Fiat 1.8 E.TorQ é um motor que foi um sucesso absoluto, mas há um porém: apenas na Europa. Aqui, ele foi um motor odiado por muitos mecânicos. Entenda os motivos que o tornaram um motor odiado no Brasil.
O Fiat 1.8 E.TorQ é um exemplo curioso de como um mesmo motor pode ter reputações radicalmente diferentes em diferentes mercados. Enquanto na Europa ele ganhou notoriedade como um propulsor confiável, equilibrado e amplamente utilizado por várias montadoras, no Brasil foi rotulado como um motor odiado por mecânicos e criticado por proprietários. Hoje vamos explorar por que esse motor é visto como um sucesso absoluto na Europa, mas considerado um motor odiado no Brasil, com foco especial em seu desempenho, consumo, manutenção e peculiaridades técnicas.
Um motor com duas reputações: sucesso europeu e rejeição brasileira
O Fiat 1.8 E.TorQ foi desenvolvido pela Fiat Powertrain Technologies (FPT) no Brasil, a partir da base do motor Tritec, que era fruto de uma t venture entre a Chrysler e a Rover (então sob controle da BMW). Na Europa, o motor ganhou destaque pela robustez, aplicação versátil e baixo custo de produção. Era utilizado em modelos como o Fiat Bravo e o Lancia Delta.
Contudo, ao chegar ao Brasil em 2010, equipado em modelos como Fiat Linea, Idea, Punto, Palio e Strada, a história foi bem diferente. Logo ganhou fama de motor odiado por mecânicos devido a uma série de dificuldades técnicas, custo elevado de manutenção e desempenho abaixo do esperado para um 1.8 litro.
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Desempenho modesto: números que não impressionam
Apesar da expectativa criada por seu tamanho (1.747 cm³), o Fiat 1.8 E.TorQ entrega cerca de 132 cv com etanol e 130 cv com gasolina, com torque máximo de 18,9 kgfm a 4.500 rpm. Em números absolutos, está longe de ser um motor fraco. Mas quando comparado com concorrentes como o 1.6 THP da PSA (165 cv), seu desempenho é considerado apenas razoável.
Essa performance modesta reflete diretamente na experiência ao volante: aceleração lenta, retomadas arrastadas e uma condução pouco empolgante, especialmente em carros mais pesados como o Fiat Linea ou o Jeep Renegade, que utilizou o mesmo propulsor por um período.
Alto consumo: um ponto crítico no Brasil
Outro fator que contribuiu para a fama negativa do E.TorQ no Brasil foi o alto consumo de combustível. Conforme dados divulgados, modelos como o Fiat Punto com motor 1.8 E.TorQ apresentam consumo médio de 6,5 km/l com etanol na cidade e 8,3 km/l na estrada. Com gasolina, os números melhoram um pouco: 9,5 km/l na cidade e 11,8 km/l na estrada.
Para um motor aspirado com essas especificações, os dados são considerados insatisfatórios. Isso se torna ainda mais problemático quando lembramos que o preço dos combustíveis no Brasil é alto e o consumidor é muito sensível à eficiência energética.
Custo e complexidade de manutenção
A manutenção do Fiat 1.8 E.TorQ também foi alvo de duras críticas. Um dos principais problemas relatados por mecânicos é o o complicado aos componentes internos do motor. Por exemplo, a troca da correia de órios ou de velas exige desmontagem de vários itens, elevando o tempo de serviço e o custo da mão de obra.
Além disso, a ausência de um sistema de comando de válvulas mais avançado (como VVT duplo em todas as versões) deixa o motor defasado tecnologicamente em relação à concorrentes. Em 2016, o motor ou por uma leve reestilização, recebendo algumas melhorias como coletor de issão redesenhado e otimização de software da injeção, mas isso não foi suficiente para mudar sua imagem.
Comparativo com concorrentes diretos
Para entender melhor a rejeição do mercado brasileiro ao E.TorQ, vale comparar com motores de potência semelhante:
- Volkswagen 1.6 MSI: entrega 117 cv com etanol e consumo urbano médio de 8,1 km/l.
- Chevrolet 1.4 Turbo: 153 cv e 9,4 km/l na cidade com etanol, além de torque superior e melhor relação peso-potência.
- Toyota 1.8 Dual VVT-i (Corolla): 144 cv, mais silencioso, eficiente e de manutenção mais simples.
Nesse cenário, o motor odiado por mecânicos perde em quase todos os quesitos: desempenho, consumo e facilidade de reparo.
O futuro do E.TorQ e sua saída de cena
Com a evolução dos motores turbo e a necessidade crescente de atender a normas ambientais mais rigorosas, o Fiat 1.8 E.TorQ foi sendo gradualmente substituído. Modelos como o Jeep Renegade e o Fiat Toro aram a usar o novo 1.3 Turbo Flex da Stellantis, mais moderno, eficiente e com maior desempenho.
Na Europa, o E.TorQ já havia deixado de ser utilizado há mais tempo, substituído por opções mais tecnológicas e compactas. Ainda assim, por lá, seu legado é mais positivo, com menor incidência de críticas e melhor aceitação do público.
O Fiat 1.8 E.TorQ é, sem dúvida, um caso emblemático de como o contexto de mercado e as expectativas do consumidor influenciam a percepção sobre um produto. Enquanto na Europa foi um motor que foi um sucesso absoluto, no Brasil virou um motor odiado por mecânicos e por muitos consumidores.
Fatores como desempenho modesto, alto consumo, manutenção complexa e falta de inovação tecnológica contribuíram para essa visão negativa. Por outro lado, seu legado internacional mostra que o E.TorQ teve seus méritos, mesmo que não tenha se adaptado bem à realidade brasileira.
A história desse motor serve como alerta para montadoras que desejam adaptar tecnologias globais a mercados locais: é preciso mais do que um bom projeto no papel – é essencial entender as demandas regionais e oferecer soluções adequadas a elas.