Mariana Póvoa, aprovada para medicina pela UnB, viu seu sonho virar pesadelo ao ser eliminada nas cotas raciais. Autodeclarada parda, ela foi desclassificada após a banca de heteroidentificação da universidade alegar que ela não se enquadrava nos critérios para cotas. Agora, luta na Justiça para reverter essa decisão.
Conquistar uma vaga em medicina em uma universidade pública é o sonho de milhares de estudantes brasileiros.
Para muitos, esse objetivo exige anos de dedicação e um desempenho acadêmico excepcional. No entanto, para a jovem Mariana Abreu Santos Póvoa, de 20 anos, a realização desse sonho se tornou um verdadeiro pesadelo.
Aprovada no vestibular da Universidade de Brasília (UnB) pelo sistema de cotas raciais, a estudante foi desclassificada após a banca de heteroidentificação da instituição não reconhecê-la como negra.
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Agora, Mariana luta na Justiça para tentar reverter a decisão e garantir seu direito à vaga.
Jovem se declara parda, mas é desclassificada
Mariana sempre se identificou como parda e não se considera uma pessoa branca.
A estudante afirma que, em diversos espaços sociais, é reconhecida como uma mulher negra e nunca teve sua identidade questionada até então.
Apesar disso, a banca de heteroidentificação da UnB considerou que ela não possuía os fenótipos exigidos para concorrer pelo sistema de cotas.
“Desde que me conheço por gente, eu me reconheço como parda. Fiquei chocada com o resultado da banca. A vida inteira me vejo como negra, e um grupo de pessoas fala para mim que sou branca”, desabafou a estudante.
A desclassificação foi baseada na avaliação dos traços fenotípicos da candidata, como cor da pele, textura do cabelo e características faciais.
Mariana relata que os avaliadores apontaram sua pele como branca, nariz e lábios finos, além do cabelo ondulado. “Mas meu cabelo é cacheado, meu lábio é grosso e minha pele é parda”, contestou.
Família recorre à Justiça
Diante da eliminação, a família de Mariana entrou com uma ação judicial contra o Centro Brasileiro de Pesquisa em Avaliação e Seleção e de Promoção de Eventos (Cebraspe), organizador do vestibular da UnB.
O objetivo é tentar anular a decisão da banca e garantir a vaga para a estudante.
Para Mariana, o sentimento é de injustiça. “Vou lutar até o fim pela revisão dessa decisão. É o meu sonho estudar medicina, e não vou desistir“, afirmou.
Como funcionam as cotas raciais na UnB
O sistema de cotas raciais da Universidade de Brasília reserva vagas para candidatos negros (pardos e pretos), com base em critérios fenotípicos.
A autodeclaração não é suficiente para garantir a participação na modalidade, sendo necessária a validação de uma banca examinadora.
Essa comissão é responsável por avaliar se o candidato possui características compatíveis com as de um indivíduo negro, levando em consideração aspectos como:
- Cor da pele;
- Textura do cabelo;
- Características faciais.
O objetivo do processo é evitar fraudes e garantir que as cotas beneficiem quem realmente sofre com o racismo estrutural no Brasil.
A posição da Universidade de Brasília
Em nota, a UnB afirmou que o processo de heteroidentificação seguiu rigorosamente as normas estabelecidas no edital do vestibular, garantindo transparência e imparcialidade na seleção.
A instituição reforçou que não há possibilidade de reavaliação istrativa da decisão, uma vez que não foi identificada qualquer irregularidade no processo.
“A comissão atuou conforme os critérios estabelecidos no edital, analisando exclusivamente as características fenotípicas da candidata e concluindo que ela não se enquadrava nos requisitos para concorrer às vagas reservadas a pessoas negras”, declarou a UnB.
Debate sobre os critérios raciais
O caso de Mariana reacendeu o debate sobre os critérios utilizados para definir quem pode ou não ser beneficiado pelas cotas raciais.
Especialistas afirmam que a definição da identidade racial no Brasil é complexa e envolve fatores históricos, sociais e culturais.
Pesquisadores destacam que, embora o fenótipo seja um critério essencial para a política de cotas, também é fundamental considerar o contexto social de cada indivíduo.
“Muitos pardos sofrem racismo, mesmo que sua aparência não seja tão marcada por traços negros”, explica o antropólogo José Luiz Martins.
A história de Mariana reflete um dilema cada vez mais comum nos processos seletivos que utilizam cotas raciais.
Enquanto isso, ela segue aguardando uma decisão judicial que pode definir o rumo de sua vida acadêmica e profissional.