Projeto Solveig pode transformar 32 mil quilômetros de ferrovias em corredores de eletricidade limpa, unindo mobilidade sustentável e preservação ambiental.
A França deu um o ousado na integração entre infraestrutura ferroviária e energia solar. Por meio da operadora nacional SNCF e sua subsidiária AREP, foi lançado o Projeto Solveig, que propõe o uso dos trilhos de trem como base para instalação de painéis solares, visando ampliar a produção de eletricidade limpa sem comprometer paisagens nem áreas agrícolas.
Inspirada em uma iniciativa da Suíça, a proposta sa pode transformar mais de 32 mil quilômetros de linhas ferroviárias em verdadeiros corredores de geração de energia solar. Com a crescente demanda por alternativas sustentáveis e a busca por soluções de baixo impacto visual, o projeto representa uma inovação promissora para o futuro da mobilidade e do meio ambiente.
Painéis solares sobre trilhos: energia limpa com baixo impacto estético
A instalação de grandes usinas solares em áreas rurais ou urbanas sempre gerou debates sobre impacto ambiental e visual. Para contornar essas limitações, engenheiros e cientistas têm buscado soluções como painéis solares em janelas, em muros de rodovias ou, agora, sobre trilhos ferroviários.
-
Barco movido a energia solar reduzem uso de diesel e beneficiam comunidades na Amazônia
-
Investimento global em energia renovável deve bater recorde de US$ 2,2 trilhões em 2025, aponta IEA
-
Por que casas com solar também ficam sem luz durante apagões? Entenda por que o sistema on-grid não funciona em apagões
-
Balsa elétrica movida a energia solar revoluciona travessia entre Norddeich e Norderney
No caso francês, o Projeto Solveig já foi colocado em prática em fase piloto, com a instalação inicial de oito painéis solares no centro técnico de Achères, região metropolitana de Paris. Os testes devem durar seis meses, período em que a SNCF vai avaliar a eficiência energética, resistência ao clima, viabilidade econômica e interferência operacional.
Sistema modular e reversível facilita instalação e transporte
Um dos destaques do projeto francês é a modularidade e mobilidade do sistema. Os painéis solares são transportados em contêineres ISO, que armazenam também os inversores e baterias, responsáveis por armazenar e distribuir a energia gerada. A instalação é feita com auxílio de um braço mecânico, que posiciona os painéis sobre os trilhos, sem necessidade de fundações fixas.
Isso permite que o sistema seja reversível, ou seja, facilmente desmontado e transferido para outras localidades, inclusive linhas fora de serviço. Segundo a AREP, isso facilita o uso temporário e evita comprometer a infraestrutura ferroviária existente.
Além disso, o modelo pode ser adaptado para suprir tanto as necessidades internas da SNCF, como a alimentação elétrica de instalações técnicas, quanto para fornecimento de energia às comunidades locais próximas às linhas férreas.
Potencial energético e metas da SNCF até 2030
O objetivo da SNCF é ousado: instalar 1.000 megawatts (MW) de capacidade solar até 2030. Com mais de 113.800 hectares de terras operacionais, a companhia ferroviária sa vê no uso de trilhos e terrenos subutilizados uma oportunidade estratégica para ampliar sua participação na geração de energia solar.
Hoje, cerca de 80% dos trens operados pela SNCF já utilizam eletricidade, o que torna o uso de energia renovável para abastecimento da própria rede ferroviária ainda mais coerente com os compromissos ambientais assumidos pela França e pela União Europeia.
Se o Projeto Solveig for bem-sucedido, ele pode ser replicado não apenas em outras regiões da França, mas em diferentes países da Europa e do mundo, transformando uma infraestrutura já existente em plataformas sustentáveis de produção de energia.
Desafios e próximos os do Projeto Solveig
Embora o potencial da proposta seja evidente, o projeto ainda está em fase experimental. Os próximos os incluem:
- Aprimoramento da eficiência energética dos painéis utilizados;
- Redução de custos para tornar o modelo viável em larga escala;
- Avaliação da durabilidade das instalações em diferentes condições climáticas;
- Integração à rede elétrica nacional com segurança e estabilidade.
A expectativa é de que os dados colhidos nos testes de Achères sirvam como base para uma eventual expansão do projeto em áreas mais extensas ou até mesmo para exportação do conceito a outros países interessados em soluções sustentáveis e de baixo impacto visual.
Exemplos internacionais reforçam a tendência
O uso de painéis solares em trilhos de trem não é exclusivo da França. A Suíça, pioneira nessa ideia, já instalou módulos solares tanto sobre trilhos quanto em muros de rodovias, buscando preservar suas paisagens naturais e ao mesmo tempo ampliar a geração de energia limpa.
Outros países, como Alemanha, Japão e Países Baixos, também experimentam integrações criativas entre infraestrutura urbana e fontes de energia renovável, como coberturas solares em estacionamentos, estações de trem, rodovias fotovoltaicas e até painéis solares flutuantes em lagos e represas.
Fonte: Xataka