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O maior vazamento de petróleo da história liberou 4,9 milhões de barris no mar e criou um deserto abissal que matou mais animais do que o desastre de Chernobyl

Escrito por Débora Araújo
Publicado em 06/06/2025 às 11:12
O maior vazamento de petróleo da história liberou 4,9 milhões de barris no mar e criou um deserto abissal que matou mais animais do que o desastre de Chernobyl
Imagem gerada por inteligência artificial

O maior vazamento de petróleo da história, causado pela explosão da Deepwater Horizon, despejou 4,9 milhões de barris no Golfo do México e matou mais animais do que Chernobyl. Conheça os impactos ambientais e humanos do desastre.

O maior vazamento de petróleo da história moderna não aconteceu no Oriente Médio, nem em plataformas obsoletas. Ele ocorreu no coração da exploração offshore de alta tecnologia dos Estados Unidos, no Golfo do México. Em 2010, a explosão da plataforma Deepwater Horizon, operada pela BP, resultou em um desastre ambiental sem precedentes, com o derramamento de 4,9 milhões de barris de petróleo bruto no oceano, ao longo de 87 dias. O maior vazamento de petróleo do mundo deixou um rastro de destruição que superou, em termos de impacto na fauna marinha, até mesmo o desastre de Chernobyl, ocorrido em 1986.

O que foi o desastre da Deepwater Horizon: O maior vazamento de petróleo do mundo

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A Deepwater Horizon era uma plataforma de perfuração semissubmersível, de última geração, operada pela Transocean e contratada pela BP (British Petroleum). Em 20 de abril de 2010, uma explosão catastrófica durante operações no poço Macondo, a 1.500 metros de profundidade, causou a morte de 11 trabalhadores e o início do que seria o maior vazamento de petróleo do mundo em águas profundas.

A explosão gerou um incêndio que consumiu a plataforma por dois dias, até que ela afundasse, rompendo o sistema de segurança do poço e permitindo a liberação contínua de petróleo.

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Quanto petróleo foi derramado?

Segundo a U.S. Geological Survey (USGS) e a National Oceanic and Atmospheric istration (NOAA), cerca de 4,9 milhões de barris de petróleo foram despejados no mar entre abril e julho de 2010. Para efeito de comparação, esse volume equivale a mais de 780 milhões de litros, ou o suficiente para encher aproximadamente 310 piscinas olímpicas com óleo cru altamente tóxico.

Este volume coloca o desastre da Deepwater Horizon como o maior vazamento de petróleo da história em águas marítimas, superando incidentes anteriores como o do navio Exxon Valdez (1989) e o derramamento no Golfo Pérsico durante a Guerra do Kuwait (1991).

Impactos ambientais: – o maior vazamento de petróleo é considerado catástrofe para a vida marinha

O vazamento de petróleo da Deepwater Horizon teve efeitos devastadores sobre o ecossistema marinho do Golfo do México. Milhares de espécies foram expostas ao petróleo bruto e aos dispersantes químicos utilizados para conter a mancha.

Entre os impactos registrados por órgãos oficiais e ONGs ambientais:

  • Mais de 100 mil aves marinhas mortas, incluindo pelicanos, gaivotas e maçaricos.
  • Pelo menos 5 mil tartarugas marinhas afetadas, muitas delas morrendo sufocadas ou intoxicadas.
  • Estima-se que mais de 65 mil golfinhos e baleias tenham sido expostos ao petróleo, com centenas de mortes confirmadas.
  • Destruição massiva de recifes de coral, manguezais e áreas de reprodução de peixes.
  • Queda dramática nas populações de atum-rabilho, camarões, caranguejos e outras espécies comerciais.

NOAA classificou o desastre como “o pior impacto ambiental em massa já registrado na história dos EUA em ambiente marinho”.

Dispersantes químicos: solução ou novo problema?

Na tentativa de controlar o derramamento, foram lançadas no oceano cerca de 7 milhões de litros de dispersantes químicos Corexit, produzidos pela Nalco. Embora esses compostos tenham reduzido a mancha visível na superfície, eles quebraram o petróleo em microgotas, tornando-o mais difícil de ser removido e mais facilmente absorvido por peixes e plânctons.

Pesquisadores da Universidade da Geórgia e da Louisiana State University alertaram que o uso indiscriminado dos dispersantes pode ter amplificado os danos ecológicos, já que esses produtos são tóxicos para organismos marinhos e potencialmente cancerígenos para humanos.

Comparação com Chernobyl: um desastre ainda maior para os animais?

O desastre de Chernobyl, na Ucrânia, em 1986, é lembrado como um dos piores acidentes nucleares da história, com impacto duradouro sobre a saúde humana e a contaminação ambiental. No entanto, especialistas da National Wildlife Federation apontam que, em termos de perda imediata de biodiversidade, o vazamento de petróleo da Deepwater Horizon matou mais animais em curto prazo.

Isso se deve ao fato de que o petróleo afeta diretamente a respiração, a locomoção e a alimentação de centenas de espécies. Enquanto muitos animais conseguiram evacuar a área de Chernobyl ou foram isolados por medidas humanas, as criaturas marinhas não tinham para onde fugir da maré negra.

Impactos humanos e econômicos

Indústrias pesqueiras destruídas

O Golfo do México é uma das regiões mais ricas em pesca nos Estados Unidos. Com o vazamento, milhares de pescadores foram forçados a parar suas atividades. Estima-se que o setor tenha perdido mais de US$ 2,5 bilhões nos três anos seguintes ao desastre.

Turismo colapsado

As praias da Louisiana, Alabama, Flórida e Mississipi, famosas pelo turismo costeiro, foram atingidas por manchas de petróleo. O fluxo turístico caiu drasticamente, gerando prejuízos de mais de US$ 23 bilhões para hotéis, restaurantes e serviços locais.

Saúde da população

Trabalhadores que participaram da contenção da mancha e moradores das áreas costeiras relataram doenças respiratórias, náuseas, problemas de pele e sintomas neurológicos. Pesquisas posteriores sugerem que os dispersantes e o petróleo inalado podem ter efeitos de longo prazo ainda não totalmente compreendidos.

Responsabilização e processos judiciais

A BP foi considerada a principal responsável pelo desastre. Em 2015, a empresa concordou em pagar mais de US$ 20 bilhões em multas, indenizações e medidas compensatórias, no maior acordo ambiental da história dos EUA.

Outras empresas envolvidas, como Halliburton Transocean, também foram multadas por falhas nos sistemas de segurança e na resposta emergencial. A Justiça norte-americana classificou a conduta da BP como “negligente grave”, ressaltando o corte de custos e os erros técnicos que levaram à explosão.

Lições aprendidas (ou não): a indústria mudou?

Após o desastre da Deepwater Horizon, o governo dos EUA implementou medidas mais rígidas para a exploração offshore, como:

  • Requisitos de segurança mais avançados para válvulas de segurança (blowout preventers).
  • Maior monitoramento ambiental e transparência pública.
  • Criação do Bureau of Safety and Environmental Enforcement (BSEE) para fiscalizar plataformas.

Contudo, especialistas alertam que muitas das práticas arriscadas persistem, especialmente com o retorno de pressões econômicas sobre o setor. A busca por petróleo em águas profundas continua, e novos poços são perfurados a profundidades superiores a 3.000 metros.

O maior vazamento de petróleo do mundo pode se repetir?

Infelizmente, sim. A exploração em águas ultraprofundas, em regiões como o pré-sal brasileiro, o Ártico e o Golfo da Guiné, apresenta riscos semelhantes ou até maiores. Em todos esses casos, as tecnologias envolvidas são complexas, os ambientes são frágeis e os sistemas de resposta a emergências ainda são limitados.

Segundo a Environmental Defense Fund, a única maneira de evitar um novo desastre semelhante é reduzir a dependência global de petróleo e investir massivamente em fontes renováveis de energia.

O desastre da Deepwater Horizon entrou para a história não apenas como o maior vazamento de petróleo da história, mas como um alerta brutal sobre os limites da exploração desenfreada de recursos naturais. Mais de uma década depois, seus impactos ainda são sentidos no meio ambiente, na economia e na saúde das populações costeiras.

Embora avanços regulatórios tenham sido conquistados, o risco permanece, e a única forma de garantir que catástrofes assim não se repitam é por meio de uma mudança estrutural na matriz energética global — algo que, infelizmente, ainda caminha lentamente.

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Débora Araújo

Débora Araújo é redatora no Click Petróleo e Gás, com mais de dois anos de experiência em produção de conteúdo e mais de mil matérias publicadas sobre tecnologia, mercado de trabalho, geopolítica, indústria, construção, curiosidades e outros temas. Seu foco é produzir conteúdos íveis, bem apurados e de interesse coletivo. Para sugestões de pauta, correções ou contato direto: [email protected]

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