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Durante a Guerra Fria, os soviéticos testaram um trem movido a jato em altíssima velocidade — O projeto foi abandonado e hoje a máquina enferruja esquecida em um ferro-velho

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 02/04/2025 às 14:22
trem movido a jato, trem
Foto: Reprodução

Em plena corrida tecnológica da Guerra Fria, a União Soviética decidiu ousar com um projeto improvável: um trem movido a jato. A ideia era alcançar velocidades impressionantes, mas o experimento logo foi considerado impraticável. Décadas depois, o protótipo enferruja silenciosamente em um ferro-velho, como símbolo de uma era de excessos e invenções ousadas.

Em um pátio de fábrica no norte de Moscou, um estranho vagão enferrujado chama atenção. Parece uma fusão de trem e avião. O nariz lembra um jato de caça. No topo, dois motores de aeronave completam a aparência incomum. Trata-se do Speedy Wagon Laboratory, o lendário trem soviético movido a jato.

Um projeto tão ousado quanto improvável, que hoje repousa como um fantasma de uma era marcada pela corrida tecnológica da Guerra Fria.

Uma ideia maluca nascida da rivalidade

Na década de 1970, a União Soviética ainda vivia sob o brilho do feito de Yuri Gagarin no espaço. Mas o foco não estava apenas nas estrelas.

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Havia uma disputa em solo firme: os trilhos. Enquanto o mundo falava dos trens-bala japoneses, engenheiros soviéticos queriam algo ainda mais veloz.

A inspiração veio do outro lado do Atlântico. Em 1966, os Estados Unidos testaram o M-497 Black Beetle, um trem com motores a jato que chegou a 296 km/h.

O experimento era simples na teoria: pegar um vagão leve e adaptar dois motores de avião na frente. E funcionou. O modelo nunca foi adotado em larga escala, mas deixou uma marca. Literalmente.

Os soviéticos não quiseram ficar atrás. Resolveram montar sua própria versão. Pegaram um vagão elétrico ER22, adaptaram dois motores turbojato AI-25 do avião Yak-40, e assim nasceu o Speedy Wagon Laboratory.

Um trem experimental, com nariz aerodinâmico, cone de cauda e freios reforçados. Tudo para alcançar altas velocidades.

Rápido, barulhento e caro

O projeto era ousado. E por um tempo, promissor. Após testes com modelos em túnel de vento, o trem real entrou nos trilhos em 1970.

Atingiu velocidades de até 260 km/h. Na época, era mais rápido que os primeiros trens-bala do Japão. Um feito e tanto.

Mas os problemas surgiram logo. Primeiro, o custo. Os motores a jato consumiam combustível demais. Operar o trem se tornava caríssimo.

Depois, a estabilidade. Trilhos normais não foram feitos para ar explosões de jato. Pequenas falhas nos trilhos se tornavam riscos enormes. E por fim, o barulho.

Os jatos eram tão altos que incomodavam quem morava perto da linha. Impossível manter um projeto assim por muito tempo.

Cinco anos até o fim da linha

Mesmo assim, os soviéticos insistiram. Por cinco anos, realizaram testes, até mesmo em trilhos públicos. Mas a realidade era dura.

A infraestrutura da União Soviética não acompanhava a ambição do projeto. Os trilhos precisariam ser completamente reformados, com concreto reforçado, para que o trem pudesse circular com segurança.

Ao mesmo tempo, a economia do país já dava sinais de dificuldade. Havia outras prioridades. O sonho do trem a jato foi ficando de lado, até ser desativado.

Na década de 1980, o Speedy Wagon Laboratory foi deixado em um pátio ferroviário em São Petersburgo, onde começou a enferrujar. Um fim silencioso para uma máquina barulhenta.

O Black Beetle americano também não teve vida longa. Mas até hoje detém o recorde de trem a jato mais rápido da América do Norte.

Nenhum dos dois projetos se tornou realidade comercial. Eram ideias boas no papel, difíceis na prática.

Um legado estranho, mas útil

Apesar de tudo, o experimento soviético deixou um legado. Os dados colhidos com os testes ajudaram no desenvolvimento de trens de alta velocidade no futuro. Um exemplo são os trens Troika, usados na Rússia anos depois.

Em 2008, a parte frontal do trem foi recuperada. Recebeu nova pintura e foi colocada sobre um pedestal, na frente da fábrica Tver Carriage Works.

Virou monumento. Um lembrete de uma época em que engenheiros tentavam ir além, mesmo sem saber direito para onde.

Hoje, os trens-bala são comuns em países como Japão, França e China. Eles usam eletricidade, trilhos modernos e projetos realistas.

O Speedy Wagon Laboratory, por outro lado, permanece como uma lembrança de quando a ambição falou mais alto que a viabilidade. Um protótipo que nunca virou produto. Mas que ousou acelerar antes da hora.

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor. Para sugestões de pauta ou qualquer dúvida, entre em contato pelo e-mail [email protected].

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