Avanços em IA permitem a interpretação de textos antigos que antes eram indecifráveis, ajudando arqueólogos e historiadores a compreender melhor o ado da humanidade
Durante séculos, a leitura de textos cuneiformes desenvolveu um trabalho meticuloso de transcrição manual. Especialistas avam anos analisando tábuas individuais, lidando com variações nos estilos de escritas antigas que dificultavam a tradução.
Agora, um novo sistema de inteligência artificial (IA) está evoluindo esse processo, tornando a decifração mais rápida e eficiente.
Pesquisadores da Universidade de Cornell e da Universidade de Tel Aviv desenvolveram o ProtoSnap, um modelo de IA capaz de reconhecer e reconstruir caracteres cuneiformes com alta precisão.
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O sistema considera as diferenças regionais e temporais da escrita, oferecendo uma nova abordagem para interpretar textos da antiga Mesopotâmia.
O avanço já está ampliando o número de documentos traduzidos e revelando novas informações sobre a vida econômica e social da época. Mas, segundo os especialistas, essa tecnologia pode ir ainda mais longe.
Desafios da escrita cuneiforme
Diferente dos alfabetos modernos, que contam com um número limitado de letras, o cuneiforme apresenta mais de mil sinais. Além disso, sua forma mudou ao longo dos séculos, tornando a leitura um grande desafio até mesmo para especialistas.
“Mesmo com o mesmo caractere, a aparência muda ao longo do tempo, então é um problema muito desafiador conseguir decifrar automaticamente o que o caractere realmente significa“, explica Hadar Averbuch-Elor, cientista da computação da Cornell Tech.
Para solucionar essa dificuldade, os pesquisadores utilizaram um modelo de difusão, um tipo de IA generativa. O sistema compara a imagem de um caractere cuneiforme com um protótipo conhecido e ajustado no contexto correto, como uma peça de quebra-cabeça.
Com essa abordagem, o ProtoSnap pode considerar, copiar e reproduzir escritas cuneiformes com mais rapidez e precisão do que nunca.
Ampliando o o ao ado
Atualmente, há cerca de meio milhão de tábuas cuneiformes preservadas em museus ao redor do mundo. No entanto, somente uma pequena parte foi completamente traduzida.
Com a automação do processo de transcrição, o ProtoSnap pode acelerar a disponibilização desses textos, fornecendo novos detalhes sobre a lei, a economia e o cotidiano da Mesopotâmia.
“Na base da nossa pesquisa está o objetivo de aumentar as fontes antigas disponíveis para nós em dez vezes”, diz Yoram Cohen, um arqueólogo da Universidade de Tel Aviv. “Isso nos permitirá, pela primeira vez, a manipulação de big data, levando a novos insights mensuráveis sobre sociedades antigas — sua religião, economia, vida social e jurídica.”
Inteligência artificial e decifração de escritas antigas
O ProtoSnap é um exemplo de como a inteligência artificial vem revolucionando a leitura de documentos históricos. Em 2023, pesquisadores estudaram IA para decifrar um papiro grego carbonizado há quase 2.000 anos em Herculano, uma cidade romana soterrada pelos incêndios Vesúvio.
Esses rolos, encontrados no século XVIII, eram considerados impossíveis de abrir sem os destruir. No entanto, um grupo de cientistas da computação e papirologistas criou um algoritmo para identificar traços invisíveis de tinta nas camadas de papiro. O resultado foi a recuperação de trechos inteiros de textos que foram escondidos por séculos.
“Foi incrível”, relembra Federica Nicolardi, uma papirologista da Universidade de Nápoles. “Eu pensei, ‘Então isso está realmente acontecendo.‘”
IA na confirmação da história
O uso da inteligência artificial para textos antigos está se tornando cada vez mais comum. Modelos de aprendizado de máquina já ajudaram a restaurar inscrições gregas danificadas, traduzir tábuas acádias e até mesmo determinar a origem e os dados de documentos históricos.
O sistema Ítaca, desenvolvido pela Universidade de Oxford, foi utilizado recentemente para revisar decretos da Atenas Clássica. Com base em evidências históricas, os estudiosos debateram se esses textos foram escritos por volta de 420 aC ou 446/445 aC. Ao ser testado, Ítaca confirmou os dados de 421 aC, reforçando a revisão da cronologia histórica.
“Embora possa parecer uma pequena diferença, essa mudança de data tem implicações significativas para nossa compreensão da história política da Atenas Clássica”, explica Jonathan Prag, professor de História Antiga da Universidade de Oxford.
Enquanto isso, na Coreia, pesquisadores estão utilizando IA para processar documentos escritos em Hanja, antigo sistema de escrita usado por séculos na região.
Esses arquivos contêm registros sobre os reinados de 27 reis coreanos, abrangendo 500 anos de história. Com a ajuda da IA, os estudiosos estão identificando padrões de governança, economia e diplomacia da época.
Desafios e limitações
Apesar dos avanços, o uso de inteligência artificial na tradução de textos históricos ainda apresenta desafios. Em alguns casos, redes neurais podem gerar traduções enganosas ou preencher lacunas com informações plausíveis, mas incorretas.
Esse fenômeno, conhecido como alucinação de IA, pode levar a interpretações distorcidas dos documentos.
Por esse motivo, especialistas enfatizam que a tecnologia deve servir como um complemento ao trabalho humano, e não como um substituto.
Com informações de ZME Science.
Agora temos uma “janela” ampla para conhecer a fundo parte da antiguidade. Ótima notícia.