A Iniciativa Cinturão e Rota (BRI) é o ambicioso projeto pelo qual a China está construindo portos, ferrovias e estradas em 150 países. Entenda os objetivos, os projetos e o impacto dessa estratégia
A Iniciativa Cinturão e Rota (Belt and Road Initiative – BRI), conhecida como a Nova Rota da Seda, é um dos mais ambiciosos empreendimentos de infraestrutura da história moderna. Lançada pela China em 2013, a iniciativa visa tecer uma vasta rede de conexões para dominar as rotas comerciais globais. Através dela, a China está construindo portos, ferrovias e estradas em aproximadamente 150 países.
Este artigo explora a natureza multifacetada da BRI, desde seus objetivos estratégicos e projetos emblemáticos até as complexas repercussões geopolíticas e a evolução do projeto para o futuro.
O que é a Nova Rota da Seda e quais são seus objetivos reais?
Anunciada pelo presidente Xi Jinping em 2013, a BRI evoca as antigas Rotas da Seda para legitimar uma moderna estratégia global. O projeto tem dois pilares principais:
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O Cinturão Econômico da Rota da Seda: Rotas terrestres (ferrovias e rodovias) ligando a China à Europa, ando pela Ásia Central e Oriente Médio.
A Rota da Seda Marítima do Século XXI: Desenvolvimento e expansão de rotas marítimas e portos estratégicos da costa chinesa até a Europa, via Sudeste Asiático e África.
Oficialmente, a China promove a BRI sob a narrativa de “cooperação ganha-ganha”. No entanto, os motores subjacentes incluem garantir o a recursos naturais, encontrar novos mercados para suas indústrias, internacionalizar suas empresas e aumentar sua influência geopolítica. Com data de conclusão prevista para 2049, a BRI é um projeto de longo prazo para consolidar a China como centro da economia global.
Como a China está construindo portos, ferrovias e estradas pelo mundo
A espinha dorsal da BRI é sua vasta rede de projetos de infraestrutura, onde se vê claramente como a China está construindo portos, ferrovias e estradas em escala global.
Portos Marítimos: A China tem investido massivamente em terminais portuários. O Porto de Pireu, na Grécia, operado pela chinesa COSCO, tornou-se um dos mais movimentados da Europa. O Porto de Gwadar, no Paquistão, e o megaporto de Chancay, no Peru, são outros exemplos estratégicos.
Ferrovias Transcontinentais: Projetos ferroviários chave incluem a Ferrovia Adis Abeba-Djibuti, uma linha vital de 756 km para a Etiópia, e a Ferrovia de Alta Velocidade Jacarta-Bandung, a primeira do Sudeste Asiático.
Estradas e Corredores: A Autoestrada Europa Ocidental-China Ocidental é um projeto crucial para a conectividade terrestre. Hubs logísticos como o Khorgos Gateway, na fronteira entre China e Cazaquistão, facilitam o transbordo de mercadorias. O Corredor Econômico China-Paquistão (EC) envolve uma extensa rede de estradas e outras infraestruturas.
Oportunidades, riscos e a evolução para a “BRI 2.0”
Para os países participantes, a BRI oferece oportunidades de desenvolvimento de infraestrutura, com potencial de aumentar os fluxos comerciais em até 4,1%, segundo o Banco Mundial. No entanto, os riscos são significativos. A sustentabilidade da dívida é a principal preocupação, com vários países acumulando dívidas elevadas com a China. Questões de governança, falta de transparência e impactos ambientais e sociais também são criticadas.
Em resposta, a China está recalibrando a iniciativa para a “BRI 2.0”. Esta nova fase prioriza projetos “pequenos e belos”, com maior foco em sustentabilidade financeira e ambiental (“BRI Verde”). A iniciativa também se expandiu para novas fronteiras, como a Rota da Seda Digital (redes 5G, centros de dados) e a Rota da Seda da Saúde.
A Nova Rota da Seda e a reação das potências globais
A BRI é uma peça fundamental na estratégia geopolítica da China para projetar sua influência. Através dela, Pequim busca moldar normas e instituições internacionais, promovendo uma visão de governança mais alinhada aos seus interesses.
A ascensão da BRI provocou reações diversas. Os Estados Unidos a veem como um desafio e lançaram contra-iniciativas como a Parceria para Infraestrutura e Investimento Global (PGII). A União Europeia, embora reconheça as oportunidades, tem preocupações e lançou sua própria estratégia, a Global Gateway. A Índia é uma opositora veemente, principalmente devido ao EC. Já a Rússia se tornou uma parceira cada vez mais importante.
A China está construindo portos, ferrovias e estradas para um novo domínio global?
A BRI é uma força transformadora, mas sua trajetória futura é incerta e dependerá da capacidade da China de gerir os riscos, adaptar-se às mudanças globais e navegar nas turbulentas águas da geopolítica. A sustentabilidade da dívida dos países parceiros e a transparência dos projetos continuarão a ser pontos de intenso escrutínio.
O fato de que a China está construindo portos, ferrovias e estradas em uma escala sem precedentes já está reconfigurando as artérias do comércio global. A iniciativa representa a tentativa da China de moldar uma ordem mundial que reflita melhor seus interesses, com um impacto que será sentido por décadas.