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Por que um laboratório na China está criando 6 bilhões de baratas por ano? Cientistas testam aplicações para salvar vidas e reduzir o volume de lixo urbano

Escrito por Valdemar Medeiros
Publicado em 04/06/2025 às 08:25
Por que um laboratório na China está criando 200 mil baratas por dia? Cientistas testam aplicações na medicina, reciclagem e combate a resíduos
Foto: IA + Adobe PS

Um laboratório na China está criando 6 bilhões de baratas por ano. Descubra como esses insetos estão revolucionando a medicina tradicional chinesa, a reciclagem de resíduos e a produção sustentável de energia biológica.

Enquanto o mundo associa as baratas a sujeira, pragas urbanas e repulsa, laboratórios na China enxergam nesses insetos um recurso valioso e multifuncional. No maior centro de cultivo de baratas do planeta, localizado na província de Sichuan, mais de 16.438 mil baratas são criadas diariamente em ambientes controlados, alimentadas com restos de comida e submetidas a pesquisas médicas e ambientais. De acordo com reportagens do South China Morning Post e investigações da BBC, esses insetos vêm sendo utilizados em aplicações que vão desde a medicina tradicional chinesa até soluções sustentáveis para o combate ao desperdício alimentar e a produção em massa de insetos como insumo biológico.

Em Xichang, na província chinesa de Sichuan, opera a maior fazenda de baratas do mundo, segundo o South China Morning Post. A instalação, istrada pela farmacêutica Gooddoctor Pharmaceutical Group, cria anualmente mais de 6 bilhões de baratas em laboratório, utilizando inteligência artificial para manter condições ideais de crescimento. Essas baratas são produzidas em larga escala para abastecer a indústria de medicamentos da medicina tradicional chinesa, e o volume impressionante equivale a quase 16 mil novos insetos por dia — um número que revela o avanço da produção em massa de insetos como alternativa biotecnológica e sustentável na China.

Como funciona a criação de baratas em laboratório?

A estrutura mais conhecida desse tipo de produção está em Chengdu, capital da província de Sichuan, onde uma instalação de mais de 6 mil metros quadrados opera 24 horas por dia. O sistema automatizado de controle ambiental mantém a temperatura e a umidade ideais para a reprodução acelerada das baratas americanas (Periplaneta americana), espécie resistente e de rápido crescimento.

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Segundo o South China Morning Post, o sistema utiliza inteligência artificial para monitorar o ciclo de vida dos insetos, analisar padrões de crescimento e prever o momento ideal de coleta. Os animais são alimentados com resíduos de alimentos orgânicos provenientes de restaurantes, supermercados e refeitórios, o que contribui para reduzir o volume de lixo urbano.

A estimativa é que mais de um seis bilhões de baratas vivam simultaneamente nessas instalações, sendo colhidas em lotes para diversas finalidades científicas e comerciais.

Medicina tradicional chinesa: um uso milenar com novo fôlego

A medicina tradicional chinesa (MTC) é uma das áreas que mais consome baratas criadas em laboratório. Segundo o National Geographic, extratos de baratas são utilizados para formular medicamentos que tratam problemas como úlcera gástrica, queimaduras, inflamações pulmonares e feridas de difícil cicatrização.

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Uma das empresas mais proeminentes nesse setor é a Gooddoctor Pharmaceutical Group, que desenvolveu um tônico à base de baratas chamado “Kangfuxin Liquid”. O medicamento é aprovado pelo governo chinês e distribuído em hospitais públicos, com mais de 40 milhões de pacientes tratados até o momento, conforme dados oficiais do governo local.

Pesquisas recentes indicam que proteínas e peptídeos presentes nos tecidos das baratas possuem propriedades antibacterianas e regenerativas, despertando o interesse de farmacêuticas e institutos de pesquisa internacionais.

Baratas como solução ambiental: reciclagem e combate ao lixo orgânico

Outra aplicação de destaque na produção em massa de insetos envolve o uso de baratas como ferramenta biológica de reciclagem de resíduos alimentares. As baratas podem consumir grandes quantidades de matéria orgânica em pouco tempo, transformando lixo urbano em biomassa com baixo custo e alta eficiência.

O município de Jinan, na província de Shandong, já utiliza baratas em larga escala para tratar até 50 toneladas de lixo orgânico por dia. Após o consumo dos resíduos, os próprios corpos das baratas são reutilizados como ração animal rica em proteína, especialmente na piscicultura e na criação de suínos.

De acordo com a BBC, essa cadeia integrada — resíduos, insetos e alimentação animal — reduz a emissão de gases do efeito estufa, diminui a dependência de rações artificiais e economiza recursos naturais, representando um modelo de infraestrutura energética e alimentar sustentável.

O interesse global pela criação de insetos

Embora a prática ainda esteja fortemente associada à China, outros países vêm demonstrando interesse no modelo. Universidades nos Estados Unidos, França, Holanda e Coreia do Sul estão testando sistemas de cultivo controlado de insetos, incluindo baratas, como fonte alternativa de proteína e insumos farmacêuticos.

O Instituto Max Planck, na Alemanha, divulgou um estudo recente mostrando que os extratos das baratas americanas possuem potenciais aplicações em tratamentos oncológicos, devido à presença de compostos antioxidantes e regenerativos que atuam no combate à degradação celular.

Empresas privadas também estão investindo: startups de biotecnologia, como a sa Ynsect e a holandesa Protix, já estão testando tecnologias semelhantes para substituir carne animal em rações e suplementos nutricionais.

As controvérsias e riscos da produção em massa de baratas

Apesar dos avanços, a criação industrial de baratas também levanta preocupações. O principal receio é o risco de fuga acidental e a possível proliferação urbana descontrolada. Em 2013, uma instalação na província de Jiangsu sofreu um vazamento e mais de 1 milhão de baratas escaparam para áreas urbanas próximas, causando pânico local.

Autoridades chinesas reforçaram regulamentações, exigindo padrões rigorosos de segurança sanitária, contenção física e descarte adequado dos insetos após uso. Ainda assim, críticos alertam para possíveis implicações ecológicas, especialmente se a prática for adotada em larga escala fora de ambientes laboratoriais.

Outro ponto de controvérsia é o bem-estar animal. Embora não haja consenso científico sobre a capacidade de insetos sentirem dor como vertebrados, organizações internacionais pedem que padrões mínimos de ética sejam aplicados, mesmo em sistemas automatizados de abate.

A percepção cultural e os desafios da aceitação internacional

A ideia de utilizar baratas como insumo medicinal, alimentar ou industrial ainda encontra resistência em grande parte do Ocidente. Há uma barreira cultural significativa, especialmente em países com forte aversão a insetos. Porém, a percepção começa a mudar, impulsionada por fatores como crise alimentar, sustentabilidade e busca por novas fontes de energia biológica.

De acordo com o relatório da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), o mundo precisará aumentar em 70% a produção de proteína até 2050. Nesse cenário, insetos como baratas — altamente reprodutivos, eficientes e versáteis — ganham protagonismo.

Na Ásia, onde a medicina tradicional chinesa é amplamente respeitada e onde há familiaridade maior com o consumo de insetos, a aceitação é muito mais ampla. Laboratórios chineses defendem que a expansão controlada da prática pode gerar benefícios médicos, ambientais e econômicos, além de representar uma infraestrutura energética viva, funcionando como um sistema biológico autossustentável.

O futuro das baratas em laboratório: do nojento ao necessário?

Se há alguns anos a ideia de criar baratas em laboratório soava absurda, hoje ela é encarada como alternativa viável em múltiplos setores. O avanço da biotecnologia, os desafios das mudanças climáticas e a demanda por energia renovável e materiais biodegradáveis estão transformando o modo como vemos os insetos.

Cientistas apontam que as baratas são resistentes à radiação, adaptáveis a ambientes hostis e dotadas de sistemas imunológicos eficientes, características que as tornam excelentes candidatas para estudos genéticos, farmacológicos e industriais. Além disso, sua criação consome pouca água, não requer grandes áreas de terra e gera resíduos mínimos — tudo o que se espera de um modelo de produção sustentável para o século XXI.

A China, mais uma vez, lidera essa vanguarda silenciosa. O desafio agora é transformar o estigma em oportunidade — e mostrar ao mundo que até mesmo o inseto mais temido pode ser peça-chave para um planeta mais equilibrado.

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Valdemar Medeiros

Jornalista em formação, especialista na criação de conteúdos com foco em ações de SEO. Escreve sobre Indústria Automotiva, Energias Renováveis e Ciência e Tecnologia

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