisa Lunar (ILRS), projeto conjunto que planeja estabelecer uma base robótica e, futuramente, humana perto do polo sul do satélite.
O documento foi assinado entre a agência espacial russa Roscosmos e a istração Espacial Nacional da China (CNSA).
-
Nova tecnologia que você vai querer ter na sua casa imprime solar em mochilas e celulares
-
Adesivo revolucionário promete energia solar em qualquer superfície e transforma parede, carro, janela e mais, em solar
-
Tecnologia que promete revolucionar o setor de energia renovável: Novo solar transparente transforma janelas e tela de celular em geradores de energia
-
Conheça o motor de 3 cilindros mais insano da história: 400 cv e pesa só 40 kg
O anúncio marca mais um o na cooperação entre os dois países no espaço.
Segundo a Roscosmos, a estação vai permitir pesquisas espaciais fundamentais e testes de tecnologias para operações não tripuladas de longa duração.
A agência informou, em 8 de maio, que há a possibilidade de presença humana no local no futuro.
Reator sem presença humana
Ainda não há muitos detalhes divulgados. Porém, autoridades russas afirmam que a construção do reator será totalmente autônoma, sem intervenção humana na superfície da Lua.
Yury Borisov, diretor-geral da Roscosmos, declarou que os avanços tecnológicos para isso “já estão quase prontos”, em entrevista à agência estatal russa TASS.
Corrida lunar entre potências
O projeto ILRS surge como rival direto do programa Artemis, liderado pelos Estados Unidos e com participação de 55 países.
O Artemis tem como meta instalar uma estação orbital, chamada Gateway, e levar astronautas à Lua, com uma primeira missão tripulada prevista para dezembro de 2025 — mas com grandes chances de adiamento.
Enquanto isso, a China e a Rússia seguem ampliando sua rede de parceiros. Desde o lançamento formal da ILRS em 2021, já são 17 países envolvidos, entre eles Egito, Venezuela e África do Sul.
Esse número pode crescer com a nova iniciativa chinesa, chamada “Projeto 555”. O plano visa reunir 50 países, 500 instituições científicas e 5.000 pesquisadores.
Polo sul lunar é o foco
Tanto o ILRS quanto o programa Artemis pretendem se instalar no polo sul da Lua. A região é estratégica por receber mais luz solar e por conter possíveis depósitos de gelo.
Além disso, pode servir como base para missões mais distantes, como rumo a Marte.
A missão chinesa Chang’e-8, prevista para 2028, será uma das primeiras etapas. Ela deve testar construção autônoma com impressão 3D usando solo lunar. Também pode representar o primeiro pouso tripulado da China na Lua.
Entre 2030 e 2035, serão cinco lançamentos com foguetes de grande porte para levar componentes até o satélite. Até 2050, a China planeja uma rede de bases interligadas, com energia gerada por fontes solares, radioisótopos e nucleares.
Energia nuclear como solução
Manter equipamentos funcionando na Lua é um dos grandes desafios. A luz solar nem sempre está disponível, especialmente nas crateras que ficam em sombra constante. Nesses locais, acredita-se que possa haver gelo.
Painéis solares e baterias podem não ser suficientes. Por isso, o uso de energia nuclear é considerado essencial.
Os EUA têm explorado essa opção por meio do projeto Kilopower da NASA. Porém, a Rússia tem experiência histórica com sistemas nucleares espaciais desde a época da Guerra Fria.
Wu Weiren, principal designer do programa lunar chinês, disse à Reuters que a Rússia tem “vantagem natural” nesse setor e está “à frente dos Estados Unidos”.
A China parece disposta a incorporar essa capacidade. Durante uma apresentação em Xangai, Pei Zhaoyu, vice-diretor da CNSA, mencionou a energia nuclear como parte da infraestrutura planejada para o ILRS, ao lado de painéis solares e dutos.
Se for concretizado, será o primeiro reator nuclear instalado fora da Terra. Ele poderá abastecer não apenas instrumentos de pesquisa, mas também sistemas de aquecimento, comunicação e veículos explorando a superfície lunar.
Disputa vai além da ciência
O anúncio do projeto sino-russo veio poucos dias após o governo dos EUA divulgar uma proposta de orçamento para 2026 que prevê o cancelamento da estação Gateway.
Essa decisão afeta diretamente o programa Artemis, que já enfrenta atrasos. A missão Artemis III, antes prevista para 2025, agora só deve ocorrer em 2027 ou mais tarde.
Enquanto isso, a China avança. Em 2024, a missão Chang’e-6 conseguiu retornar com amostras da face oculta da Lua. Nenhum outro país havia feito isso até então. A mídia estatal chinesa classificou a conquista como um feito inédito na história da exploração lunar.
A ILRS começou a ser debatida em 2017. Mas ganhou força depois da invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022, que isolou Moscou de parcerias espaciais com o Ocidente. A China assumiu papel de destaque, oferecendo apoio técnico e político.
Essa aliança espacial preocupa alguns especialistas. Um analista europeu citou que “a Lua está virando um novo palco de disputa geopolítica”. Ao contrário de outras missões espaciais, essa corrida pode não ter só motivações científicas.
A Lua pode conter metais raros, oxigênio no solo e até hélio-3 — um possível combustível para reatores de fusão. O Tratado do Espaço Exterior de 1967 proíbe a soberania sobre corpos celestes. Porém, o debate jurídico sobre a exploração desses recursos ainda está em aberto
A construção da ILRS começa efetivamente após 2028. A meta é ter uma base robótica com energia nuclear funcionando até 2035. Depois disso, o plano inclui expansão com novos módulos, mais países parceiros e missões tripuladas.
A NASA, por sua vez, ainda tenta levar astronautas à Lua antes da China. Mas, com cortes no orçamento e atrasos constantes, os ventos parecem estar mudando de direção.