Conheça os avanços em tijolos ecológicos, concreto permeável e tintas isolantes desenvolvidos no país, que promovem economia, eficiência e menor impacto ambiental na construção civil.
A construção civil brasileira vive uma revolução silenciosa. Ela é impulsionada pela necessidade de práticas mais sustentáveis. Diante do alto consumo de recursos e da grande geração de resíduos, surgem inovações em materiais. Essas soluções prometem edificações mais eficientes e resilientes. Este artigo explora três avanços notáveis desenvolvidos no Brasil. São eles: tijolos ecológicos, concretos permeáveis e tintas isolantes. Suas contribuições para um futuro mais verde são destacadas aqui.
A base para uma construção de baixo impacto
Os tijolos ecológicos são uma alternativa sustentável aos modelos convencionais de cerâmica. No Brasil, o desenvolvimento foca em duas frentes principais: o tijolo de solo-cimento e aquele que incorpora resíduos industriais.
O tijolo de solo-cimento é produzido a frio. Sua fabricação resulta da mistura de solo, cimento e água, que é prensada e curada à sombra. Esse processo elimina a queima em fornos, reduzindo drasticamente a emissão de CO₂. Além disso, pode gerar uma economia de até 40% em projetos de habitação social. Isso ocorre pelo uso de solo local e menor necessidade de argamassa de assentamento, graças ao seu sistema de encaixe. Pesquisas da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA) confirmam seus benefícios. No entanto, estudos da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) alertam: a qualidade do solo é crucial para garantir a resistência exigida pelas normas da ABNT.
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Outra vertente promissora é a valorização de resíduos. O Instituto Nacional de Tecnologia (INT), por exemplo, desenvolveu um tijolo a partir de resíduo de calcário e resina. O material inovador dispensa cozimento, tem baixíssima absorção de água e resistência 600% superior ao mínimo exigido pela legislação. Pesquisas também exploram o uso de rejeitos de marmoraria e areia de fundição, alinhando a construção aos princípios da economia circular.
Uma solução inteligente para as cidades
O concreto permeável, ou drenante, é uma resposta inovadora aos alagamentos urbanos. Sua estrutura porosa permite que a água da chuva e diretamente para o solo. Isso alivia os sistemas de drenagem e ajuda a recarregar o lençol freático.
Sua tecnologia consiste em reduzir ou eliminar a areia da mistura, criando vazios interconectados. Os benefícios são múltiplos. Além de combater enchentes, o concreto permeável ajuda a mitigar o efeito das ilhas de calor e pode filtrar poluentes da água. Um pavimento desse tipo pode absorver cerca de 60% da água da chuva, contra apenas 5% do asfalto comum.
Projetos pioneiros de materias ecologócias para a construção civil já são realidade no Brasil. A cidade de Vila Velha (ES), em um projeto com a UFES, implementou o material para reduzir alagamentos. Curitiba (PR) e São Paulo (SP) também utilizam a solução em calçadas e estacionamentos. O principal desafio é a manutenção. Os poros podem ser obstruídos por sedimentos, fenômeno conhecido como colmatação. A limpeza periódica é essencial para garantir sua eficácia a longo prazo. A norma ABNT NBR 16416 é o principal referencial técnico para o projeto e execução desses pavimentos.
Conforto e eficiência energética
A busca por conforto e eficiência energética impulsiona o desenvolvimento de tintas e revestimentos especiais. As tintas térmicas, por exemplo, são formuladas para reduzir a transferência de calor em telhados e paredes. Elas atuam de duas formas: refletindo a radiação solar e isolando a superfície.
Empresas brasileiras oferecem produtos para construção com microesferas cerâmicas ocas, que criam uma barreira ao calor. Uma tinta térmica pode reduzir a temperatura de um telhado em até 50%, diminuindo a necessidade de ar condicionado e gerando economia na conta de luz.
No campo do isolamento acústico, destaca-se a produção nacional. A empresa Biolã, de capital 100% brasileiro, fabrica produtos à base de lã de rocha. Esse material pode oferecer um isolamento superior a 50 dB, garantindo ambientes mais saudáveis e produtivos. A pesquisa acadêmica também avança. A UFRGS, por exemplo, desenvolve revestimentos intumescentes multifuncionais a partir de biomassa, que protegem estruturas contra fogo e corrosão simultaneamente.
Impacto e futuro da construção ecológica no Brasil
A adoção de materiais ecológicos promove um ciclo virtuoso. Os benefícios ambientais, sociais e econômicos se reforçam. Reduzir o consumo de energia com isolantes térmicos, por exemplo, diminui o impacto ambiental e os custos para o consumidor. A utilização de resíduos gera novas oportunidades de negócio e reduz o descarte em aterros.
Contudo, a massificação dessas inovações enfrenta barreiras. O custo inicial, a falta de mão de obra qualificada e a cultura construtiva tradicional são os principais desafios. Para superá-los, políticas de incentivo, capacitação profissional e a disseminação de informação são fundamentais.
As normas técnicas da ABNT e as certificações de sustentabilidade, como o selo LEED, têm um papel crucial. Elas estabelecem padrões de qualidade, garantem segurança e agregam valor aos imóveis. Ao criar um referencial claro, impulsionam a confiança do mercado e estimulam toda a cadeia produtiva da construção sustentável. O Brasil tem a oportunidade única de se tornar um líder no desenvolvimento de soluções construtivas adaptadas a climas tropicais, pavimentando o caminho para um futuro mais resiliente e equilibrado.