A revolução dos carros elétricos no Brasil está sendo liderada por fabricantes chinesas, que estão moldando o futuro da indústria automotiva nacional e global.
No encerramento da programação do “Summit Valor Econômico Brasil-China 2025”, realizado em Xangai, o “Reinventando a Indústria Automotiva: A Aceleração dos Veículos Elétricos” trouxe à tona um tema de grande relevância para o futuro do mercado automotivo no Brasil.
Em 2024, o segmento de carros elétricos e híbridos no país alcançou um recorde histórico, com 177.358 veículos eletrificados emplacados entre janeiro e dezembro, conforme dados da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE).
Desse total, 61.615 unidades foram de veículos totalmente elétricos a bateria, representando cerca de 35% da participação no mercado, uma marca impressionante que revela a crescente demanda por opções sustentáveis e eficientes.
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O Brasil, que já foi pioneiro na adoção do etanol como biocombustível, parece estar se preparando para dar mais um o em direção à eletrificação de sua frota de veículos.
O papel da China e a visão de especialistas
Liu Xiaoshi, vice-secretário-geral da plataforma think tank China EV 100, que impulsiona o desenvolvimento dos carros elétricos na China, declarou com confiança que “o carro elétrico será dominante no Brasil, sim”.
Para ele, a próxima fase da evolução do setor automotivo brasileiro será a eletrificação, sucedendo a era dos biocombustíveis, com o etanol à frente.
Ele enfatizou a inevitabilidade do aumento nas vendas de carros elétricos, apontando que o Brasil já está seguindo uma trajetória parecida com a dos países mais avançados nesse campo.
A ofensiva das fabricantes chinesas
A entrada das fabricantes chinesas no Brasil tem sido um dos motores dessa transformação.
Segundo Rodrigo Zeidan, professor da New York University Shanghai e da Fundação Dom Cabral, as empresas chinesas estão dominando o mercado global e já têm forte presença na Europa.
“Elas são extremamente competitivas e estão partindo para uma guerra de preços”, afirmou.
No entanto, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), que representa a indústria automotiva nacional, não vê com bons olhos essa entrada das chinesas no Brasil, já que elas estão praticando preços mais baixos.
Em resposta, a Anfavea entrou com um pedido de investigação de dumping, alegando que as montadoras chinesas, como a BYD, estão vendendo veículos a preços que dificultam a concorrência com as empresas locais.
A liderança da BYD e os investimentos no Brasil
A BYD, uma das maiores fabricantes chinesas de carros elétricos, superou a Tesla em vendas de veículos elétricos no Brasil em 2024.
No primeiro trimestre de 2025, a empresa já havia emplacado mais de 21 mil veículos, segundo a ABVE.
A empresa também é responsável pela construção da maior fábrica de veículos fora da Ásia, localizada em Camaçari, Bahia, com um investimento de R$ 5,5 bilhões.
Outro nome de peso nesse movimento é a GWM, uma montadora chinesa que está prestes a iniciar a fabricação de carros no Brasil.
A GWM escolheu as instalações da antiga fábrica da Mercedes-Benz, em Iracemápolis (SP), e está comprometida em investir R$ 10 bilhões até 2032 no país.
Esse movimento demonstra a crescente aposta das chinesas na produção local, consolidando o Brasil como um hub de fabricação de veículos elétricos e híbridos.
Obstáculos à produção local e o desafio das baterias
No entanto, a produção local ainda enfrenta desafios significativos.
Marli Olmos, jornalista especializada na indústria automotiva, explicou que um dos maiores obstáculos é a falta de infraestrutura para a fabricação de baterias no Brasil.
Atualmente, as montadoras locais dependem da montagem de veículos com componentes importados, especialmente da China.
Segundo Olmos, é necessário desenvolver uma produção em escala para reduzir custos e tornar os carros elétricos mais íveis ao consumidor brasileiro.
Sem isso, o Brasil não conseguirá alcançar o volume de vendas necessário para atingir a posição de liderança no mercado global, apesar de ser o sexto maior mercado de veículos e o oitavo maior produtor de carros no mundo.
Conexão internacional e sustentabilidade
Fang Li, diretora-executiva da China no World Resources Institute (WRI), destacou no que os carros elétricos não apenas representam uma solução para o mercado automotivo, mas também podem ser parte de uma estratégia de integração econômica entre países.
Ela citou exemplos como o uso de ônibus elétricos em cidades como Bogotá e Santiago, onde mais de 20 mil ônibus elétricos estão em operação, contribuindo para a redução da emissão de carbono e impulsionando a infraestrutura de energia local.
Barreiras tarifárias e o futuro da mobilidade
No Brasil, o futuro da indústria automotiva está intimamente ligado à questão dos preços.
Apesar da viabilidade econômica dos carros elétricos, como apontou Rodrigo Zeidan, o país ainda está preso a um modelo de desenvolvimento que prioriza a substituição da importação, o que pode impedir o crescimento acelerado do setor.
“O Brasil deveria revisar o seu modelo econômico”, sugeriu Zeidan, buscando atrair investimentos para a transferência de tecnologia e não criando barreiras tarifárias.
Ele alertou que o país pode perder uma grande oportunidade de avanços tecnológicos, deixando que o futuro aconteça sem o seu devido aproveitamento.
A resistência da indústria tradicional
Por fim, a indústria automotiva brasileira, que já está sentindo o impacto da competitividade das montadoras chinesas, continua a pedir um aumento da alíquota de importação para 35%, uma medida que, segundo os críticos, ajudaria a proteger a indústria nacional.
No entanto, como observou Marli Olmos, o grande desafio para o Brasil será convencer os consumidores a adotar os carros elétricos, o que só será possível se os preços caírem e a produção local se tornar mais eficiente.
Oportunidade ou ameaça?
O panorama atual do mercado de carros elétricos no Brasil e no mundo indica que, com o apoio das tecnologias chinesas, a transição para a eletrificação da frota está mais próxima do que nunca, embora os desafios ainda sejam muitos.
Agora, a pergunta que fica é: o Brasil está preparado para não apenas adotar, mas também produzir os veículos elétricos do futuro?