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Poluição atmosférica por chumbo causou declínio cognitivo generalizado na Europa da era romana, afirma estudo

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 19/04/2025 às 18:16
Poluição, chumbo
Foto: IA

Um estudo recente sugere que a poluição atmosférica por chumbo na Europa durante a era romana teve efeitos devastadores sobre a saúde mental da população

Um novo estudo identificou que a poluição atmosférica por chumbo durante o período romano causou um declínio cognitivo em larga escala na Europa.

Com base em registros de núcleos de gelo do Ártico, os pesquisadores conseguiram mapear níveis históricos de poluição e ligar esses dados a impactos diretos na saúde da população do Império Romano.

Núcleos de gelo revelam poluição antiga

A equipe científica analisou três registros de núcleos de gelo cobrindo o período entre 500 a.C. e 600 d.C. Por meio de isótopos de chumbo, foi possível rastrear a origem da poluição até operações de mineração e fundição espalhadas pela Europa.

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Segundo os cientistas, o método empregado representa um avanço na forma de estudar os efeitos ambientais e humanos da poluição antiga.

Este é o primeiro estudo a pegar um registro de poluição de um núcleo de gelo e invertê-lo para obter concentrações atmosféricas e então avaliar os impactos humanos”, afirmou o Dr. Joe McConnell, do Instituto de Pesquisa do Deserto. “A ideia de que podemos fazer isso há 2.000 anos é muito nova e emocionante.

Mapeamento mostra impacto por toda a Europa

Através de modelagem computacional do movimento do ar, os pesquisadores produziram mapas mostrando a dispersão da poluição por chumbo na Europa.

Os dados foram cruzados com estudos sobre os efeitos do chumbo no cérebro humano.

O resultado indicou que a exposição generalizada causou uma redução média de 2,5 a 3 pontos no quociente de inteligência (QI) em toda a população do Império Romano.

Nathan Chellman, também do Instituto de Pesquisa do Deserto, comentou: “Uma redução de 2 a 3 pontos no QI não parece grande coisa, mas quando você aplica isso a praticamente toda a população europeia, é algo muito grande.

Mineração de prata era a principal fonte

A principal fonte da poluição era a mineração de prata. O processo envolvia a fundição da galena, um mineral rico em chumbo.

Para cada onça de prata extraída, milhares de onças de chumbo eram liberadas na atmosfera.

Estima-se que mais de 500.000 toneladas de chumbo tenham sido emitidas durante cerca de dois séculos de domínio romano.

O Dr. Andrew Wilson, da Universidade de Oxford, destacou que a pesquisa também permite entender melhor a ligação entre poluição e eventos históricos. “Nossa pesquisa mudou nossa compreensão da era romana ao encontrar ligações precisas entre os registros de poluição por chumbo e eventos históricos, como declínios populacionais associados a pragas e pandemias periódicas.

Efeitos do chumbo vão além do QI

Além do declínio cognitivo, a exposição ao chumbo provoca outros danos sérios. Em adultos, pode causar infertilidade, anemia, problemas cardíacos, perda de memória, câncer e redução da imunidade.

Já em crianças, mesmo níveis baixos estão ligados à queda no desempenho escolar, dificuldade de concentração e atraso no desenvolvimento intelectual.

Atualmente, o CDC dos Estados Unidos estabelece que níveis de 3,5 microgramas por decilitro no sangue de crianças já justificam intervenção médica. No entanto, especialistas afirmam que não há nível seguro de exposição.

Sabe-se que o chumbo tem uma ampla gama de impactos na saúde humana, mas optamos por focar no declínio cognitivo porque é algo que podemos quantificar”, explicou Chellman.

Picos e quedas ao longo da história

A poluição atmosférica por chumbo começou na Idade do Ferro, intensificando-se no final do século II a.C., durante a República Romana.

No século I a.C., houve uma queda durante a crise republicana, mas os níveis voltaram a subir por volta de 15 a.C., com o início do Império. Os altos índices persistiram até a Peste Antonina, entre os anos 165 e 180 d.C.

Somente na Alta Idade Média, já no segundo milênio, os níveis de chumbo no Ártico voltaram a superar os registros do Império Romano.

Estudo revela impacto de longo prazo da atividade humana

Apesar de a poluição atmosférica por chumbo ter atingido picos muito mais altos em épocas modernas — chegando a ser 40 vezes maior no início da década de 1970 —, o estudo mostra que a atividade humana já afetava a saúde da população há milênios.

Esse estudo mostra como os humanos têm impactado sua saúde por milhares de anos por meio da atividade industrial”, concluiu McConnell.

A pesquisa foi publicada na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences.

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor. Para sugestões de pauta ou qualquer dúvida, entre em contato pelo e-mail [email protected].

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