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Pintura rupestre de 51.200 anos na Indonésia é o exemplo mais antigo de narrativa visual na arte rupestre

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 25/04/2025 às 12:00
rupestre
Pintura de Leang Karampuang, de 51.200 anos. Crédito da imagem: Universidade Griffith.

Obra pré-histórica mostra interação entre figuras e revela que humanos primitivos já contavam histórias complexas há mais de 50 mil anos

Utilizando uma nova técnica de datação chamada (série U-LA), arqueólogos conseguiram redefinir a idade de algumas das artes rupestres mais antigas da região de Maros-Pangkep, em Sulawesi do Sul, Indonésia.

Essa descoberta revelou que as composições são ainda mais antigas do que se acreditava, alterando o entendimento atual sobre a origem da arte narrativa humana.

Uma descoberta revolucionária

No sítio arqueológico de Leang Bulu’ Sipong 4, uma famosa cena de caça já havia sido datada anteriormente em no mínimo 43.900 anos.

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Com a nova técnica de ablação a laser, os cientistas descobriram que a pintura é, na verdade, ainda mais antiga, com uma idade mínima de 50.200 anos, com margem de erro de aproximadamente 2.200 anos. Isso significa que a obra tem pelo menos 4.040 anos a mais do que se pensava.

Além disso, em outro sítio arqueológico da mesma região, Leang Karampuang, uma nova composição foi estudada.

Esta arte, que retrata figuras humanas interagindo com um porco, foi datada com idade mínima de 53.500 anos, considerando também a margem de erro de 2.300 anos.

Estima-se que tenha sido pintada há pelo menos 51.200 anos, tornando-se, assim, o exemplo mais antigo conhecido de arte representativa e narrativa visual no mundo.

Importância da nova técnica

Datando arte rupestre pré-histórica sempre foi um grande desafio para os arqueólogos. Métodos tradicionais, como a análise de soluções da série U, já tinham permitido avanços importantes nas últimas décadas, sendo aplicados em diversas regiões como Europa Ocidental, Sudeste Asiático insular e Sibéria.

Na Espanha, por exemplo, um estêncil de mão foi datado em pelo menos 64.800 anos atrás, sendo atribuído aos neandertais.

No entanto, quando se tratava de arte figurativa, a evidência mais antiga até então era de uma pintura naturalista de um porco verrugoso em Sulawesi, datada em no mínimo 45.500 anos.

Segundo o professor Maxime Aubert, da Universidade Griffith, autor sênior do novo estudo, a técnica série U-LA representa um grande salto na precisão dessas datações. “Isso nos permite datar as primeiras camadas de carbonato de cálcio formadas na arte e nos aproximar do momento em que a arte foi criada. Isso revolucionará a datação da arte rupestre”, afirmou.

Mapas detalhados de camadas

O professor Renaud Joannes-Boyau, da Southern Cross University, coautor do estudo, destacou outro benefício da nova técnica. “Essa capacidade nos permite identificar e evitar regiões afetadas por processos naturais de diagênese, que decorrem de históricos de crescimento complexos”, explicou.

Dessa forma, as determinações de idade se tornam mais robustas e confiáveis, proporcionando mais segurança às interpretações arqueológicas.

O impacto das novas datas

A descoberta da pintura de Leang Karampuang, com pelo menos 51.200 anos, trouxe novas implicações para a compreensão da origem da arte antiga. O primeiro autor do estudo, Adhi Agus Oktaviana, da Agência Nacional de Pesquisa e Inovação em Jacarta, ressaltou que essas novas datas são surpreendentes.

Segundo ele, nenhuma das famosas artes da Era Glacial europeia é tão antiga quanto esta, excetuando-se algumas descobertas controversas na Espanha. É também a primeira vez que as datas de arte rupestre da Indonésia ultraam a marca de 50.000 anos.

Cena de caça ainda mais antiga

Os pesquisadores também redataram a famosa cena de caça de Leang Bulu’ Sipong 4, que retrata seres interpretados como teriantropos (seres parte humanos, parte animais) caçando porcos verrugosos e búfalos anões. A obra, anteriormente datada em no mínimo 43.900 anos, agora foi atribuída a uma idade mínima de cerca de 48.000 anos usando a nova técnica.

De acordo com o professor Adam Brumm, da Universidade Griffith e coautor do estudo, a importância dessa descoberta está no fato de que essas artes mais antigas são narrativas. Ou seja, mostram humanos e animais interagindo de forma a sugerir a existência de uma história sendo contada, diferente da visão acadêmica anterior de que a arte rupestre figurativa inicial era formada apenas por figuras isoladas.

A narrativa como parte da cultura

O professor Brumm reforçou que a presença de cenas reconhecíveis em pinturas tão antigas lança uma nova luz sobre o papel da narrativa na história da arte. “Esta foi uma descoberta inovadora porque a visão acadêmica da arte rupestre figurativa primitiva tem sido, por muito tempo, a de que ela consistia em painéis de figuras únicas”, explicou.

Segundo ele, essas novas descobertas indicam que a capacidade de contar histórias já era uma parte crucial da cultura artística humana primitiva em Sulawesi, há mais de 51.000 anos.

Adhi Agus Oktaviana também comentou que, embora os humanos provavelmente contem histórias há muito mais tempo, como as palavras não fossilizam, a única evidência direta disponível são as representações pictóricas.

Nesse sentido, a arte de Sulawesi representa, até o momento, a evidência mais antiga conhecida de narrativa visual na arqueologia.

As descobertas, que representam um avanço importante no estudo da pré-história humana e da evolução da arte, foram publicadas na revista científica Nature.

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor. Para sugestões de pauta ou qualquer dúvida, entre em contato pelo e-mail [email protected].

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