A arma mais futurista dos EUA custou meio bilhão de dólares, disparava projéteis a 9.000 km/h e foi cancelada sem dar um único tiro.
Ela disparava sem pólvora, usava energia pura para acelerar projéteis metálicos a 9.000 km/h, prometia substituir mísseis e custou mais de US$ 500 milhões ao contribuinte americano. O railgun da Marinha dos Estados Unidos foi anunciado como a arma do futuro, mas teve um destino bem menos glorioso: foi cancelado discretamente em 2021, após quase duas décadas de desenvolvimento — sem nunca ter sido usado em combate.
A ideia era ambiciosa: desenvolver uma arma eletromagnética capaz de lançar projéteis a velocidades hipersônicas, com baixo custo por disparo, precisão cirúrgica e alcance superior a qualquer canhão convencional. Mas apesar dos testes bem-sucedidos em laboratórios, problemas técnicos, cortes no orçamento e mudanças estratégicas nas prioridades da Marinha decretaram o fim da superarma antes que ela fosse implantada em um navio.
Hoje, o railgun serve como um símbolo das promessas e limitações da tecnologia militar futurista — onde nem sempre o que é possível na teoria, funciona na prática.
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O que é um railgun? A física por trás da arma eletromagnética
Diferente das armas convencionais que usam explosivos para propulsão, o railgun é um canhão eletromagnético. Em vez de pólvora, ele usa correntes elétricas extremamente fortes que am por trilhos condutores (rails), criando um campo magnético que empurra o projétil com força colossal.
Essa aceleração eletromagnética pode fazer com que o projétil atinja velocidades superiores a Mach 7 — o equivalente a mais de 9.000 km/h. Como o disparo é feito apenas com energia elétrica, não há detonação, fumaça ou explosão, tornando o disparo mais silencioso e menos detectável por sensores convencionais.
Além disso, o projétil — geralmente uma peça de metal maciço, sem ogiva explosiva — causa danos devastadores apenas pelo impacto cinético, dispensando o uso de explosivos.
Em teoria, é o santo graal das armas de longo alcance: letal, veloz, econômica e segura de armazenar.
A promessa da Marinha dos EUA: armas mais baratas e mais letais
A Marinha dos Estados Unidos iniciou oficialmente o desenvolvimento do railgun naval no início dos anos 2000, com financiamento direto da Office of Naval Research (ONR). O objetivo era instalar o sistema em destróieres da classe Zumwalt, criando uma plataforma de ataque de longo alcance com projéteis capazes de atingir alvos terrestres e marítimos com precisão, velocidade e custo reduzido.
Entre os principais argumentos a favor do projeto estavam:
- Alcance superior a 200 km, o dobro de um canhão naval convencional;
- Custo por disparo de cerca de US$ 25 mil, contra US$ 1 milhão de um míssil Tomahawk;
- Velocidade hipersônica (Mach 7 ou mais), difícil de interceptar;
- Nenhum explosivo envolvido, aumentando a segurança a bordo.
A arma foi testada com sucesso em plataformas terrestres em 2010 e 2017. Os vídeos dos testes — mostrando o disparo de projéteis a velocidades absurdas, gerando um clarão branco seguido por um estrondo — viralizaram na internet e aumentaram o entusiasmo em torno do projeto.
O custo da inovação: mais de meio bilhão de dólares
A construção de um railgun operacional exigiu desenvolvimento de materiais especiais, sistemas de controle de energia complexos e, principalmente, capacitores de altíssima potência que pudessem carregar e descarregar energia em milésimos de segundo.
Estima-se que o projeto tenha consumido mais de US$ 500 milhões entre 2005 e 2020, sem contar os investimentos paralelos da DARPA (agência de projetos avançados do Pentágono) e da Lockheed Martin.
Além disso, era necessário criar projéteis especiais de tungstênio, capazes de resistir ao calor extremo e às forças envolvidas no disparo — o que aumentava ainda mais os custos operacionais.
A cada ano, os desafios técnicos aumentavam. O canhão sofria desgaste acelerado dos trilhos a cada disparo, exigindo manutenção constante. As estruturas dos navios também precisavam ser adaptadas para ar o recuo e a descarga elétrica de um disparo de vários megajoules.
Por que o railgun da Marinha dos EUA foi cancelado?
Em julho de 2021, após mais de 15 anos de desenvolvimento, a Marinha dos Estados Unidos anunciou o encerramento oficial do programa railgun. O motivo oficial? Redirecionamento de verbas para projetos considerados mais promissores, como armas a laser, mísseis hipersônicos e sistemas de guerra eletrônica.
Mas os bastidores revelam uma realidade mais complexa:
- Problemas técnicos persistentes: o canhão funcionava em testes, mas não era confiável o suficiente para combate real;
- Alto desgaste dos trilhos: reduzia a vida útil e exigia frequente substituição de peças;
- Necessidade de navios altamente modificados: a instalação do sistema era inviável nos modelos atuais;
- Avanço dos mísseis hipersônicos: tornou o railgun menos competitivo como arma estratégica.
A ideia de substituir mísseis por projéteis de metal puro parecia tentadora, mas na prática, os mísseis guiados continuaram superiores em alcance, precisão e adaptabilidade — mesmo com custo mais alto por disparo.
Railgun virou superarma que nunca foi à guerra
O cancelamento do railgun é emblemático porque mostra os limites da inovação militar. Uma tecnologia pode ser viável em laboratório, mas inviável no campo de batalha. A Marinha dos EUA chegou a incluir o sistema em projeções de longo prazo para 2030, mas em nenhum momento ele foi realmente embarcado em um destróier ativo.
O projeto acabou sem nunca ter sido usado em combate real, nem em testes navais de longo prazo. O que restou foram protótipos, vídeos de testes e arquivos técnicos — um rastro de promessas não cumpridas.
E agora? O que substituiu o railgun?
Com o fim do projeto railgun, os EUA voltaram sua atenção para outras formas de armamento futurista:
- Armas a laser (como o HELIOS): instaladas em navios para defesa contra drones e mísseis;
- Mísseis hipersônicos (como o S e LRHW): com velocidades acima de Mach 5, guiados com precisão;
- Sistemas de interferência eletrônica: capazes de neutralizar radares e comunicações inimigas.
Ou seja, o conceito de armas de energia dirigida não foi abandonado — apenas o railgun, por enquanto, ficou pelo caminho.
Railgun: fracasso ou avanço temporário?
Apesar do cancelamento, muitos especialistas defendem que o railgun não foi um fracasso completo. Ele gerou avanços em materiais, sistemas de energia, aerodinâmica de projéteis e controle de calor, que podem ser úteis em futuras gerações de armas.
Além disso, outros países como China e Rússia também exploram tecnologias semelhantes. A Marinha chinesa, por exemplo, foi flagrada testando supostos canhões eletromagnéticos em navios de guerra a partir de 2018 — embora as capacidades reais permaneçam desconhecidas.
O railgun pode ter morrido nos EUA, mas a ideia ainda sobrevive no imaginário militar global.
Curiosidades sobre o railgun da Marinha dos EUA
- O sistema gerava mais de 32 megajoules por disparo — energia suficiente para lançar um projétil de 10 kg a mais de 200 km.
- O cano do railgun precisava ser resfriado entre disparos para evitar deformações.
- A arma era invisível a radares, pois não emitia calor ou chamas como projéteis explosivos.
- Um dos principais testes ocorreu em 2017, quando o projétil atingiu um alvo a mais de 160 km em menos de 2 minutos.
O railgun da Marinha dos EUA representa um dos projetos mais ambiciosos — e frustrantes — da história militar recente. Seu conceito parecia invencível: um canhão que dispara a 9.000 km/h sem usar pólvora ou explosivos. Mas a prática mostrou que nem toda tecnologia de ponta é aplicável ao campo de batalha.
Com US$ 500 milhões investidos, o railgun tornou-se uma superarma que nunca atirou, lembrando ao mundo que guerra real é feita de mais do que apenas ideias futuristas. Hoje, ele é estudado como caso de inovação militar interrompida — e serve como lição sobre os limites entre teoria, engenharia e realidade operacional.
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