Fracasso do metaverso força Facebook a redirecionar bilhões em parceria com empresa bélica; realidade aumentada vira foco estratégico.
A Meta, conhecida por comandar redes sociais como Facebook, WhatsApp e Instagram, deu um o inesperado rumo ao setor de defesa norte-americano. Em uma jogada que surpreendeu analistas e reacendeu discussões éticas sobre o envolvimento de gigantes da tecnologia com o aparato militar, a empresa anunciou uma aliança estratégica com a Anduril Industries. O objetivo? Desenvolver soluções de realidade estendida (XR) para uso militar, incluindo um projeto chamado Eagle Eyes, voltado ao aprimoramento de percepção e controle no campo de batalha.
Essa parceria não apenas amplia o alcance das tecnologias XR, mas também simboliza a reconciliação entre Mark Zuckerberg e Palmer Luckey, fundador da Oculus e atual CEO da Anduril, que havia sido demitido da Meta em 2016 por questões políticas.
Um reencontro político e tecnológico
O anúncio marca o fim de um distanciamento de quase uma década entre Zuckerberg e Luckey. Este último foi desligado da Meta após vir à tona que havia doado a um comitê pró-Trump que financiou outdoors pedindo a prisão de Hillary Clinton. A repercussão foi intensa, e Luckey classificou o episódio como um “assassinato por redes sociais”. Desde então, manteve-se distante da antiga empresa, focando seus esforços em aplicar tecnologia de ponta no setor de defesa através da Anduril.
-
Arqueólogos descobrem povo extinto de 6.000 anos na Colômbia com DNA diferente e jamais visto, sem descendentes vivos conhecidos, quem são eles?
-
De hacker condenado por tentar extorquir a Apple com dados de usuários a executivo contra fraudes: o jovem de 22 anos que deu a volta por cima em uma reviravolta surpreendente
-
Nova tecnologia que você vai querer ter na sua casa imprime solar em mochilas e celulares
-
Adesivo revolucionário promete energia solar em qualquer superfície e transforma parede, carro, janela e mais, em solar
Agora, com a reaproximação oficializada, as duas empresas trabalham juntas no projeto Eagle Eyes, voltado à criação de dispositivos XR capazes de oferecer visão aumentada e controle intuitivo de plataformas autônomas para soldados. Em entrevista ao podcast Core Memory, Luckey afirmou que sua missão “sempre foi transformar combatentes em tecnomagos — e os produtos que estamos construindo com a Meta fazem exatamente isso”.
Zuckerberg, por sua vez, declarou à revista Tablet que ficou triste com a saída de Luckey da empresa, e o executivo Andrew Bosworth, da Meta, chegou a emitir um pedido público de desculpas, prontamente aceito por Luckey. Essa reconciliação coincide com o discurso atual de Zuckerberg, que tem defendido o retorno às “raízes da Meta” com foco em liberdade de expressão — embora o portal Intelligencer questione se esse posicionamento se manteria caso um executivo apoiasse um comitê anti-Trump.
Investimentos pesados, retorno incerto
Desde que mudou de nome e direcionou sua estratégia para o metaverso, a Meta já investiu quase US$ 100 bilhões em tecnologias de realidade virtual (VR) e realidade aumentada (AR). Os avanços técnicos foram significativos, incluindo melhorias em dispositivos vestíveis e em pesquisas ópticas, mas os resultados financeiros não acompanharam.
Com essa nova parceria, a Meta pode finalmente monetizar parte dessa produção tecnológica. A aplicação militar surge como uma rota estratégica diante da estagnação do setor de consumo. Vale lembrar que a Microsoft enfrentou sérias dificuldades com o contrato de US$ 22 bilhões que previa a entrega de capacetes HoloLens para o Exército dos EUA. Relatos indicavam que os dispositivos causavam náuseas e desconforto em soldados — falhas que forçaram a redistribuição do projeto para a Anduril, empresa que agora compartilha conhecimento com a Meta.
Essa aliança também permite que Zuckerberg reposicione a empresa como fornecedora relevante de soluções tecnológicas para a defesa, aproveitando o know-how acumulado com a Oculus e outras divisões de hardware.
Quando as big techs vão à guerra
A entrada da Meta no setor militar segue uma tendência que já vem se consolidando há anos no Vale do Silício. Gigantes como Google e Amazon hoje mantêm contratos robustos com o Departamento de Defesa dos EUA e com agências como a NSA (Agência de Segurança Nacional).
O Google, por exemplo, deixou de ser “apenas” um motor de busca para se tornar parceiro direto em projetos de segurança nacional. A Amazon, que nasceu como livraria virtual, já fornece infraestrutura digital e computação em nuvem ao setor militar. Era difícil imaginar, em 2012, antes da abertura de capital do Facebook, que a empresa de Zuckerberg também se tornaria parte desse jogo — mas os acontecimentos da última década mostraram que, quanto mais crescem, mais essas empresas se aproximam da lógica de contratos governamentais de defesa.
A Anduril, inclusive, é uma das representantes mais visíveis da nova geração de empresas de defesa, combinando visão de máquina, IA e sensores para monitoramento de fronteiras, operações autônomas e vigilância avançada.
Liberdade ou vigilância?
A parceria entre Meta e Anduril ocorre em um contexto de grande ambiguidade pública. De um lado, cresce a pressão por desenvolver sistemas de inteligência artificial de uso geral, capazes de operar desde assistentes virtuais até algoritmos de reconhecimento facial em ambientes hostis. De outro, aumentam as preocupações éticas e de privacidade sobre o uso dessas tecnologias.
Afinal, até que ponto é aceitável que a mesma empresa que gerencia suas mensagens no WhatsApp também forneça sistemas de controle e vigilância ao Exército? Ou que a IA por trás do seu feed do Instagram esteja sendo usada para desenvolver sistemas militares autônomos?
Segundo análise do Intelligencer, a questão central é se o público ará a enxergar empresas como a Meta menos como Apple e mais como Raytheon, uma das maiores fornecedoras de armamentos do planeta. Essa transformação pode gerar resistências — ou ser naturalizada com o tempo, conforme as fronteiras entre tecnologia de consumo e defesa forem se dissolvendo.
Um caminho sem volta?
Para Zuckerberg e os demais líderes do complexo tecnológico-industrial dos EUA, essa virada rumo à defesa parece irreversível. A Meta agora se posiciona como um ator relevante em projetos de segurança e operações militares — e isso exige lidar com os dilemas que acompanham esse território: transparência, ética, controle democrático e percepção pública.
Em um mundo onde o digital e o bélico se misturam cada vez mais, a pergunta que fica é: estamos preparados para viver sob a influência de empresas que constroem tanto os nossos perfis sociais quanto as armas do futuro?