Com R$ 1,1 bilhão de investimento, a Meteoric Resources planeja extrair terras raras em Caldas (MG), prometendo grande produção, mas enfrentando o escrutínio da comunidade local
O Projeto Caldeira, liderado pela mineradora australiana Meteoric Resources em Caldas, Minas Gerais, surge como uma iniciativa de grande potencial econômico para o Brasil no setor de terras raras. Com um investimento anunciado de R$ 1,1 bilhão em três anos, o projeto visa explorar vastas jazidas de argila iônica, ricas nesses minerais críticos.
A perspectiva é suprir de 10% a 15% do mercado global de Elementos de Terras Raras (ETR) e gerar 700 empregos diretos, com início da extração previsto para 2027. No entanto, o empreendimento enfrenta significativas preocupações socioambientais da comunidade local, especialmente quanto a impactos hídricos e risco de contaminação radioativa.
O Projeto Caldeira, uma nova fronteira no Brasil e seus contornos
O Projeto Caldeira está localizado em Caldas, no sudoeste de Minas Gerais, dentro do Complexo Alcalino de Poços de Caldas, uma região rica em minerais. A Meteoric Resources NL, empresa australiana, detém 100% do projeto e foca na exploração de argilas de adsorção iônica (IAC), geologicamente similares aos depósitos do sul da China, mas com potencial para teores mais elevados.
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A planta de produção tem previsão de operar até 2026, com a extração de argila começando em 2027. O licenciamento ambiental visa conclusão em aproximadamente 2,5 anos a partir do início de 2025, com a Licença de Instalação (LI) esperada para o segundo trimestre de 2026.
A relevância estratégica das terras raras do Projeto Caldeira para o mercado global
O investimento no Projeto Caldeira é estimado em R$ 1,1 bilhão. As projeções financeiras são robustas, com um Valor Presente Líquido (VPL) de US$ 1,4 bilhão e Taxa Interna de Retorno (TIR) de 40,4%. Os recursos minerais são vastos, estimados entre 1,1 e 1,5 bilhão de toneladas com teor médio de 2.359 a 2.413 ppm de Óxidos de Terras Raras Totais (TREO).
O projeto prevê a geração de 700 empregos diretos e tem a meta de suprir de 10% a 15% do mercado global de terras raras, posicionando o Brasil como alternativa estratégica à China. A iniciativa já conta com apoio do EXIM Bank dos EUA e um Memorando de Entendimento com a Neo Performance Materials.
Perfil ambiental e os desafios na extração em Caldas
A extração de argila iônica no Projeto Caldeira é apresentada como de menor impacto, sem necessidade de perfuração ou detonação, sem barragens de rejeitos, utilizando empilhamento a seco e preenchimento de cavas. A Meteoric Resources alega que o processo não produzirá resíduo radioativo significativo.
Contudo, a região de Caldas possui um histórico de mineração de urânio, o que gera preocupações locais com a possível presença de materiais radioativos de ocorrência natural (NORM) e contaminação hídrica. A gestão de recursos hídricos e a avaliação detalhada de NORM, sob a supervisão da CNEN, são cruciais. O Estudo de Impacto Ambiental (EIA) foi protocolado em maio de 2024.
A comunidade de Caldas e o projeto de terras raras
A população de Caldas manifesta apreensão quanto a impactos na água, saúde pública e potencial contaminação radioativa. Há uma reivindicação por maior participação popular no processo de licenciamento ambiental, atualmente em fases iniciais.
A Meteoric Resources afirma ter “envolvimento comunitário de apoio” e um “nível de aceitação da comunidade de 89%”, baseado em um mapeamento social. No entanto, a profundidade dessas preocupações e o legado da mineração de urânio na região exigem um diálogo transparente e contínuo para construir uma genuína licença social para operar.
Equilibrando oportunidades e riscos na mineração de terras raras
O Projeto Caldeira recebeu status de “alta prioridade” do governo de Minas Gerais, o que pode agilizar aprovações. O licenciamento ambiental está sob responsabilidade da SEMAD, a outorga de água pelo IGAM, e a supervisão de NORM pela CNEN.
O sucesso do projeto dependerá da capacidade da Meteoric em equilibrar o potencial econômico com uma gestão socioambiental exemplar. A resolução das preocupações locais é fundamental. O empreendimento pode se tornar um estudo de caso para a mineração de terras raras no Brasil, mas exige um compromisso firme com a sustentabilidade e o valor compartilhado com a comunidade.