Muitas pessoas afirmam que refrigerantes como Coca-Cola e Guaraná mudaram de gosto ao longo dos anos, e há razões técnicas, econômicas e emocionais que explicam essa transformação silenciosa nas fórmulas que marcaram a infância de milhões de brasileiros.
De mudanças nos ingredientes ao uso de adoçantes e variações regionais, entenda o que pode ter acontecido com o refrigerante da sua infância
Você já teve a sensação de que o refrigerante que tomava na infância já não tem mais o mesmo gosto?
Seja Coca-Cola, Fanta, Guaraná Antarctica ou Dolly, muitos brasileiros compartilham dessa impressão nostálgica.
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Para alguns, o sabor ficou mais “fraco”; para outros, o gás parece ter diminuído ou o “doce” já não é o mesmo. Mas será que o gosto dos refrigerantes realmente mudou — ou a culpa é da nossa memória afetiva?
A resposta envolve uma mistura de fatores: mudanças reais na fórmula, adaptações ao mercado, legislação sanitária, e até o paladar humano, que se transforma com o tempo.
As fórmulas mudaram, sim — e mais de uma vez
As grandes marcas de refrigerantes já alteraram suas fórmulas diversas vezes ao longo das décadas. E isso não é exatamente um segredo.
Com a crescente pressão por produtos com menos açúcar e com foco na saúde, a indústria ou a adaptar suas receitas para atender novas legislações e preferências do consumidor.
Um exemplo marcante é a redução de açúcar em muitos refrigerantes, substituído por adoçantes como sucralose, ulfame-K e stevia.
Isso afeta diretamente o sabor, já que adoçantes possuem perfis gustativos diferentes do açúcar comum. Mesmo em produtos que não se declaram “zero açúcar”, pode haver uso de combinações híbridas para manter o gosto doce com menos calorias.
Além disso, a qualidade e a procedência da água, a dosagem de gás (carbonatação), os conservantes e os aromatizantes também aram por ajustes com o ar dos anos — alguns para adequação regulatória, outros por decisões econômicas.
A legislação também influenciou o sabor
Nos últimos 20 anos, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) ou a exigir mais transparência na rotulagem e limitou o uso de certos ingredientes considerados prejudiciais à saúde.
Aromatizantes artificiais, corantes e açúcares em excesso aram a ser regulados de forma mais rigorosa, especialmente após o crescimento das preocupações com obesidade, diabetes e doenças metabólicas.
Em alguns países, como o México e o Chile, leis exigem rótulos de alerta e taxam bebidas muito açucaradas.
O Brasil também caminha para medidas semelhantes. A indústria, por sua vez, tem buscado se antecipar às exigências, reformulando seus produtos para evitar penalizações e manter a competitividade.
Fatores econômicos e de logística também influenciam
Um detalhe pouco conhecido do grande público é que o sabor de um refrigerante pode variar de uma fábrica para outra, mesmo dentro do mesmo país.
Isso ocorre porque as grandes marcas possuem centros de envase espalhados por diferentes regiões, que podem usar ingredientes locais, águas com características distintas e até calibragens levemente diferentes nas máquinas.
Além disso, em tempos de inflação alta, aumento de custos logísticos e variação no preço de matérias-primas, as empresas costumam buscar alternativas mais baratas de produção.
Isso pode envolver troca de fornecedores, uso de essências mais simples ou alteração no processo de carbonatação — tudo isso afetando o sabor final.
O paladar também muda com o tempo
Outro fator muitas vezes ignorado é que o nosso próprio paladar muda com o ar dos anos. A ciência mostra que a percepção de sabores se altera com a idade, especialmente no que diz respeito ao doce e ao amargo.
Crianças e adolescentes tendem a preferir sabores mais doces e intensos, enquanto adultos am a ser mais críticos em relação à doçura e aos aditivos.
Portanto, é possível que o refrigerante de hoje seja muito parecido com o de 1990 — mas o nosso corpo, não.
Além disso, há um fator emocional e psicológico envolvido. O sabor da infância está associado a momentos felizes, férias, festas e encontros familiares.
Quando você toma um refrigerante hoje, sem esse contexto, é natural que ele pareça diferente — mesmo que a fórmula não tenha mudado tanto.
A Coca-Cola realmente mudou?
Sim, mas nem sempre da forma como os consumidores imaginam. A Coca-Cola já ou por pequenas alterações de fórmula em vários países.
A mais polêmica aconteceu em 1985, nos Estados Unidos, com a chamada “New Coke”, que foi rejeitada pelo público e rapidamente retirada de circulação.
No Brasil, as mudanças foram mais discretas, geralmente ligadas à redução de açúcar e ao ajuste de ingredientes.
Nos últimos anos, a Coca-Cola Brasil anunciou a redução de até 50% do açúcar em algumas linhas, inclusive a Coca-Cola tradicional.
Embora a empresa não divulgue a receita exata, especialistas garantem que alterações desse tipo impactam diretamente o sabor final — e isso pode ser o que muitos consumidores sentem ao comparar a bebida de hoje com a de décadas adas.
O caso do Guaraná Antarctica e da Fanta
Tanto o Guaraná Antarctica quanto a Fanta também aram por reformulações.
No caso do Guaraná, a principal mudança envolveu a origem e concentração do extrato de guaraná, que afeta diretamente o sabor mais “herbal” da bebida.
Já a Fanta Laranja, que nos anos 1990 era extremamente doce, teve ajustes para reduzir o açúcar e incluir aromatizantes naturais, especialmente no mercado europeu e brasileiro.
E os refrigerantes regionais?
Refrigerantes como Jesus (no Maranhão), Fruki (no Sul) ou Mineirinho (em Minas) ainda preservam fórmulas tradicionais em algumas versões, mas mesmo essas marcas aram por modernizações.
A tendência global de “clean label” — produtos com ingredientes mais naturais e menos industrializados — também começa a influenciar pequenos fabricantes.
Afinal, é nostalgia ou realidade?
A sensação de que o refrigerante mudou é real, mas não é apenas uma impressão nostálgica. Fórmulas foram adaptadas, ingredientes substituídos, legislações modificadas e até o gosto das pessoas evoluiu.
O refrigerante da sua infância provavelmente era diferente, sim — mas você também era. E isso explica por que a primeira Coca-Cola que você tomou depois de um jogo na rua talvez nunca mais seja superada por nenhuma garrafa atual.
E você, também sente que o refrigerante da sua infância tinha um sabor diferente? Qual era o seu favorito e por que ele marcou tanto a sua memória?
Eu sempre gostei da Pepsi, e bebo até os dias de hoje, é pra mim mudou pra melhor…