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Reduzir a escala 6×1 para 4×3 faz sentido em um Brasil com tantos feriados? Um debate entre produtividade, economia e realidade social

Escrito por Paulo Nogueira
Publicado em 01/05/2025 às 12:21
Operários brasileiros de diversos setores e uniformes, cansados e pensativos, diante da bandeira do Brasil, questionando se vale a pena trocar feriados pela redução da escala 6x1 para 4x3.
Operários pensativos sobre a troca de feriados pela redução da escala 6×1 para 4×3 no Brasil

Especialistas avaliam se o país está pronto para trabalhar menos sem comprometer competitividade e empregos

O Brasil ocupa um lugar peculiar no cenário global: é um dos países com mais feriados no ano, somando 12 nacionais, além de dezenas de estaduais e municipais, segundo o governo federal. Ao mesmo tempo, enfrenta inflação elevada, crescimento econômico instável, baixa produtividade e um sistema tributário caótico.

Diante disso, a proposta de reduzir a clássica escala 6×1 — trabalhar seis dias e folgar um — para 4×3 — trabalhar quatro dias e folgar três — anima muitos, mas também gera um necessário debate sobre se o Brasil, de fato, está pronto para esse modelo.

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Para falar sobre o assunto, a Jovem Pan entrevista Aloísio Costa Junior, especialista em direito do trabalho

O nascimento da escala 6×1 no Brasil

A escala 6×1 foi introduzida pela CLT em 1943, no governo Getúlio Vargas. Ela representou, na época, um divisor de águas para os direitos trabalhistas. Até então, longas jornadas de até 14 horas eram comuns.

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O descanso semanal remunerado foi uma vitória importante, garantindo que, a cada seis dias trabalhados, o brasileiro pudesse descansar pelo menos um — geralmente aos domingos.

O Brasil daquela época era um país essencialmente agrícola e industrial. Hoje, o cenário mudou completamente, mas o modelo 6×1 persiste, ainda que questionado.

O peso dos feriados no Brasil

O Ministério da Economia contabiliza 12 feriados nacionais fixos. Quando somamos os estaduais e municipais, algumas regiões chegam a ter até 20 dias de folga ao ano. Em paralelo, cerca de 30% da população ocupada trabalha em setores essenciais, como saúde, segurança e comércio, segundo o IBGE, onde feriados são praticamente invisíveis na prática.

Esse cenário de interrupções frequentes já gera desafios operacionais e, por isso, alguns defendem que migrar para uma escala 4×3 exigiria um planejamento ainda mais robusto.

O Brasil no ranking global de produtividade

Quando olhamos para fora, o contraste fica evidente. Segundo dados da OCDE e do Banco Mundial, os países que vêm experimentando semanas mais curtas são justamente os de alta produtividade:

  • Luxemburgo: US$ 137,6 por hora trabalhada
  • Irlanda: US$ 120,5 por hora trabalhada
  • Noruega: US$ 111,2 por hora trabalhada
  • Estados Unidos: US$ 77,1 por hora trabalhada
  • Alemanha: US$ 72,7 por hora trabalhada

E o Brasil? Segundo a FGV, a produtividade do trabalhador brasileiro ficou em apenas US$ 16,8 por hora em 2023 — quase oito vezes menor que a de Luxemburgo e menos de um quarto da produtividade americana.

Esses números ajudam a explicar por que esses países conseguem reduzir jornadas sem perda econômica — e por que no Brasil a transição seria muito mais delicada.

O peso da inflação, impostos e complexidade tributária

Além da baixa produtividade, o Brasil ainda carrega outros entraves. O país convive com uma inflação que gira em torno de 4,5% ao ano (IBGE, 2024), uma carga tributária que atinge 33% do PIB (Receita Federal) e um sistema fiscal tão complexo que, segundo o Banco Mundial, obriga empresas a gastarem 1.501 horas por ano apenas para cumprir obrigações tributárias — contra 140 horas na média da OCDE.

Ou seja, reduzir a jornada para 4×3, sem uma ampla reforma tributária e istrativa, poderia elevar os custos operacionais, aumentar o preço final ao consumidor e pressionar ainda mais o já combalido mercado de trabalho.

A experiência internacional e os limites brasileiros

Experimentos como o do Reino Unido em 2022-2023, conduzidos pelo Autonomy Institute, mostraram que a semana de quatro dias aumentou a satisfação dos trabalhadores em 35% e reduziu as faltas médicas. Porém, vale lembrar: o Reino Unido tem produtividade de US$ 62,1 por hora, quase quatro vezes a brasileira.

Enquanto isso, no Brasil, a produtividade avança lentamente, com crescimento médio de apenas 1% ao ano na última década, segundo a FGV. Portanto, importar modelos sem considerar o contexto local pode gerar mais problemas do que soluções.

O papel das negociações coletivas no Brasil

Apesar do debate nacional, é importante destacar que negociações coletivas já permitem ajustes no Brasil. Segundo o Ministério do Trabalho, foram registrados mais de 12 mil acordos coletivos em 2023, abordando temas como escalas, compensação de feriados e banco de horas. Ou seja, antes de mudanças legislativas amplas, o caminho das negociações setoriais pode ser o mais realista.

Reflexão final: sonho ou risco?

A proposta de reduzir a escala de trabalho para 4×3 toca em temas sensíveis. Em um Brasil marcado por baixa produtividade, alta informalidade (cerca de 39% da força de trabalho, segundo o IBGE), inflação resistente e um sistema tributário caótico, essa transição pode não apenas ser prematura — mas até perigosa.

O futuro do trabalho no Brasil precisa, sim, ser discutido com coragem. Porém, deve ser guiado por dados, comparações internacionais realistas e, acima de tudo, responsabilidade com a economia e os empregos.

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Paulo Nogueira

Eletrotécnica formado em umas das instituições de ensino técnico do país, o Instituto Federal Fluminense - IFF ( Antigo CEFET), atuei diversos anos na áreas de petróleo e gás offshore, energia e construção. Hoje com mais de 8 mil publicações em revistas e blogs online sobre o setor de energia, o foco é prover informações em tempo real do mercado de empregabilidade do Brasil, macro e micro economia e empreendedorismo. Para dúvidas, sugestões e correções, entre em contato no e-mail informe@clickpetroleoegclickpetroleoegas-br.noticiasdoriogrande.com.br. Vale lembrar que não aceitamos currículos neste contato.

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