Um tônico espanhol de 1885 pode ter sido a base da Coca-Cola que conhecemos hoje. Veja como a Kola Coca cruzou o Atlântico e mudou a história do refrigerante
Imagine descobrir que a Coca-Cola, sinônimo de globalização e um dos produtos mais icônicos do planeta, pode não ter sido uma invenção norte-americana, como a maioria acredita. Há quem defenda que a história desse refrigerante mundialmente famoso começou, na verdade, em uma pequena cidade da Espanha, chamada Aielo de Malferit. E que, por um capricho do destino e da falta de patentes na época, a Kola Coca espanhola teria inspirado o tônico que, décadas depois, se transformaria em um fenômeno comercial. Mas será que isso é verdade? Vamos explorar essa história curiosa, cheia de reviravoltas e personagens quase esquecidos.
De tônico medicinal a fenômeno global
É amplamente difundido que o farmacêutico americano John Stith Pemberton criou a fórmula original da Coca-Cola em 1886, misturando folhas de coca, noz-de-cola e água carbonatada. Sua intenção inicial não era lançar um simples refrigerante, mas um “tônico milagroso” que prometia aliviar dores de cabeça, fadiga e até mesmo acalmar os nervos. Tudo isso, claro, quando a bebida ainda continha cocaína em sua composição.
Por ironia do destino, Pemberton não chegou a ver o sucesso da sua invenção. Morreu em extrema pobreza, enquanto seu sócio, Asa G. Candler, transformou a marca em uma gigante global. Mas um detalhe importante muitas vezes a despercebido: um ano antes da criação oficial da Coca-Cola, em 1885, uma bebida muito parecida chamada Kola Coca já circulava em feiras comerciais nos Estados Unidos.
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A Kola Coca valenciana
A história da Kola Coca começa em 1880, na cidade espanhola de Aielo de Malferit, na região de Valência. Ali, os empresários Bautista Aparici, Ricardo Sanz e Enrique Ortiz fundaram uma fábrica de bebidas alcoólicas que rapidamente começou a inovar. Um de seus produtos era justamente um tônico feito à base de folhas de coca, noz-de-cola e água — a fórmula que, anos depois, se tornaria familiar para bilhões de consumidores ao redor do mundo.
Em 1885, Aparici levou amostras da Kola Coca para a Feira Mundial da Filadélfia, onde distribuiu o produto a comerciantes americanos. Naquela época, o registro de patentes não era uma prática comum ou padronizada, o que deixava criações como essa vulneráveis a cópias.
Coincidência ou plágio?
Pouco depois da feira, em 1886, Pemberton apresentou sua fórmula da Coca-Cola em Atlanta, nos Estados Unidos. A semelhança entre as duas bebidas não ou despercebida. Até hoje, o site oficial das Destilerías Ayelo levanta a questão: teria a fórmula americana sido inspirada no tônico espanhol?
“Naquela época, era fácil copiar uma bebida. As patentes só eram registradas quando o produto se mostrava comercialmente viável”, afirma Juan Micó, atual proprietário da fábrica de Ayelo, em entrevista ao ABC News. Segundo ele, quando a Kola Coca foi finalmente patenteada na Espanha em 1903, a Coca-Cola já havia se consolidado no mercado internacional.
O encontro inesperado com a Coca-Cola
Décadas mais tarde, o próprio império Coca-Cola teria reconhecido, de forma indireta, a existência da versão espanhola. Nos anos 1940, ao tentar entrar no mercado espanhol, a multinacional americana esbarrou em um obstáculo: a marca Kola Coca já estava registrada no país.
Como detalha o portal Spiegel, em 1953 representantes da Coca-Cola visitaram Aielo de Malferit e fecharam um acordo com Joaquín Juan Sanchis, então proprietário da fábrica. Fontes não oficiais sugerem que o valor pago pelos direitos do nome tenha variado entre 30 mil e 50 mil pesetas — uma quantia considerável para a época, mas irrisória em comparação com os bilhões que a marca americana viria a faturar.
“Se tivéssemos negociado por ações ou uma porcentagem das vendas, seríamos milionários”, lamenta hoje Juan Micó.
Após o acordo, a fábrica espanhola deixou de produzir a versão não alcoólica do seu tônico. Contudo, até hoje mantém a Kola Coca com teor alcoólico de 21%, como uma espécie de homenagem à história não contada da bebida.
Reconhecimento tardio
Em 2018, o município de Aielo de Malferit tentou oficializar esse vínculo histórico. O prefeito José Luis Juan Pinter enviou uma carta à sede da Coca-Cola, propondo que a multinacional reconhecesse, ainda que simbolicamente, a contribuição da cidade valenciana para a criação do refrigerante.
“Nosso objetivo é que essa história seja conhecida. Não buscamos compensação financeira”, declarou o prefeito ao jornal El País.
A resposta da Coca-Cola foi diplomática, porém evasiva. A empresa afirmou que a marca transcende fronteiras e pertence “a todos”, mas não reconheceu explicitamente a ligação com a Kola Coca.
A história segue viva
Hoje, os 4.500 habitantes de Aielo de Malferit continuam orgulhosos de seu legado. A fórmula original da Kola Coca permanece guardada a sete chaves na sede das Destilerías Ayelo. E, para muitos, a verdadeira origem da Coca-Cola segue envolta em um misto de orgulho local e mistério global.
“Será ou não a origem da Coca-Cola?”, questiona o site da destilaria, deixando a resposta para a imaginação — e para os historiadores do futuro.