O concreto, considerado um dos materiais mais resistentes da engenharia, está apresentando sinais de desgaste prematuro em túneis rodoviários. A descoberta preocupa autoridades e engenheiros, que buscam soluções para evitar riscos à segurança e custos elevados com manutenção.
Um novo estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Tecnologia de Chalmers, na Suécia, acende o alerta para a degradação precoce do concreto em túneis rodoviários.
A pesquisa analisou as estruturas do túnel de Oslofjord, na Noruega, e revelou um fenômeno inesperado: bactérias presentes na água do mar formam biofilmes que corroem o concreto de forma acelerada.
O papel da água salgada e dos biofilmes
Túneis rodoviários construídos em rochas recebem uma pulverização de concreto nas paredes e tetos.
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Isso cria uma superfície uniforme e segura contra quedas de pedras. No entanto, em locais com proximidade ao mar, como o Fiorde de Oslo, esse concreto está sujeito à chamada “intrusão de água salgada“.
A água do mar transporta bactérias até o concreto, onde elas se fixam e formam colônias conhecidas como biofilmes.
Essas bactérias se alimentam de compostos presentes no concreto e, com o tempo, causam danos significativos.
Segundo o professor Frank Persson, da Chalmers, a degradação pode atingir até um centímetro por ano nas áreas afetadas.
Corrosão mais profunda e rápida
As análises feitas desde 2014 mostraram que a degradação é progressiva e mais acelerada do que se imaginava.
O biofilme torna a superfície do concreto porosa e danificada. Além disso, as bactérias consomem elementos como ferro, manganês, enxofre e nitrogênio, acelerando ainda mais o processo de corrosão da armadura interna do concreto.
Em situações extremas, os pesquisadores observaram que o concreto pode ser corroído em até 10 centímetros no período de cinco anos.
Esse avanço rápido levanta preocupações sobre a durabilidade de estruturas rodoviárias construídas em ambientes marinhos.
Fenômeno global e ainda pouco estudado
O concreto projetado tem sido amplamente utilizado desde a década de 1990. Apesar disso, poucos estudos se dedicaram à biocorrosão em túneis subaquáticos.
A professora Britt-Marie Wilén, também da Chalmers, explica que embora o foco do estudo tenha sido o túnel norueguês, situações semelhantes podem ocorrer em outras partes do mundo.
Ela alerta que o concreto novo, por ter pH elevado, é inicialmente resistente à atividade microbiana. No entanto, com o tempo, o pH natural da estrutura diminui, o que facilita a colonização por bactérias.
Monitoramento é essencial
A principal recomendação dos pesquisadores é manter a vigilância constante sobre essas estruturas. Medir o pH do concreto e observar o fluxo da água subterrânea são medidas fundamentais para prever e conter o avanço dos biofilmes.
O estudo mostrou que fluxos de água subterrânea mais lentos tendem a ter pH mais baixo, o que favorece ainda mais a degradação do concreto.
Já em áreas com maior fluxo, o ácido gerado pelo biofilme pode ser mais facilmente neutralizado, reduzindo o risco.
Outra medida importante sugerida pelos cientistas é monitorar visualmente o concreto. Quando há sinais de material solto ou deteriorado, pode ser necessário aplicar uma nova camada de concreto nas áreas danificadas.
Impacto do ambiente marinho e das mudanças climáticas
O ambiente marinho, segundo os autores, apresenta condições ideais para o desenvolvimento de bactérias. A presença de sal não só favorece o crescimento microbiano como também intensifica a corrosão do reforço metálico presente no concreto.
As mudanças climáticas também surgem como fator preocupante. Com o aumento da temperatura dos oceanos, o pH da água tende a cair, criando um ambiente ainda mais propício para a corrosão.
Essa relação entre temperatura, salinidade e atividade bacteriana poderá intensificar o desgaste das estruturas no futuro.
Novas técnicas revelam microrganismos desconhecidos
Durante a pesquisa no túnel de Oslofjord, os cientistas utilizaram novas técnicas de sequenciamento de DNA e processamento de dados.
Isso permitiu identificar microrganismos até então desconhecidos e entender melhor como eles interagem com o concreto.
Essas descobertas abrem caminho para novas abordagens no monitoramento e na manutenção de túneis subaquáticos.
Segundo os autores, o estudo amplia o conhecimento sobre a biocorrosão e oferece informações valiosas para engenheiros e autoridades responsáveis pela infraestrutura.
Prevenção e segurança continuam como prioridade
Apesar da gravidade do fenômeno, os especialistas garantem que os túneis rodoviários continuam sendo estruturas seguras.
O acompanhamento feito por autoridades norueguesas garante que qualquer dano seja detectado antes que represente risco aos motoristas.
A pesquisa destaca, no entanto, que ignorar os sinais do biofilme pode levar a custos elevados de manutenção e à exposição de usuários a riscos desnecessários. Por isso, os pesquisadores defendem uma política rigorosa de inspeção, prevenção e reparo constante.
Participação internacional no estudo
O artigo publicado na Scientific Reports contou com a participação de Sabina Karačić, Carolina Suarez, Per Hagelia, Frank Persson, Oskar Modin, Paula Dalcin Martins e Britt-Marie Wilén. O trabalho reforça a importância da colaboração internacional no entendimento dos desafios enfrentados por infraestruturas modernas em ambientes adversos.
Por fim, os cientistas lembram que estruturas semelhantes, mesmo em contato com água doce, também podem estar sujeitas à degradação, embora em ritmo mais lento.
Isso reforça a importância de expandir o monitoramento para outras regiões e adaptar estratégias de manutenção às condições locais.