De gigante das telecomunicações a símbolo de uma das maiores crises corporativas do Brasil, a operadora Oi enfrenta uma recuperação judicial bilionária e uma longa batalha para sobreviver.
O que aconteceu com a Oi: A Oi surgiu no mercado brasileiro como uma das primeiras empresas a desafiar o monopólio da telefonia fixa e móvel no país, logo após a privatização do setor de telecomunicações, em 1998. Originalmente conhecida como Telemar, a empresa foi resultado da junção de 16 companhias estaduais, formando um dos maiores conglomerados regionais do setor.
Com o tempo, a empresa ou a ser identificada apenas como Oi, adotando uma identidade mais jovem e moderna. Em 2002, lançou sua primeira campanha com a nova marca, focando no atendimento ao consumidor e em planos de telefonia íveis, o que rapidamente impulsionou sua base de clientes.
A partir daí, a operadora Oi iniciou um processo de expansão agressiva. Em 2008, adquiriu a Brasil Telecom, ampliando sua presença nacional e se tornando, por um período, a maior operadora de telefonia fixa e a quarta maior de celular no Brasil. Na época, a empresa contava com milhões de clientes e um valor de mercado acima de R$ 20 bilhões.
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A virada: dívidas acumuladas e decisões arriscadas – entenda o que aconteceu com a Oi
Apesar do crescimento inicial, a Oi começou a apresentar sinais de fragilidade financeira a partir de 2012. A empresa acumulou dívidas pesadas, resultado de aquisições mal calculadas, altos custos operacionais e investimentos em infraestrutura que não retornaram na mesma proporção.
Segundo dados da consultoria Economatica, em abril de 2012 a Oi estava avaliada em R$ 21,3 bilhões. No entanto, esse valor despencou nos anos seguintes. A empresa perdeu mais de R$ 20 bilhões em valor de mercado até 2016, quando seu valor ou a ser inferior a R$ 1 bilhão. Em 2023, o valor de mercado chegou a R$ 809 milhões, enquanto a dívida da Oi superava os R$ 65 bilhões.
Esse desequilíbrio entre ivos e valor de mercado culminou em um dos maiores pedidos de recuperação judicial da história do Brasil, formalizado no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. O montante bilionário da dívida refletia anos de má gestão, decisões arriscadas e problemas estruturais.
Recuperação judicial da Oi: o maior caso da história brasileira
Em junho de 2016, a operadora Oi entrou oficialmente com o maior pedido de recuperação judicial da história do Brasil até então. O valor da dívida acumulada foi de R$ 65,4 bilhões, envolvendo credores nacionais e internacionais, incluindo bancos, fornecedores e detentores de debêntures.
O objetivo da recuperação judicial era garantir a continuidade das operações e preservar o caixa da empresa, ao mesmo tempo em que se buscava um acordo com os credores. O plano previa a reestruturação da dívida, venda de ativos e reorganização operacional.
O impacto da notícia foi imediato no mercado financeiro. No dia seguinte ao anúncio, as ações da Oi chegaram a cair mais de 30% na B3 (Bolsa de Valores de São Paulo). Houve interrupções na negociação dos papéis por conta da oscilação extrema. As ações preferenciais fecharam com queda de 18,18%, enquanto as ordinárias recuaram 8,73%.
Classificações de risco: sinal vermelho para investidores
A crise da Oi não ou despercebida pelas agências de classificação de risco. A Fitch Ratings rebaixou a nota da empresa de ‘CCC’ para ‘C’ ainda antes da recuperação judicial. Com o pedido formalizado, a nota foi rebaixada novamente para ‘D’, grau que indica inadimplência ou calote iminente.
A Standard & Poor’s (S&P) seguiu o mesmo caminho, rebaixando a nota da empresa de ‘CCC’ para ‘D’. A agência afirmou que os credores da Oi enfrentariam chances entre 30% e 50% de recuperar seus investimentos, com a possibilidade real de não receberem sequer parte do valor investido.
Segundo a Fitch, a operadora estava sendo prejudicada por uma estrutura de capital insustentável, marcada por alta alavancagem e fluxo de caixa negativo por anos consecutivos. A agência destacou ainda que, durante o período de recuperação judicial, não havia perspectiva de reelevação do rating.
O papel do governo e da Anatel na crise – o que aconteceu com a Oi
Apesar da gravidade da situação, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) optou por não intervir diretamente na gestão da Oi. No entanto, a agência reguladora proibiu a empresa de se desfazer de ativos relevantes sem autorização prévia, visando evitar a deterioração dos serviços prestados à população.
O governo federal, por meio da Casa Civil, também descartou qualquer apoio financeiro direto à operadora. O então ministro Eliseu Padilha declarou que “não há hipótese de o governo ajudar financeiramente a Oi”. Segundo ele, a postura seria de mediação para parcerias, e não de injeção de capital público.
Tentativas de reestruturação e venda de ativos – dívida de R$ 65 bilhões da Oi
Durante a recuperação judicial, a Oi promoveu diversas tentativas de reestruturação interna e venda de ativos não estratégicos, incluindo torres de telefonia, data centers e operações no exterior. A medida visava reduzir o endividamento e focar na eficiência operacional.
Em paralelo, a empresa buscou atrair investidores para aportes de capital e parcerias estratégicas. No entanto, o cenário de incerteza jurídica e a desconfiança do mercado dificultaram as negociações.
Mesmo com a renegociação parcial de dívidas, a recuperação foi lenta. A Oi precisou reapresentar seu plano de recuperação judicial em mais de uma ocasião, diante da pressão de credores e da complexidade do caso.
O que aconteceu com a Oi nos anos seguintes?
Nos anos seguintes à recuperação judicial, a Oi continuou enfrentando desafios operacionais e financeiros. A empresa perdeu participação de mercado para concorrentes como Claro, Vivo e TIM, especialmente no segmento de telefonia móvel e banda larga.
Com a mudança de comportamento dos consumidores e a digitalização acelerada, a Oi não conseguiu acompanhar a evolução tecnológica de maneira eficiente. A empresa se tornou dependente da infraestrutura de fibra óptica, mas sem a mesma capacidade de investimento que os concorrentes.
Em 2020, a operadora deu início à venda de sua operação móvel, adquirida por um consórcio formado por Claro, Vivo e TIM por R$ 16,5 bilhões. A medida foi autorizada pelo Cade e pela Anatel, marcando mais um o na tentativa de sobrevivência da empresa.
Dívida de R$ 65 bilhões da Oi: ainda há saída?
Mesmo após o ree de ativos e a redução parcial de dívidas, a Oi ainda carrega uma herança bilionária de compromissos financeiros. O ivo acumulado compromete o crescimento da empresa e limita sua capacidade de investir em inovação e expansão.
Segundo o próprio plano de recuperação judicial, os credores terão de esperar anos para uma possível recuperação de valores, que dependerá diretamente da performance da empresa, da venda de ativos remanescentes e da estabilização operacional.
O mercado ainda vê a Oi com cautela, especialmente após os rebaixamentos de rating e a instabilidade prolongada. Muitos investidores a consideram uma ação de alto risco, com valorização dependente de fatores externos e decisões judiciais.
A Oi hoje: o que sobrou da gigante?
Atualmente, a Oi segue operando no Brasil com foco em serviços de fibra óptica (Oi Fibra), telefonia fixa e soluções corporativas. A estratégia da empresa está voltada para a transformação digital e maior eficiência na operação, mas com recursos limitados e sob constante supervisão de órgãos reguladores e credores.
Ainda há um esforço para mostrar ao mercado que a Oi pode ser viável no longo prazo, mas a confiança do investidor foi abalada, e o nome da empresa ficou marcado pela maior crise do setor de telecomunicações do país.
A dívida bilionária da Oi, mesmo parcialmente reestruturada, continua sendo um alerta sobre os perigos da má gestão, da alavancagem excessiva e da falta de planejamento estratégico em setores altamente regulados e dependentes de capital.
A história da operadora Oi é um retrato fiel das contradições do capitalismo brasileiro. De símbolo de modernização das telecomunicações, a empresa se tornou um exemplo de como a ambição desmedida e a gestão ineficiente podem comprometer até os maiores players de um setor.
A dívida de R$ 65 bilhões da Oi é um fardo que ainda pesa sobre seus resultados, e a recuperação judicial da empresa representa não apenas uma tentativa de salvação, mas uma advertência ao mercado sobre os riscos sistêmicos da má governança corporativa.
O que aconteceu com a Oi não é apenas um capítulo isolado: é uma lição para empresas, investidores e órgãos reguladores de que crescimento sem solidez é uma aposta cara — e, muitas vezes, fatal.