Pesquisadores identificaram que, devido à composição química da época, os oceanos primitivos tinham uma coloração diferente do azul atual. O estudo analisa como os altos níveis de ferro dissolvido influenciaram essa tonalidade.
Se alguém fosse descrever a Terra, provavelmente mencionaria seu tom azul característico. No entanto, há bilhões de anos, os oceanos azuis não tinham essa aparência. Cientistas e pesquisas recentes revelaram que, na Terra primitiva, os mares exibiam uma coloração verde profunda, um visual que perdurou por mais de 2 bilhões de anos. Essa descoberta, publicada na revista Nature Ecology & Evolution, traz novas perspectivas sobre a evolução do planeta e até mesmo sobre a busca por vida em outros mundos.
A explicação para essa mudança de cor está ligada à composição química dos oceanos antigos e aos microrganismos que ali habitavam. Compreender esse fenômeno ajuda a reconstruir a história da Terra e a explorar as condições que podem existir em outros planetas.
Entenda os porque os oceanos eram verdes e não azuis
Os pesquisadores chegaram a essa conclusão através de simulações computacionais de alta precisão, que indicaram que, há cerca de 3 bilhões de anos, a composição química dos mares da Terra dava a eles uma tonalidade esmeralda. Mas o que causava essa cor? Os cientistas apontam três fatores principais que explicam esse fenômeno:
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Alta concentração de ferro dissolvido
Há cerca de 3 bilhões de anos, a atmosfera terrestre possuía pouco ou nenhum oxigênio livre (O₂). Em um ambiente anóxico (sem oxigênio), o ferro existia predominantemente na forma de íons ferrosos (Fe²⁺), que são altamente solúveis em água. Isso significava que grandes quantidades de ferro dissolvido estavam presentes nos oceanos.
Interação da luz com o ferro
A presença de ferro dissolvido afetava a maneira como a luz era absorvida e espalhada na água. Diferentes substâncias na água podem alterar sua coloração ao absorverem certos comprimentos de onda da luz visível e refletirem outros. O ferro ferroso tende a absorver luz na região azul do espectro e refletir comprimentos de onda na região verde, conferindo aos oceanos uma coloração esverdeada.
Atividade das cianobactérias
As cianobactérias foram microrganismos essenciais na evolução da vida no planeta. Elas realizavam fotossíntese, liberando oxigênio na atmosfera e contribuindo para essa coloração esverdeada dos mares. Esse equilíbrio manteve os oceanos verdes por aproximadamente 2,4 bilhões de anos, até que uma grande transformação mudou tudo.
A grande oxidação: como os oceanos ficaram azuis
A mudança na cor dos oceanos ocorreu devido a um evento conhecido como a Grande Oxidação, que aconteceu entre 2,4 e 2,1 bilhões de anos atrás. Durante esse período, o oxigênio liberado pelas cianobactérias começou a se acumular na atmosfera e interagiu com o ferro dissolvido na água.
Essa reação química oxidou o ferro, transformando-o em óxidos insolúveis, que afundaram no mar e foram removidos da solução oceânica. Com a diminuição do ferro dissolvido, os oceanos perderam sua coloração esverdeada.
A tonalidade azul predominante dos oceanos hoje não se deve apenas ao reflexo do céu, mas principalmente à maneira como a luz interage com a água. As moléculas de água absorvem mais eficientemente os comprimentos de onda mais longos da luz visível (vermelho, laranja e amarelo) e espalham os comprimentos de onda mais curtos (azul e violeta). Como o olho humano é mais sensível ao azul do que ao violeta, os oceanos nos parecem azuis, independentemente da cor do céu.
Além de mudar a aparência do planeta, essa transformação foi essencial para a evolução da vida complexa, pois criou um ambiente mais adequado para organismos multicelulares.
Uma descoberta capaz de transformar a busca por vida em outros planetas
A revelação de que os oceanos não eram azuis na Terra primitiva tem implicações gigantescas para a astrobiologia. Afinal, se a composição química da água pode mudar drasticamente a cor dos oceanos, isso significa que os mares de outros planetas podem ter tonalidades completamente diferentes. Os cientistas levantaram algumas hipóteses interessantes com base nesse estudo:
- Exoplanetas com oceanos de cores diferentes: A química da água pode ser diferente em outros mundos. Dependendo dos elementos dissolvidos nos mares, planetas podem ter oceanos verdes, vermelhos ou até violetas.
- A cor dos mares pode indicar habitabilidade: Se um oceano de exoplaneta tiver uma tonalidade diferente, isso pode revelar informações valiosas sobre sua composição atmosférica e até mesmo sobre seu potencial para abrigar vida.
- Simulações para recriar mundos primitivos: Usando tecnologia avançada, os pesquisadores conseguiram criar simulações que mostram como seria a aparência da Terra há bilhões de anos: um planeta com mares verdes profundos e uma atmosfera muito diferente da atual.
Fonte: Meteored