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Fábrica da BYD nem começou a operar no Brasil e já enfrenta autuação por trabalho com condições análogas à escravidão

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 05/06/2025 às 18:01
Fábrica da BYD na Bahia é investigada por trabalho análogo à escravidão e irregularidades na contratação de trabalhadores chineses. Saiba mais!
Fábrica da BYD na Bahia é investigada por trabalho análogo à escravidão e irregularidades na contratação de trabalhadores chineses. Saiba mais!

Fábrica da BYD na Bahia é investigada por trabalho análogo à escravidão e irregularidades na contratação de trabalhadores. Saiba mais!

Uma investigação do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), por meio da Superintendência Regional do Trabalho na Bahia (SRTE/BA), revelou um esquema preocupante envolvendo a fábrica da montadora chinesa BYD em Camaçari (BA).

Entre dezembro de 2024 e maio de 2025, fiscais realizaram diversas diligências no canteiro de obras e nos alojamentos dos trabalhadores migrantes que construíam a unidade industrial da empresa.

De acordo com a fiscalização, 471 trabalhadores chineses foram trazidos ao Brasil de maneira irregular, e 163 deles foram resgatados em condições análogas à escravidão.

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Os depoimentos colhidos e os documentos analisados indicam que a BYD teve papel direto na contratação irregular e na manutenção dessas condições degradantes.

Relação empregatícia disfarçada e fraude migratória

Apesar de apresentar contratos terceirizados, a montadora atuava como empregadora direta, configurando vínculo empregatício conforme o artigo 3º da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

Os auditores-fiscais destacaram a subordinação estrutural dos trabalhadores à empresa, que exercia comando direto e contínuo, o que descaracteriza qualquer tentativa de ocultar a relação empregatícia.

Além disso, foi identificada uma fraude contra as autoridades migratórias brasileiras.

Segundo os fiscais, a BYD utilizou indevidamente dispositivos legais previstos no Decreto nº 9.199/2017 e na Resolução Normativa nº 03/2017, para mascarar a entrada dos trabalhadores estrangeiros como técnicos especializados, quando, na verdade, desempenhavam funções manuais típicas da construção civil.

Essa manobra tinha o claro objetivo de burlar a legislação migratória e trabalhista do Brasil, facilitando a entrada e a exploração dos funcionários.

Em um dos autos de infração, a inspeção descreve a realidade dos trabalhadores: a tentativa de dar “contornos de tecnicidade” a um serviço que se mostrou “essencialmente manual” e incompatível com os requisitos legais para profissionais técnicos especializados.

Outro documento oficial ressalta as graves irregularidades constatadas, que configuram trabalho forçado e condições análogas à escravidão, com múltiplas violações aos direitos fundamentais previstos na legislação brasileira.

Condições degradantes e trabalho forçado

O trabalho forçado ficou evidente por meio da promessa de salários não pagos, ausência de contratos formais entregues aos trabalhadores e falsas garantias sobre a voluntariedade do emprego e possibilidade de rescisão.

Os chineses foram levados a acreditar que migraram voluntariamente e poderiam rescindir contratos a qualquer momento, o que na prática não ocorria, restringindo severamente sua liberdade.

Há ainda indícios claros de tráfico internacional de pessoas, conforme apontado pelos auditores-fiscais.

As condições degradantes eram visíveis nos alojamentos: os trabalhadores dormiam em camas sem colchões e sem armários para seus pertences, que eram misturados a ferramentas e alimentos.

Em um alojamento, havia apenas um banheiro para 31 pessoas, o que forçava os trabalhadores a acordar às 4h da manhã para se preparar para a jornada.

As cozinhas eram improvisadas e insalubres, com alimentos armazenados perto de materiais de construção, aumentando os riscos à saúde.

A água consumida era fornecida diretamente da torneira, sem qualquer tipo de tratamento, outro fator que compromete a saúde dos trabalhadores.

Além disso, a jornada de trabalho era exaustiva, chegando a um mínimo de 10 horas diárias, sem a concessão regular de folgas.

Um trabalhador acidentado relatou ter ado 25 dias consecutivos sem descanso.

Durante as inspeções, a fiscalização constatou riscos graves à segurança, levando ao embargo de escavações profundas e à interdição parcial de um alojamento e de uma serra circular por falta de dispositivos de proteção.

Também foi identificada a restrição da liberdade de locomoção, com os funcionários precisando de autorização para ir até o mercado.

Fiscalização e impactos da operação

A atuação da fiscalização do trabalho foi decisiva para o resgate dos 163 trabalhadores e para a paralisação imediata das condições abusivas no local.

A operação reforça o compromisso do Estado brasileiro com o combate ao trabalho escravo e a proteção dos direitos trabalhistas.

A BYD Auto do Brasil Ltda. poderá apresentar defesa istrativa contra os autos de infração lavrados.

Caso as multas sejam mantidas, a montadora enfrentará sanções significativas.

Esse caso traz à tona questões importantes sobre o controle da mão de obra estrangeira e a fiscalização nas grandes obras industriais do país.

Segundo especialistas, o Brasil precisa aprimorar seus mecanismos para evitar a exploração de trabalhadores migrantes e garantir a aplicação rigorosa da legislação.

Além dos aspectos legais, o episódio também chama a atenção para as condições humanitárias que rondam a construção civil e a instalação de grandes fábricas no Brasil.

A precariedade no alojamento e o desrespeito à jornada de trabalho não são problemas novos, mas casos como o da BYD evidenciam que ainda há muito a ser feito.

Para denunciar irregularidades trabalhistas e situações semelhantes, o Ministério do Trabalho mantém o Sistema Ipê, que permite registros anônimos, contribuindo para ações fiscais eficazes.

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Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa, agens por canais de TV aberta e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas. Registro profissional: 0087134/SP. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: [email protected]. Não aceitamos currículos!

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