Edifício de US$ 175 milhões foi inaugurado com falha estrutural crítica que poderia causar sua queda durante um furacão. Engenheiro salvou milhares com reforma silenciosa liderada à noite e sem evacuar os ocupantes
Em pleno coração de Manhattan, um dos edifícios mais ousados da engenharia moderna quase desabou silenciosamente durante o verão de 1978. O Citicorp Center, que acabara de ser inaugurado, apresentava uma falha fatal em sua estrutura — capaz de ruir sob ventos de apenas 110 km/h. Uma catástrofe com potencial de matar milhares foi evitada graças à coragem ética e técnica do engenheiro William LeMessurier.
A história, contada em detalhes pelo canal Veritasium e confirmada por investigações e documentos oficiais, revela um dos episódios mais tensos e ocultos da história da engenharia civil moderna — informou o Veritasium em 25 de maio de 2025.
Projetado para ser um ícone arquitetônico, o prédio foi erguido sobre quatro pilares posicionados não nos cantos, mas no meio de cada face, para respeitar o espaço da histórica igreja St. Peter’s. Esse ousado projeto gerou desafios únicos, resolvidos com chevrons — vigas diagonais gigantes — e um sistema inédito de amortecimento de massa (TMD) de 400 toneladas no topo do prédio. Mas uma simples alteração de soldas por parafusos comprometeu tudo.
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Uma decisão de engenharia ousada: pilares no meio, vigas diagonais e amortecedor gigante no topo
O Citicorp Center foi erguido sobre um projeto radical. Para preservar a igreja histórica no térreo, os quatro pilares principais do arranha-céu foram deslocados para o centro de cada lado, deixando os cantos suspensos. Isso exigiu uma engenharia complexa, liderada por William LeMessurier, que desenhou o prédio com estruturas diagonais — chamadas chevrons — capazes de distribuir a força do vento e da gravidade para os pilares centrais e uma coluna central robusta.
Para controlar a oscilação do edifício, LeMessurier inovou ao instalar um amortecedor de massa sintonizado (TMD) — um bloco de concreto de 400 toneladas flutuando sobre óleo no topo do prédio. Esse sistema, usado em pontes e navios, nunca havia sido aplicado em um arranha-céu. O TMD reduzia em até 50% o movimento do prédio em dias de vento, proporcionando conforto e segurança aos ocupantes.
Tudo parecia funcionar perfeitamente. O Citicorp foi inaugurado em 1977 com pompa, elogios da mídia e prêmios da arquitetura. Mas menos de um ano depois, uma simples pergunta de um estudante mudaria tudo.
O erro fatal: ventos diagonais, parafusos inseguros e o risco real de colapso
Durante uma conversa técnica com um estudante de engenharia, LeMessurier percebeu que os cálculos originais não consideravam os ventos diagonais — chamados “quartering winds”. Ao refazer as simulações, descobriu que esses ventos geravam uma carga 40% maior que o previsto, e que os parafusos substituídos no lugar das soldas não eram suficientes para ar a força.
Pior ainda: as normas de segurança aplicadas no projeto tinham sido subestimadas. Em algumas juntas estruturais, seriam necessários 14 parafusos para ar as cargas previstas com segurança — mas havia apenas quatro. O ponto mais frágil era o 30º andar. Se uma dessas conexões falhasse, o prédio ruiria como um dominó de aço e concreto.
A situação era desesperadora. A cada ano, havia 1 chance em 16 de uma tempestade com ventos suficientes para derrubar o prédio. Um furacão como o Belle, que ou por Nova York no ano anterior, seria suficiente. LeMessurier enfrentava o maior dilema de sua vida: silenciar e torcer para o melhor, ou confessar e tentar salvar vidas — arriscando sua carreira.
Projeto Serene: operação secreta salvou milhares em Manhattan sem que ninguém soubesse
LeMessurier optou por agir. Junto com a Citicorp, elaborou um plano de reparos ultra secreto: o “Projeto Serene”. Toda noite, após o expediente, equipes de soldadores entravam no prédio, removiam paredes internas e aplicavam chapas de aço de 5 cm de espessura nas juntas comprometidas. Depois, reconstituíam o acabamento como se nada tivesse acontecido.
Foram reparadas mais de 200 juntas, com prioridade para os andares mais críticos. Nenhum funcionário foi informado. Nem mesmo o público ou a imprensa. Coincidentemente (ou providencialmente), todos os jornais de Nova York estavam em greve durante o período. A cidade inteira escapou do pânico — e do desastre.
Mas o destino testaria o plano. Em setembro de 1978, o furacão Ella se formou e rumava direto para Nova York. A cidade estava prestes a iniciar a evacuação de 10 quarteirões. O prédio poderia derrubar outros edifícios ao cair, como uma reação em cadeia. Mas, por milagre, o furacão desviou para o mar. O prédio foi salvo — e com ele, milhares de vidas.
A reação da mídia: silêncio absoluto durante a crise
Apesar da gravidade do problema estrutural e do risco iminente de colapso, a reação da mídia foi praticamente inexistente, e isso não aconteceu por acaso.
Durante todo o período do reparo secreto no Citicorp Center, os principais jornais de Nova York estavam em greve, o que impediu a divulgação imediata do caso. Esse apagão informativo colaborou para que a operação conduzida por William LeMessurier e pela Citicorp ocorresse sem gerar pânico público.
A primeira vez que o episódio veio à tona com detalhes foi quase duas décadas depois, em uma reportagem de 1995 publicada pela revista The New Yorker, revelando ao mundo a crise que quase ninguém soube que existiu.
O legado de LeMessurier: de erro fatal à lição mundial de ética na engenharia
As reformas terminaram discretamente em outubro de 1978. O prédio ganhou nova robustez e poderia, segundo LeMessurier, resistir a uma tempestade que ocorre apenas uma vez a cada mil anos. Mas o segredo duraria quase duas décadas. Apenas em 1995, uma reportagem da New Yorker trouxe à tona a história. Longe de ser condenado, LeMessurier foi aclamado por sua coragem e ética.
Hoje, a história do Citicorp Center é ensinada em cursos de engenharia civil ao redor do mundo como exemplo de ética profissional, responsabilidade e integridade técnica. O prédio, agora chamado 601 Lexington, segue de pé — com seus pilares centrais, seu famoso amortecedor de massa e, sobretudo, a memória de uma escolha difícil feita por um engenheiro que optou por salvar vidas, mesmo diante do próprio abismo.
O que você achou dessa história inacreditável? Já conhecia esse caso? Comente abaixo e compartilhe com seus amigos engenheiros, arquitetos e entusiastas de estruturas! Essa é uma das histórias mais impressionantes da engenharia moderna.
Não conhecia o caso e, se verdadeiro, é um belo caso de profissional íntegro.
O certo seria ter evacuado o prédio e consertado 100% da estrutura com calma, esse “conserto” que ele fez saiu às pressas e provavelmente mal feito pois tinha q ser feito escondido.
O erra era uma falha em uma situação que pode ocorrer em 1/16 vezes ao ano. Não havia necessidade desse alarde, o prédio em condições normais de uso não apresentava perigo algum ao usuários, e a forma como se prosseguiu o reparo não deve ter sido leviana, tendo em vista que já estava fazendo um reparo em uma estrutura ícone e “polêmica”.
Tem sempre um falando ****, o da vez é o Jeff
Tão mal feito que ficou de pé até hoje.
O que o engenheiro formado Jeff tem de portfólio- concreto- (sem trocadilhos) pra apresentar, que dure 1/3 do período mencionado?
Ou mesmo 01 projeto bem calculado que levou em conta TODAS as variáveis que alguém lembre e sirva de modelo futuro nos cursos de engenharia?
Tão escondido que a istração do prédio foi avisada e DECIDIU fazer de forma eficiente e discreta.
Aludindo manutenção de rotina se alguém perguntasse sobre os barulhinhos de obra noturna (se é que o prédio não estava subocupado em alguns andares e alguém percebeu algo e ficou curioso o bastante pra perguntar…).
Ao dobrar o joelho e reconhecer o erro, mostrou ética, e foi justamente aí que ele foi contemplado com a vitória 🏅