Pesquisas científicas e parcerias estratégicas aceleram o uso da macaúba como alternativa sustentável ao óleo de soja na geração de combustíveis renováveis
Graças aos avanços científicos e ao uso de tecnologias inovadoras, a macaúba (Acrocomia aculeata), palmeira nativa do Brasil, vem ganhando destaque. Por isso, começa a se consolidar como fonte promissora de biocombustíveis no Nordeste. Embora ainda cultivada de forma silvestre, essa planta tem rendimento de óleo até dez vezes maior que a soja, atual referência do setor.
Desde 2023, a Acelen Renováveis e a Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) investem em pesquisas para superar barreiras da germinação da macaúba. Como resultado, desenvolveram um novo protocolo fisiológico que eliminou a escarificação e elevou a taxa de germinação para mais de 50%.
O sistema usa controle de temperatura e umidade, o que garante uniformidade e mais eficiência ao processo. E com apoio de equipe especializada, as mudas ficaram mais saudáveis, vigorosas e com menor contaminação, reduzindo custos e tempo.
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Bahia lidera com planta industrial voltada para o biocombustível
A primeira planta industrial está em construção na Bahia. Ela deverá produzir, a partir de 2025, cerca de 1 bilhão de litros de combustíveis renováveis por ano.
O cultivo será realizado em áreas de pastagens degradadas, sem competir com a produção de alimentos, o que atende aos critérios socioambientais exigidos pelo Ministério da Agricultura e Pecuária. O projeto aproveita o clima semiárido e a infraestrutura disponível na região.
Cada hectare a até 400 plantas, exigindo pouca irrigação e proporcionando colheitas semestrais com o uso de plataformas mecanizadas. Todo o processo, desde a germinação até a colheita, é realizado com técnicas que reduzem o impacto ambiental e aumentam a produtividade.
Segundo a Acelen, o plantio será distribuído por municípios como Barreiras, Correntina, Luís Eduardo Magalhães e Caetité, na Bahia. Além disso, haverá cultivo em áreas do Norte e Noroeste de Minas Gerais, como os vales do Jequitinhonha e São Francisco.
Centro tecnológico em Montes Claros inicia extração em escala industrial
Em fevereiro de 2025, a Acelen anunciou a primeira extração industrial de óleo de macaúba em fluxo contínuo. O processo foi realizado no Centro de Inovação Tecnológica Agroindustria, em Montes Claros.
A tecnologia exclusiva, desenvolvida internamente e com parceiros, possibilitou o avanço ao ampliar a produção para além dos testes laboratoriais.
Com investimento total de R$314 milhões, sendo R$ 258 milhões financiados pelo BNDES, a inauguração do parque está prevista para o fim do primeiro semestre de 2025.
A expectativa é que o projeto atinja plena maturidade entre 15 e 20 anos.
A refinaria no Polo Industrial extrairá o óleo e o enviará para outra unidade, que o transformará em diesel renovável (HVO) e combustível sustentável de aviação (SAF).
Nordeste amplia sua participação no setor energético nacional
O protagonismo do Nordeste na produção de biocombustíveis é crescente. Dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) revelam que, em 2023, a região respondeu por aproximadamente 18% da produção nacional de biodiesel.
A Bahia, em especial, produziu mais de 850 milhões de litros e consolidou-se como o terceiro maior polo do país. Além disso, o cultivo de oleaginosas para bioenergia no Nordeste aumentou 9,8% em 2023, segundo informações do Ministério da Agricultura e Pecuária.
Com a incorporação da macaúba na cadeia produtiva, a expectativa é elevar ainda mais esse desempenho. Os pequenos produtores impulsionarão esse movimento, já que dedicarão cerca de 20% dos 180 mil hectares previstos para o plantio à agricultura familiar.
O novo protocolo de germinação não apenas melhora os índices de produção, mas estabelece um novo padrão de sustentabilidade para o setor energético.
Geração de empregos e estímulo à economia regional
O impacto social e econômico da expansão do cultivo da macaúba também é expressivo. De acordo com um estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV), estima-se a criação de 85 mil postos de trabalho diretos e indiretos, além da movimentação de US$40 bilhões ao longo do projeto.
A estratégia inclui capacitação técnica de agricultores, parcerias com cooperativas locais e incentivo ao desenvolvimento de uma cadeia de suprimentos integrada. Os biocombustíveis produzidos serão do tipo drop in, podendo reduzir até 80% das emissões de CO₂, ao mesmo tempo em que promovem o sequestro de carbono pelas plantações.
Com todas essas iniciativas, a macaúba deixa de ser apenas uma planta nativa. Ela se transforma em agente central de uma nova fase da transição energética brasileira, unindo inovação tecnológica, desenvolvimento regional e preservação ambiental.