Novo exoplaneta detectado por variação de trânsito orbital revoluciona a busca por mundos habitáveis ao redor de estrelas semelhantes ao Sol, desafiando os limites da astronomia atual
Um novo exoplaneta apelidado de Kepler-725c, localizado a cerca de 2.472 anos-luz da Terra, pode ser uma das descobertas mais promissoras na busca por um “segundo lar” fora do Sistema Solar. Com aproximadamente 10 vezes a massa terrestre e orbitando na zona habitável de sua estrela, este mundo recém-identificado apresenta condições que podem permitir a existência de água líquida — essencial para a vida.
A descoberta, divulgada pelo The Daily Galaxy e detalhada em estudo publicado na Nature, foi possível graças a uma técnica inovadora chamada transit timing variation (TTV), capaz de detectar planetas escondidos que escapam das abordagens tradicionais.
O que torna Kepler-725c tão especial
Kepler-725c orbita uma estrela do tipo G9V, similar ao nosso Sol, mas ligeiramente mais fria. Sua órbita dura 207,5 dias, colocando-o dentro da chamada zona habitável, região onde as temperaturas permitem que a água permaneça em estado líquido — um dos principais pré-requisitos para a vida como conhecemos.
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A distância do planeta em relação à sua estrela é de aproximadamente 0,674 unidades astronômicas, o que o expõe a um nível de radiação solar 1,4 vez maior que o da Terra. Apesar disso, especialistas indicam que essa quantidade de energia ainda se encontra dentro do limite tolerável para a existência de condições estáveis e potencialmente biocompatíveis.
Com uma massa estimada de 10 ± 3 vezes a da Terra, Kepler-725c entra na categoria de super-Terras — planetas que, embora maiores, podem manter características similares às do nosso planeta, como superfície rochosa e atmosfera densa.
O fato de o planeta estar em uma órbita excêntrica (e=0,44) indica que ele a por variações sazonais mais intensas do que a Terra. Isso pode influenciar fortemente sua dinâmica climática, mas não exclui a possibilidade de habitabilidade.
A verdadeira revolução está na forma como o planeta foi detectado. Em vez de observar seu trânsito diretamente, os cientistas perceberam flutuações temporais nos trânsitos de outro planeta do mesmo sistema, o gigante gasoso Kepler-725b. Essa anomalia revelou a presença de um corpo oculto — Kepler-725c.
A técnica TTV se destaca por permitir a medição precisa da massa de planetas não visíveis diretamente, especialmente em sistemas com apenas um planeta transitando.
Esse método aumenta consideravelmente o número de possíveis exoplanetas habitáveis, mesmo quando não há alinhamento ideal para observação direta.
Além disso, a descoberta fortalece o potencial científico de futuras missões, como PLATO da ESA e Earth 2.0 da China, voltadas à caça de exoplanetas similares à Terra em torno de estrelas do tipo solar.
Técnica TTV e o futuro da exploração exoplanetária
A Transit Timing Variation representa uma mudança de paradigma. Ela possibilita detectar e calcular a massa de planetas indiretamente, observando os efeitos gravitacionais causados por eles em planetas vizinhos, especialmente em sistemas complexos.
A vantagem é significativa: muitos planetas com órbitas amplas não são detectáveis pelos métodos convencionais, como o de trânsito ou velocidade radial. Mas com TTV, mesmo planetas com longos períodos orbitais e massas menores podem ser identificados com precisão.
Kepler-725b, um gigante gasoso com período de 39,64 dias, funcionou como um “sensor gravitacional” ao ser afetado pelas interações com Kepler-725c. Essa interação foi minuciosamente registrada e analisada pelos pesquisadores liderados por Leilei Sun, do Observatório de Yunnan.
O estudo detalhado foi publicado na revista Nature, demonstrando a robustez e confiabilidade do método. O trabalho mostrou que mesmo planetas com massas semelhantes a Netuno ou a super-Terras podem ser revelados sem jamais serem vistos.
Outra implicação é a capacidade de estimar a composição desses planetas com mais clareza. Sabendo-se a massa e o raio (quando possível), é possível inferir se o corpo é predominantemente rochoso, gasoso ou rico em água.
Os avanços computacionais, associados ao volume crescente de dados astronômicos vindos de missões como Kepler e TESS, aumentam exponencialmente a eficácia de análises baseadas em TTV.
Com ferramentas como o código TTVFast e o repositório da NASA Exoplanet Archive, astrônomos conseguem cruzar dados com extrema velocidade e precisão.
A técnica também abre margem para o uso de machine learning na previsão de interações planetárias, automatizando o reconhecimento de padrões gravitacionais que indicam a presença de corpos ocultos.
No futuro próximo, a combinação entre TTV, imagem direta e espectroscopia atmosférica poderá fornecer o “perfil completo” de um exoplaneta: localização, massa, composição e, talvez, sinais de atividade biológica.
Habitabilidade, missões futuras e a busca por um segundo lar
A habitabilidade de Kepler-725c ainda é um mistério, mas as pistas são animadoras. Seu posicionamento na zona habitável e sua massa sugerem que ele pode manter uma atmosfera, fator essencial para a estabilidade térmica e presença de água líquida.
Entretanto, a excêntrica órbita pode gerar extremos climáticos. Mesmo assim, simulações indicam que tais variações não necessariamente impedem a habitabilidade — em alguns casos, até favorecem diversidade ecológica.
O tipo estelar G9V também contribui positivamente: é estável, com baixa variabilidade e uma expectativa de vida longa, atributos ideais para o desenvolvimento da vida ao longo de bilhões de anos.
Missões como PLATO (ESA), TESS (NASA) e Earth 2.0 (China) têm como foco encontrar e estudar planetas exatamente como Kepler-725c: pequenos, rochosos, e com potencial para sustentar vida.
Com a confirmação de massa e órbita, o próximo o será detectar s atmosféricas por meio de espectroscopia. Gases como vapor d’água, metano, oxigênio e ozônio serão os alvos primários.
A descoberta reforça a tese de que muitos exoplanetas semelhantes à Terra podem estar “escondidos” em sistemas já observados. Basta olhar de maneira diferente.
Além disso, a análise do Kepler-725c contribui para o refinamento de modelos teóricos sobre a formação de planetas e evolução de sistemas solares.
A presença de um gigante gasoso próximo (Kepler-725b) e uma super-Terra na mesma vizinhança pode indicar que a formação desses mundos ocorre de forma coordenada, desafiando teorias que apontavam migração desordenada como padrão.
Cientistas já cogitam a existência de outros planetas ainda não detectados nesse mesmo sistema, o que reforça a importância de estudos contínuos de TTV.
A cada novo planeta identificado, o sonho de encontrar um “Earth 2.0” se aproxima da realidade científica, e Kepler-725c é, por enquanto, um dos candidatos mais fortes.