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Localizada entre Brasil, Venezuela e Suriname, Guiana é um dos menores países da América do Sul — e agora lidera a nova corrida global pelo petróleo

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 01/05/2025 às 18:33
Guiana
Foto: Reprodução

Descobertas bilionárias de petróleo transformam a Guiana na economia que mais cresce na América do Sul, com produção acelerada e desafios ambientais e sociais pela frente.

Com menos de 800 mil habitantes, influência indiana, língua inglesa e floresta amazônica, a Guiana parecia apenas uma curiosidade geográfica entre Brasil e Venezuela. Mas a descoberta de bilhões de barris de petróleo mudou tudo. Agora, o país caminha para se tornar uma das economias que mais crescem no mundo.

Um país fora do comum na América do Sul

A Guiana é diferente de seus vizinhos. Localizada no norte da América do Sul, faz fronteira com o Brasil, Venezuela e Suriname, além de ter costa banhada pelo Oceano Atlântico. Mas o que a torna realmente singular são seus traços culturais e históricos.

Foi colônia britânica até 1966, quando conquistou a independência e manteve o inglês como idioma oficial.

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Por isso, é um dos poucos países sul-americanos onde se dirige pela esquerda, herança do período colonial.

O críquete é o esporte favorito, em vez do futebol. E, embora esteja no continente sul-americano, a Guiana tem alma caribenha — com música calipso, carnaval de rua e uma mistura religiosa que inclui templos hindus, igrejas e mesquitas.

Sua capital, Georgetown, preserva a arquitetura do domínio britânico. A catedral de São Jorge, toda feita em madeira, é um símbolo da cidade. O Stabroek Market, com seu grande relógio, abriga barracas de frutas, artesanato e produtos locais.

Geografia, diversidade e floresta

Com cerca de 790 mil habitantes, a Guiana é o país menos populoso da América do Sul.

Quase metade dessa população vive em Georgetown, onde predominam descendentes de indianos.

O restante se distribui ao longo de uma estreita faixa litorânea no norte do território, que não ultraa 70 quilômetros de largura.

O nome Guiana vem do termo indígena que significa “terra das muitas águas” — e a definição faz sentido.

O país tem inúmeros rios, muitos deles navegáveis, além de áreas de floresta densa. Cerca de 70% do território é coberto pela floresta amazônica.

No centro do país, o planalto das Guianas abriga o Monte Roraima, uma formação geológica que também se estende pela Venezuela e pelo Brasil.

A população é extremamente diversa: há descendentes de africanos, europeus, chineses, indígenas e, principalmente, indianos.

A descoberta que mudou tudo

Durante décadas, a Guiana foi um país de economia rural, com base na agricultura e mineração. A cana-de-açúcar, arroz e mandioca estavam entre os principais cultivos.

O país também exportava bauxita, usada na produção de alumínio. Tudo isso mudou em 2015, com uma descoberta feita em alto-mar.

A gigante petrolífera americana ExxonMobil, em parceria com a Hess Corporation e a chinesa CNOOC, encontrou reservas gigantescas de petróleo no bloco offshore chamado Stabroek, localizado a mais de 190 quilômetros da costa guianense. A partir daí, o país entrou no radar global do setor energético.

Estima-se que a Guiana tenha mais de 11 bilhões de barris de petróleo recuperáveis. A produção começou oficialmente em dezembro de 2019 e não parou de crescer.

Em 2024, o país já produzia mais de 600 mil barris por dia, com meta de chegar a 1,2 milhão até 2027.

Para comparação: esse volume colocaria a Guiana à frente de países tradicionais do petróleo, como a Noruega.

Em termos proporcionais, nenhum outro país no mundo experimentou uma aceleração tão rápida na produção de petróleo nos últimos anos.

O boom do petróleo e o impacto no PIB

O impacto foi imediato. O PIB da Guiana cresceu mais de 60% em 2022, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), tornando-se a economia de crescimento mais acelerado do planeta naquele ano.

Em 2023 e 2024, o crescimento seguiu elevado, impulsionado pelo aumento da produção e pela alta dos preços internacionais do barril.

A Guiana criou um fundo soberano, o Natural Resource Fund (NRF), para gerir os recursos obtidos com o petróleo.

Esse fundo recebe uma porcentagem dos royalties e lucros das empresas operadoras.

Ele é supervisionado por um comitê público e tem como objetivo financiar projetos de desenvolvimento, infraestrutura e programas sociais.

Mesmo assim, ainda há críticas. Parte da população continua vivendo em condições precárias, e muitos temem que a riqueza do petróleo beneficie apenas uma elite.

Há também alertas sobre riscos de corrupção e dependência excessiva do setor energético.

Desafios sociais e ambientais

Além das questões econômicas, há preocupações ambientais. A maior parte do petróleo está localizada em águas profundas próximas à região do Essequibo — uma área de floresta preservada e biodiversidade riquíssima.

Organizações ambientais alertam para os riscos de derramamentos e impactos sobre espécies marinhas e costeiras.

A disputa territorial com a Venezuela também é um fator de tensão. O governo venezuelano reivindica a região de Essequibo, que representa cerca de dois terços do território da Guiana e onde estão localizadas parte das jazidas de petróleo.

Embora a Corte Internacional de Justiça tenha se posicionado favoravelmente à Guiana em 2023, a tensão diplomática continua.

Outro desafio está na diversificação econômica.

Especialistas apontam que o país precisa investir em educação, tecnologia e infraestrutura para não depender apenas do petróleo — evitando o chamado “doença holandesa”, quando outros setores da economia são prejudicados pelo excesso de foco nos recursos naturais.

O futuro promissor — e incerto

A Guiana se tornou, em menos de uma década, uma peça estratégica no tabuleiro da energia global. Grandes empresas continuam investindo no país, novos blocos estão sendo licitados, e a capacidade de refino local deve aumentar nos próximos anos. O governo também busca ampliar a produção de gás natural associado e projetos de energia renovável.

O país, que antes era lembrado por sua floresta, cultura caribenha e influência indiana, agora é visto como um novo polo do petróleo.

Mas os desafios são proporcionais às oportunidades. Manter o equilíbrio entre crescimento, preservação ambiental e justiça social será fundamental para que a Guiana transforme essa riqueza em prosperidade duradoura.

A Guiana reúne contrastes impressionantes: uma capital colonial cercada por floresta, uma população que adora críquete e Bollywood, e uma economia rural transformada pelo petróleo.

Em um continente dominado por falantes de espanhol e português, o país se destaca com seu inglês oficial, música caribenha e diversidade religiosa.

Agora, com reservas bilionárias no subsolo do Atlântico, a Guiana pode redesenhar não apenas seu próprio futuro, mas também o cenário energético mundial.

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Guilherme
Guilherme
02/05/2025 18:17

O país destacado no mapa é a Guia a sa e não a Guiana

ir Gemaque
ir Gemaque
02/05/2025 21:31

Trabalhei no país na área da mineração pela Paranapanema, na mina de Tasauyne, o avião nos deixava em bamarumma de lá íamos de voadeira até a mina.

Silvino Vieira
Silvino Vieira
04/05/2025 21:08

O mapa mostrado não pega a região da Guaina, mas sim o Suriname, a Guiana sa e ainda parte do Amapá (Brasil).

Última edição em 1 mês atrás por Silvino Vieira
Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor. Para sugestões de pauta ou qualquer dúvida, entre em contato pelo e-mail [email protected].

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