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Descoberta de fósseis revela que os répteis surgiram na Terra milhões de anos antes do que se pensava

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 02/06/2025 às 08:09
répteis, fósseis
Foto: Reprodução

Pegadas fossilizadas na Austrália mostram que os répteis surgiram 40 milhões de anos antes do estimado, mudando a história da evolução.

Uma descoberta feita na Austrália pode alterar de forma significativa o entendimento atual sobre a origem dos répteis na Terra. Novas evidências indicam que esses animais surgiram milhões de anos antes do que os cientistas acreditavam até agora.

A revelação vem de pegadas fossilizadas encontradas no distrito de Mansfield, no norte de Victoria, Austrália.

O achado foi liderado pelo professor John Long, da Universidade Flinders, e sua equipe de pesquisadores. As pegadas pertencem a um amniota com patas dotadas de garras, indicando que o animal era provavelmente um réptil. A datação das marcas aponta para o período Carbonífero, aproximadamente 350 milhões de anos atrás.

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Depois que identificamos isso, percebemos que essa é a evidência mais antiga no mundo de animais semelhantes a répteis caminhando em terra”, explicou o professor Long.

Com isso, a origem dos répteis pode ter ocorrido 35 a 40 milhões de anos antes do que o registro anterior indicava no Hemisfério Norte.

Evidências de Gondwana antecipam a evolução

Os dados obtidos sugerem que esses animais podem ter se originado no antigo supercontinente Gondwana, onde hoje fica a Austrália. A pesquisa foi publicada na revista Nature e gerou grande repercussão na comunidade científica.

As pegadas, preservadas em uma placa de rocha, mostram um animal pequeno e atarracado. Segundo o professor Long, o bicho se assemelharia visualmente a um Goanna, uma espécie de lagarto atual. As implicações da descoberta são consideradas profundas para o entendimento da evolução dos tetrápodes.

Todas as linhagens de tetrápodes-tronco e amniotas-tronco devem ter se originado durante o período Devoniano”, afirmou Long.

Ele acrescentou que a evolução dos tetrápodes ocorreu muito mais rápido do que se pensava e que o registro fóssil do Devoniano é bem menos completo do que os cientistas acreditavam anteriormente.

Mudança no registro fóssil conhecido

Até agora, os registros fósseis de amniotas do grupo coroa, que inclui mamíferos, aves e répteis, datavam do Carbonífero Superior, cerca de 318 milhões de anos atrás.

Já os fósseis corporais mais antigos de tetrápodes do grupo coroa eram de aproximadamente 334 milhões de anos, e as pegadas mais antigas tinham cerca de 353 milhões de anos.

Os novos dados obtidos pelas pegadas australianas contradizem essa linha do tempo amplamente aceita.

Agora apresentamos novos dados de trilhas da Austrália que falsificam essa linha do tempo”, explicou o professor Long. A pesquisa contou com a colaboração de especialistas tanto da Austrália quanto de outros países, incluindo um importante artigo publicado na revista Nature.

Décadas de estudo e dedicação

O envolvimento de John Long com a região de Mansfield não é recente. Há 45 anos, ele realizou sua tese de doutorado sobre fósseis encontrados no local. Apenas recentemente, depois de organizar excursões de campo com estudantes da Universidade Flinders, o trabalho ganhou uma nova dimensão.

Durante essas expedições, moradores locais como Craig Eury e John Eason, que também assinam o artigo científico, encontraram uma placa coberta de pegadas.

No início, as marcas foram confundidas com pegadas de anfíbios primitivos. No entanto, uma delas apresentou uma garra curva saindo dos dedos, característica de um réptil, um amniota.

Foi incrível como as trilhas estavam cristalinas na laje rochosa. Ficamos imediatamente animados, e sentimos que estávamos diante de algo grande, mesmo sem ter ideia da verdadeira dimensão da descoberta”, relatou Long.

Tecnologia ajudou a confirmar a descoberta

A equipe de paleontologia da Universidade Flinders contou com a participação da Dra. Alice Clement, que digitalizou as pegadas fósseis e criou modelos digitais detalhados para análise.

Ela trabalhou em estreita colaboração com o professor Per Erik Ahlberg, da Universidade de Uppsala, na Suécia.

Estudamos rochas e fósseis das eras Carbonífera e Devoniana, com foco especial na transição de peixes para tetrápodes”, afirmou a Dra. Clement.

Segundo ela, o objetivo é entender como os corpos e os modos de vida desses animais mudaram à medida que deixaram a água e aram a viver em terra.

O Dr. Aaron Camens, outro coautor do estudo, produziu mapas de calor que ajudaram a identificar detalhes das pegadas com maior clareza. “Um esqueleto pode nos dizer muito pouco sobre o que um animal era capaz de fazer, mas uma pegada registra seu comportamento e mostra como esse animal estava se movendo”, explicou Camens.

Local conhecido por fósseis antigos

Desde 1980, o professor Long estuda fósseis de peixes antigos da região de Mansfield, que pertence ao período Carbonífero, iniciado há cerca de 359 milhões de anos.

A área já havia revelado fósseis importantes, como peixes e tubarões antigos. Porém, sempre se buscou encontrar evidências de animais terrestres.

Durante anos, paleontólogos tentaram localizar essas pegadas, mas sem sucesso. A placa com as marcas finalmente encontrada foi levada ao laboratório e analisada com rigor. “Essa nova trilha fossilizada veio do início do período Carbonífero, e foi importante determinar sua idade com precisão”, disse Long.

Para isso, a equipe comparou as espécies de peixes presentes nessas rochas com outras encontradas em locais bem datados ao redor do mundo. A comparação permitiu restringir a idade do fóssil a uma margem de 10 milhões de anos.

A Dra. Jillian Garvey, da Universidade La Trobe, também colaborou na pesquisa e destacou o impacto da descoberta. “Esta descoberta reescreve essa parte da história evolutiva. Indica que há muita coisa que aconteceu na Austrália e em Gondwana que ainda precisamos descobrir”, afirmou.

A pesquisa contou com a participação do Conselho de Terras e Águas de Taungurung, que colabora nos estudos da bacia de Mansfield desde o início dos anos 2000.

A nova evidência não apenas amplia o conhecimento sobre a origem dos répteis, como também reforça o papel da Austrália e do antigo Gondwana na história evolutiva dos vertebrados terrestres.

Referência: “Earliest amniote tracks recalibrate the timeline of tetrapod evolution” por John A. Long, Grzegorz Niedźwiedzki, Jillian Garvey, Alice M. Clement, Aaron B. Camens, Craig A. Eury, John Eason e Per E. Ahlberg, 14 de maio de 2025, Nature .
DOI: 10.1038/s41586-025-08884-5

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor. Para sugestões de pauta ou qualquer dúvida, entre em contato pelo e-mail [email protected].

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