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Por que um naufrágio de 131 anos ainda impede a modernização do terceiro maior porto de contêineres do Brasil?

Escrito por Débora Araújo
Publicado em 26/05/2025 às 12:01
Por que um naufrágio de 131 anos ainda impede a modernização do terceiro maior porto de contêineres do Brasil
Foto: IA + CANVA + PS Adobe Photoshop
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Navio encalhado há 131 anos em Itajaí será removido para permitir entrada de navios maiores no canal do terceiro maior complexo portuário do país, após pacote de R$ 689 milhões.

O naufrágio do navio Pallas, ocorrido há 131 anos no canal entre Itajaí e Navegantes, no Litoral Norte de Santa Catarina, está prestes a ter um novo capítulo. Enterrado sob lama e dividido ao meio no fundo do rio Itajaí-Açu, o vapor que naufragou em 1893 durante a Revolta Armada tornou-se, ao longo do tempo, não apenas parte da história política do Brasil, mas também um obstáculo à modernização do complexo portuário da região.

Agora, o governo federal e autoridades portuárias preparam sua retirada em um plano que visa permitir a entrada de navios maiores, com até 400 metros de comprimento, no terceiro maior complexo portuário de contêineres do Brasil.

Naufrágio histórico trava expansão logística

Formado por oito terminais, entre eles o Porto Público de Itajaí e o Porto de Navegantes (PortoNave), o Complexo Portuário de Santa Catarina representa 13,03% do mercado nacional e movimentou 14,17 milhões de toneladas em 2024, ficando atrás apenas dos portos de Santos (SP) e Paranaguá (PR).

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Entretanto, a presença do casco do navio Pallas tem limitado a operação de embarcações de grande porte, impedindo que o canal alcance seu potencial máximo. Atualmente, navios de até 350 metros conseguem operar no local. Com a remoção do naufrágio e outras obras estruturantes, o complexo pretende atrair navios de 366 a 400 metros, ampliando em até 35% a capacidade de movimentação anual.

Remoção de Naufrágio Pallas custará R$ 23 milhões

O navio Pallas, construído na Inglaterra em 1891, foi incorporado à frota brasileira no mesmo ano e realizava o transporte de ageiros e mantimentos entre Rio de Janeiro e Buenos Aires. Em 25 de outubro de 1893, naufragou em Itajaí durante um episódio ainda envolto em mistério, mas ligado à Revolta Armada, movimento que tentou depor o presidente Floriano Peixoto.

Pesquisas do Museu Oceanográfico da Univali, lideradas por Jules Soto, indicam que o capitão recusou-se a colaborar com os revoltosos e intencionalmente encalhou a embarcação. Desde então, o navio foi sendo soterrado por sedimentos e saqueado com o ar das décadas.

A remoção será conduzida pelo Porto de Santos, atual gestor do Porto de Itajaí, com orçamento previsto de R$ 23 milhões. O processo começará com a obtenção de licenças e estudos arqueológicos, incluindo uma Pesquisa de Salvamento Arqueológico exigida pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), já acionado para autorizar a retirada do bem da União.

“Ele foi coberto com bastante lama. Provavelmente terá que ser serrado em várias partes para poder ser removido”, explicou Marcelo Peres, assessor executivo do Porto de Itajaí.

Modernização portuária em curso

O naufrágio, porém, é apenas um dos entraves à expansão portuária. Atualmente, o canal possui 14 metros de profundidade, mas será necessário atingir 16 metros para receber embarcações de maior calado. Além disso, o complexo enfrenta desafios estruturais: dois geradores estão queimados no Porto Público, e a estrutura ficou um ano fechada entre 2023 e 2024, provocando atraso operacional.

Para solucionar os gargalos, o governo federal anunciou em maio um pacote de investimentos de R$ 689 milhões até 2030, que inclui:

  • Retirada do navio Pallas
  • Aprofundamento do canal
  • Reforço da malha elétrica e aquisição de novos equipamentos
  • Readequação do Molhe de Navegantes (orçada em R$ 64 milhões e prevista para 2028)
  • Construção de píer para navios de cruzeiro, com R$ 300 milhões estimados

Segundo o superintendente do Porto de Itajaí, João Paulo Tavares Bastos, o objetivo é recuperar a competitividade do complexo, que ele considera estar “cinco gerações atrasado”.

Impacto econômico regional

Itajaí possui hoje o maior PIB de Santa Catarina e, segundo dados do governo federal, foi o município que mais arrecadou com importações no Brasil em 2023, com US$ 13,1 bilhões (cerca de R$ 64 bilhões).

Com a remoção do Pallas, a expectativa é ampliar ainda mais a capacidade logística da região. O PortoNave, por exemplo, projeta elevar sua movimentação de 1,5 milhão para 2 milhões de TEUs (contêineres de 20 pés).

“Essa operação vai permitir mais segurança no canal e dar maior competitividade ao complexo, além de proporcionar que possamos operar os navios de grande porte”, afirmou Osmari de Castilho Ribas, diretor da PortoNave.

Memória histórica e operação técnica

Embora a remoção vise à expansão econômica, as autoridades também garantem a preservação histórica do naufrágio. Segundo o plano apresentado, partes da embarcação serão armazenadas e poderão integrar exposições futuras, reconhecendo o valor histórico do Pallas como patrimônio submerso brasileiro.

A operação será executada em meio a correntes fortes, baixa visibilidade e tráfego intenso de navios, o que exigirá precisão técnica e segurança.

Para o especialista Egídio Martorano, da Fiesc, “a obra é fundamental para a adequação do porto a navios maiores, exigindo ajustes na bacia de evolução e aprofundamento do canal. Esse ajuste depende do navio”.

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Débora Araújo

Débora Araújo é redatora no Click Petróleo e Gás, com mais de dois anos de experiência em produção de conteúdo e mais de mil matérias publicadas sobre tecnologia, mercado de trabalho, geopolítica, indústria, construção, curiosidades e outros temas. Seu foco é produzir conteúdos íveis, bem apurados e de interesse coletivo. Para sugestões de pauta, correções ou contato direto: [email protected]

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