Descoberta arqueológica revela uma construção monumental feita por povos antigos há quase 6.000 anos, demonstrando grande habilidade no uso de pedras gigantes.
Há quase seis mil anos, muito antes das pirâmides do Egito serem erguidas, uma civilização misteriosa construiu uma estrutura monumental com pedras colossais de até 150 toneladas. Como esses povos nativos, sem ferramentas de metal ou tecnologia avançada, moveram e encaixaram blocos tão gigantescos?
O que motivou essa construção impressionante? As respostas estão escondidas em um dos sítios arqueológicos mais enigmáticos da história.
Trata-se do Dólmen de Menga, localizado em Antequera, na Espanha, sendo uma das estruturas megalíticas mais impressionantes do mundo. Construído por volta de 3.800 a.C., ele é mais antigo que as pirâmides do Egito.
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Um estudo publicado na revista Scientific Reports, do grupo Nature, revelou detalhes sobre a origem e o transporte das pedras colossais utilizadas nessa construção.
Pesquisadores da Universidade de Sevilha, liderados por José Antonio Lozano, do Instituto Espanhol de Oceanografia – CSIC, participaram da pesquisa.
O estudo utilizou mapeamento geológico de alta resolução, análises petrográficas e estratigráficas para determinar a procedência das pedras do monumento.
A equipe concluiu que os blocos gigantes, incluindo a maior delas, Cobija 5, de aproximadamente 150 toneladas, foram extraídos de pedreiras situadas no Cerro de La Cruz. Esse local fica a cerca de um quilômetro em linha reta a oeste do Dólmen de Menga.
a ) Representação artística da atividade extrativa para a extração do cume C-5 na Pedreira Cerro de la Cruz
b ) Aspecto da espessura e formato do cume C-5, do e de parte do ortóstato O-10 e da estrutura tumular.
c ) Morfologia convexa do topo do cume C-5 e espessura da estrutura tumular.
Pedra macia e avanço tecnológico
As pedras usadas são principalmente calcarenitos, uma rocha sedimentar detrítica mal cimentada. Essa característica as torna comparáveis às chamadas “pedras macias” usadas na engenharia civil moderna.
O estudo sugere que a escolha desse material indica o uso de novas tecnologias na época. O transporte das pedras ocorreu em direção descendente, com uma inclinação média de 22°, facilitando o deslocamento até o local final.
A presença de fraturas naturais nas pedreiras ajudou na extração e no transporte das pedras. O estudo destaca que as comunidades do Neolítico Tardio possuíam um conhecimento avançado das propriedades geotécnicas das rochas e do solo.
Elas evitaram o usoo de margas e argilas para a localização do megalito e escolheram substratos adequados para garantir a estabilidade da estrutura.
Planejamento detalhado e logística complexa
A construção do Dólmen de Menga exigiu um planejamento intensivo e uma logística precisa. A movimentação das pedras, algumas com dezenas de toneladas, necessitou de técnicas sofisticadas.
Estima-se que a carpintaria utilizada no processo de transporte e elevação das rochas tenha exigido grandes quantidades de madeira.
A construção de rampas e caminhos específicos para o deslocamento dos blocos foi fundamental. Cada pedra foi transportada com cuidado para evitar danos, dado que os calcarenitos são relativamente frágeis. O estudo sugere que a organização dessa operação mobilizou um grande contingente de trabalhadores e recursos materiais.
Um dos aspectos mais notáveis do monumento é a Cobija 5, a maior pedra usada na estrutura. Localizada na parte de trás do templo megalítico, sua posição destaca a complexidade da construção e a habilidade dos construtores da época.
Esse elemento reforça a ideia de que Menga representa uma das maiores conquistas da engenharia megalítica na pré-história da Ibéria e da Europa.
Conhecimento avançado das rochas e do solo
A localização das pedreiras foi um fator essencial na construção do Dólmen de Menga. O estudo mostra que os construtores tinham um conhecimento avançado sobre os materiais utilizados.
Eles evitaram o uso de rochas pouco consolidadas e selecionaram cuidadosamente o solo para a base da estrutura.
Para garantir a estabilidade e a conservação do monumento, os construtores criaram um monte impermeável. Esse método evitou infiltração de água e ajudou a preservar as pedras macias.
Além disso, foram utilizados pilares estruturais para reforçar a construção e garantir sua longevidade. Essa abordagem revela um conhecimento sofisticado da engenharia e da arquitetura megalítica.
Patrimônio Mundial da UNESCO
O Dólmen de Menga faz parte do Sítio dos Dólmens de Antequera, declarado Patrimônio Mundial da UNESCO em julho de 2016.
Esse reconhecimento reforça sua importância histórica e arqueológica. O monumento é considerado a maior estrutura megalítica da Europa Ocidental, superando em idade as pirâmides do Egito.
A técnica de construção empregada no Dólmen de Menga também o diferencia de outros monumentos megalíticos, como Stonehenge, no Reino Unido. Enquanto Stonehenge teve sua primeira fase de construção por volta de 3100 a.C., o Dólmen de Menga foi erguido cerca de 300 anos antes. Além disso, as técnicas empregadas na seleção do solo e no transporte das pedras mostram um nível avançado de planejamento e execução.
A descoberta sobre a origem das pedras e a logística envolvida na construção do Dólmen de Menga amplia o conhecimento sobre as sociedades do Neolítico. O estudo mostra que essas comunidades possuíam uma compreensão sofisticada da geologia e das técnicas de engenharia. A complexidade da obra reforça a importância desse monumento como um dos maiores feitos da pré-história europeia.
A pesquisa conduzida pela equipe de José Antonio Lozano destaca a capacidade dessas civilizações antigas em desenvolver soluções inovadoras para a construção de monumentos duradouros. O Dólmen de Menga permanece como um testemunho do avanço tecnológico e da engenhosidade das comunidades neolíticas, consolidando-se como um dos marcos mais importantes da história da humanidade.
Fotos do lugar pf