Durante evento no Rio, presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, defendeu que o Brasil está mais preparado para fortalecer a indústria naval com responsabilidade, destacando a importância de descarbonizar a frota e preservar a biodiversidade marítima.
A indústria naval brasileira pode estar prestes a entrar em uma nova fase de desenvolvimento. Com a promessa de agir com mais responsabilidade e aprendizados do ado, o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, afirmou que o país está mais maduro e preparado para retomar a construção naval, agora com foco em sustentabilidade e inovação.
A declaração foi feita nesta segunda-feira (2), durante a apresentação de novas ações do programa BNDES Azul, realizado na Fortaleza de São José, na Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro.
O evento, promovido em parceria com a Marinha do Brasil, destacou também a importância econômica e estratégica do mar para o país, além de lançar uma chamada de projetos ambientais com orçamento de R$ 80 milhões voltados à preservação de ilhas oceânicas brasileiras.
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“Muito mais experiência para desenvolver a indústria naval com responsabilidade”
Durante o discurso, Mercadante fez questão de reconhecer os erros do ado, mas ressaltou que a situação atual é diferente.
“Foram cometidos erros graves no ado. Acho que hoje nós temos muito mais experiência, muito mais maturidade, para poder desenvolver a indústria naval com responsabilidade, como está sendo feito”, afirmou.
Segundo ele, a carteira atual do Fundo da Marinha Mercante já acumula R$ 21 bilhões em investimentos históricos.
Sem entrar em detalhes sobre as falhas anteriores, o presidente do BNDES destacou que há uma forte demanda pela reativação da navegação fluvial, sobretudo com embarcações de apoio, e indicou que o momento é mais promissor.
“Agora também há encomendas mais fortes e promissoras”, disse Mercadante.
Sustentabilidade e inovação no centro da nova política marítima
Um dos eixos centrais dessa nova etapa da indústria naval, segundo o BNDES, é a transição para frotas menos poluentes.
“Estamos numa curva de aprendizado e agora temos um desafio gigantesco que é a descarbonização da frota”, afirmou a diretora socioambiental do banco, Tereza Campello.
Ela acrescentou que o Brasil pode liderar essa agenda ambiental, aproveitando sua longa costa e experiência em biocombustíveis: “Quem no mundo tem oportunidade de liderar essa agenda? O Brasil, não só pelo tamanho de sua costa, mas pela experiência em biocombustíveis”.
O compromisso com práticas sustentáveis também se reflete na proposta de lançamento de blue bonds — títulos azuis voltados ao financiamento de projetos de preservação marinha.
Mercadante afirmou que mantém conversas com autoridades e parceiros internacionais para viabilizar a emissão desses papéis durante a COP30, que será realizada em novembro de 2025, em Belém (PA)
A proposta segue a lógica dos green bonds, já consolidados no mercado como fonte de recursos para iniciativas ambientais.
R$ 80 milhões para proteger ilhas oceânicas e aves marinhas
Durante o evento, o BNDES anunciou uma nova chamada pública de projetos voltados à conservação de ilhas oceânicas brasileiras, com orçamento de R$ 80 milhões.
As ações terão como foco a restauração de habitats reprodutivos de aves marinhas ameaçadas ou migratórias, o controle de espécies invasoras — como ratos trazidos por embarcações — e a criação de bases para créditos de biodiversidade.
Instituições sem fins lucrativos podem apresentar propostas com valor mínimo de R$ 5 milhões, sendo que o banco poderá financiar até 50% de cada projeto aprovado.
As inscrições ficarão abertas até o dia 17 de outubro de 2025, pelo site oficial do BNDES.
“Estamos dedicando recursos para restaurar esses ecossistemas frágeis, combatendo a presença de espécies invasoras, como ratos e ratazanas, que chegaram por embarcações e têm causado danos graves”, explicou Tereza Campello.
“A recuperação desses ambientes é estratégica para a conservação da fauna e para manter o papel dessas ilhas como plataformas naturais de reprodução e migração das aves.”
Um novo ciclo de investimentos na Indústria Naval
A retomada da indústria naval foi uma promessa de campanha do presidente Lula, após um período de paralisia marcado por escândalos de corrupção investigados pela Operação Lava Jato.
Segundo Mercadante, o cenário atual é mais estável, com governança reforçada e interesse crescente por embarcações e soluções logísticas sustentáveis.
Na visão do presidente do BNDES, não há razão para o Brasil, que projeta e fabrica aviões certificados internacionalmente, não voltar a se destacar também na construção de navios.
“Como um país que é um dos três no mundo que constroem e certificam avião não vai fazer, não pode fazer ou não deve fazer navio?”, provocou Mercadante.
Fonte: Folha de São Paulo