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Fragata USS Constellation: Programa bilionário dos Estados Unidos enfrenta atrasos críticos e incertezas

Escrito por Sara Aquino
Publicado em 18/04/2025 às 15:45
Construção do navio líder da classe Constellation está apenas 10% concluída após quase três anos, levantando dúvidas sobre cronograma, custos e viabilidade do programa naval norte-americano.
Fonte Defesa Naval

Construção do navio líder da classe Constellation está apenas 10% concluída após quase três anos, levantando dúvidas sobre cronograma, custos e viabilidade do programa naval norte-americano.

A primeira fragata da classe Constellation, principal aposta da Marinha dos Estados Unidos para renovar sua frota de escoltas, está apenas 10% concluída — mais de dois anos após o início da construção e quase cinco desde a do contrato inicial.

O dado, revelado por representantes da empresa Fincantieri Marine Group durante a feira Sea Air Space 2025, gerou forte repercussão entre especialistas e legisladores, principalmente diante da ausência de um projeto funcional totalmente aprovado.

O Programa da Fragata Constellation, concebido para acelerar a entrega de navios baseados em projetos europeus já consolidados, sofre agora com atrasos significativos, aumento de custos e questionamentos sobre sua viabilidade.

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Originalmente, a classe seria uma adaptação do modelo europeu FREMM, em operação em diversas marinhas, com modificações mínimas para uso pela Marinha dos EUA. O plano, porém, saiu do curso.

Projeto inacabado e cronograma comprometido

Embora a construção do USS Constellation tenha começado em agosto de 2022 no estaleiro da Marinette Marine, em Wisconsin, pouco progresso físico foi registrado.

Segundo Mark Vandroff, vice-presidente da Fincantieri Marine Group, o projeto funcional do navio ainda está em processo de aprovação pela Marinha — algo que deveria ter sido concluído no início da construção.

“Estamos trabalhando para finalizar o projeto com a Marinha. Isso tem progredido. Fizemos muito progresso no último ano e esperamos ter o projeto funcional concluído aqui no final da primavera, início do verão”, afirmou Vandroff à imprensa presente no evento naval.

Alterações de projeto ampliam custos e atrasos

As adaptações do projeto FREMM para a realidade operacional da Marinha dos Estados Unidos foram muito mais complexas do que o esperado.

A proposta inicial previa que cerca de 85% do navio seria baseado no modelo europeu, com 15% de personalizações.

Hoje, segundo o congressista Rob Wittman, o cenário se inverteu: “Estamos em um ponto de inflexão com a Constellation. Começamos dizendo que pegaríamos o conceito FREMM, 85% concluído, adicionaríamos nossos 15% e então partiríamos direto para a construção. Acreditamos que agora [está] acima do custo, acima do orçamento, porque isso está invertido. Agora, são 15% do projeto original [e] 85% de complementos”, afirmou o parlamentar, que atualmente atua como vice-presidente do Comitê de Serviços Armados da Câmara.

Esse redirecionamento causou impactos profundos no cronograma. A previsão inicial de entrega do primeiro navio, que era 2026, foi postergada para 2029.

Paralelamente, o custo estimado por unidade saltou de US$ 1 bilhão para cerca de US$ 1,4 bilhão.

A promessa do Programa da Fragata Constellation

Quando foi lançado, o Programa da Fragata Constellation representava uma estratégia para acelerar a renovação da frota com embarcações modernas, confiáveis e com menor risco técnico.

Basear o projeto em um navio já testado — como o FREMM, usado pelas marinhas da França, Itália, Egito e Marrocos — era uma forma de garantir previsibilidade orçamentária e técnica.

Além disso, a construção em território norte-americano visava fomentar a indústria naval dos Estados Unidos, duramente afetada nas últimas décadas por desinvestimentos e concorrência internacional.

O estaleiro Marinette Marine, operado pela subsidiária da italiana Fincantieri, foi escolhido para liderar a produção.

Indústria naval dos EUA em crise estrutural

O Programa da Fragata Constellation não é um caso isolado. Os problemas enfrentados refletem uma crise mais ampla na indústria naval dos Estados Unidos.

A escassez de mão de obra qualificada — como soldadores, montadores e eletricistas — tem dificultado o cumprimento de cronogramas em diversos programas de defesa.

De acordo com Vandroff, o estaleiro de Marinette possui estrutura para construir até duas fragatas por ano. No entanto, o ritmo atual está longe desse objetivo.

“Acho que temos os mesmos problemas que praticamente todos os outros na indústria naval americana. Certamente gostaríamos de mais trabalhadores. Certamente gostaríamos de mais trabalhadores na indústria siderúrgica. Há uma escassez nacional de soldadores, montadores navais e, em menor grau, eletricistas. Temos feito progressos nisso, mas esse é um dos desafios que estamos enfrentando, assim como qualquer outro estaleiro.”, pontuou.

O governo federal também reconhece o problema. Uma ordem executiva recente do ex-presidente Donald Trump, intitulada “Restaurando o Domínio Marítimo dos Estados Unidos”, denuncia a decadência da capacidade industrial naval do país e pede um plano nacional para recuperar competitividade frente a rivais como a China, que hoje responde por cerca de metade da construção naval global.

Congresso pressiona por respostas e alternativas

Parlamentares norte-americanos vêm manifestando preocupação crescente com os rumos do Programa da Fragata Constellation.

Há pressões para que o Departamento de Defesa apresente soluções concretas para reverter os atrasos e conter os custos.

Entre as opções discutidas está a contratação de um segundo estaleiro para auxiliar na produção, ou até mesmo a reformulação completa do projeto, caso os riscos se tornem insustentáveis.

“A questão é: estamos em um ponto em que nos recuperamos rapidamente e voltamos aos trilhos, voltamos ao cronograma, voltamos ao orçamento — não sei se seria possível inventar um cronograma – ou você diz que talvez estejamos muito avançados nisso e seguimos em uma direção diferente. A Marinha terá que fazer essa pergunta agora. Ela não pode adiar isso para o futuro,”, afirmou Wittman.

O Secretário da Marinha, John Phelan, se pronunciou publicamente sobre o assunto durante a Sea Air Space 2025.

Em tom direto, Phelan prometeu eliminar ineficiências e responsabilizar os envolvidos na execução dos programas navais.

“Estabeleceremos cronogramas realistas e exequíveis e nos comprometeremos com eles. Eliminaremos o desperdício e as ineficiências que drenam recursos sem gerar resultados. Exigiremos responsabilidade de nossa empresa acionária, porque cada dólar, cada dia… conta”, afirmou o secretário, sinalizando uma maior fiscalização sobre o andamento do Programa da Fragata Constellation.

Futuro incerto para o USS Constellation

Com apenas 10% de construção concluída e um projeto ainda em aprovação, o USS Constellation enfrenta um futuro incerto. A entrega da embarcação, prevista agora para 2029, depende da superação de obstáculos técnicos, industriais e políticos.

O que começou como uma iniciativa de baixo risco tornou-se um exemplo clássico de como a execução mal planejada pode comprometer até os melhores conceitos.

A Marinha dos Estados Unidos terá que decidir, em breve, se dobrará sua aposta no programa ou se buscará rotas alternativas para suprir sua necessidade por fragatas modernas e operacionais.

O Programa da Fragata Constellation deveria marcar uma nova era para a Marinha dos Estados Unidos — moderna, eficiente e baseada em soluções já testadas internacionalmente.

Contudo, a realidade aponta para o oposto: cronogramas falhos, custos inflados, estrutura industrial debilitada e um navio que avança a os lentos.

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Sara Aquino

Farmacêutica Generalista e Redatora. Escrevo sobre Empregos, Cursos, Ciência, Tecnologia e Energia. Apaixonada por leitura, escrita e música.

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