Sustentabilidade virou exigência na construção civil: projetos com foco ambiental, social e de governança ganham espaço e moldam o futuro da infraestrutura no Brasil e no mundo
A engenharia civil está mudando. E rápido. Impulsionada por metas ambientais, pressão de investidores e novas exigências sociais, a infraestrutura do futuro já começou a sair do papel. Projetos com foco em sustentabilidade deixaram de ser tendência para se tornarem regra.
Um relatório da McKinsey & Company, publicado em 2024, revelou que 68% dos investimentos globais em infraestrutura previstos para os próximos cinco anos estão ligados a compromissos ambientais.
A ordem agora é clara: quem não seguir os critérios ESG (ambientais, sociais e de governança) ficará para trás.
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Novas exigências para construir
O engenheiro civil Felipe Girardi, referência em engenharia sustentável no Brasil, afirma que o setor vive uma transformação sem volta. “Não se trata mais de uma tendência futura, é uma realidade presente. Projetos que não nascerem com base nos pilares da sustentabilidade estão fadados à obsolescência”, disse.
De acordo com Girardi, os critérios ESG já interferem em todas as etapas da obra. Desde a escolha dos fornecedores até os desenhos dos projetos, tudo a a incluir preocupações com o meio ambiente, o impacto social e a eficiência.
Ele explica que hoje construir uma ponte ou viaduto vai além dos cálculos técnicos. “Hoje, projetar uma ponte ou um viaduto, por exemplo, exige muito mais do que cálculos estruturais: envolve avaliar o impacto no ecossistema, as emissões de carbono durante a execução e até como aquele ativo vai contribuir para a comunidade local”, destaca.
Exemplo prático no Brasil
Mesmo com entraves regulatórios e de financiamento, o Brasil tem dado os importantes. Um caso citado por Girardi é o Parque Linear do Rio Verde, em Goiânia. O projeto usou técnicas de bioengenharia, recuperação ambiental e drenagem urbana sustentável. Para ele, o país começa a ocupar um lugar de protagonismo, mesmo que ainda de forma discreta.
Materiais ecológicos ganham espaço
Outro avanço importante está nos materiais utilizados. Concretos com menos emissão de carbono, estruturas em madeira engenheirada e pavimentos permeáveis já aparecem em várias obras.
Dados do World Green Building Council mostram que construções sustentáveis podem cortar pela metade o consumo de energia e ainda reduzir os resíduos sólidos gerados.
“Quando incluímos essas soluções ainda na fase de projeto, os ganhos são exponenciais”, afirma Girardi. Ele ressalta também os benefícios financeiros a longo prazo e a valorização da imagem da empresa diante do mercado e da sociedade.
Investidores estão atentos
A transformação no setor da construção não ocorre sozinha. Grandes fundos internacionais têm papel importante. A BlackRock, uma das maiores gestoras de ativos do mundo, anunciou que só investirá em projetos com compromissos ambientais claros. Ou seja, quem não se adapta, fica sem recursos.
A pesquisa Deloitte Engineering & Construction Outlook 2025 reforça isso. Segundo o levantamento, 72% dos executivos do setor já veem os critérios ESG como um diferencial competitivo.
Um novo perfil de engenheiro
Para Girardi, essa nova fase exige também um novo tipo de profissional. O engenheiro de hoje precisa dominar tecnologias como o BIM (Modelagem da Informação da Construção), ter visão sistêmica e sensibilidade social. “A engenharia não pode mais ser apenas técnica — ela precisa ser humana”, afirma.
Essa mudança, segundo ele, a também pelas universidades. “Já temos a tecnologia. O desafio agora é formar pessoas com propósito e visão integrada”, finaliza.
Com informações de Diário do Vale.