Mesmo com alto potencial em energia solar, o Brasil desperdiça energia limpa por falta de baterias para armazenamento, revela o Absae Summit.
Apesar de possuir uma das matrizes energéticas mais limpas do planeta, o Brasil continua desperdiçando energia solar por não investir em sistemas adequados de armazenamento. Essa foi uma das principais conclusões do Absae Global Summit, realizado recentemente em Brasília. O evento reuniu especialistas de todo o mundo para discutir os rumos da energia limpa e o papel das baterias na transição energética.
Imagine o seguinte cenário: você instala uma placa solar no telhado de casa e, enquanto está no trabalho, o sistema gera energia limpa em abundância.
Porém, como essa produção ocorre em horário que você não consome, a eletricidade acaba sendo desperdiçada. À noite, sem sol, você é obrigado a recorrer à rede elétrica convencional — mais cara e, muitas vezes, poluente.
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A solução para esse problema está no uso de baterias para armazenar a energia solar gerada durante o dia. Mas, infelizmente, essa tecnologia ainda não é prioridade no Brasil.
Armazenamento é chave para economia e segurança energética
Durante o Absae Summit, representantes de países como Reino Unido, Austrália, Chile e Estados Unidos apresentaram dados impressionantes sobre a adoção de sistemas de baterias.
Sarah Howarth, do Reino Unido, destacou que o país já opera com mais de 8 GW em armazenamento, com outros 15 GW em fase de aprovação. “Sem baterias, não há segurança. É como construir uma hidrelétrica sem reservatório”, afirmou.
Thiago Costa, da operadora australiana AEMO, reforçou o papel das baterias como escudo contra blecautes. Já Carlos Finat, do Chile, revelou que o país perdeu 2.400 GWh de energia solar em 2023 por falta de infraestrutura. Em resposta, o governo chileno aprovou uma legislação para incentivar a instalação de sistemas de armazenamento.
Na Califórnia, as baterias já fornecem mais de 5% da energia em horários de pico. E com a queda de 85% nos preços nos últimos 10 anos, o armazenamento tornou-se economicamente viável e escalável, como destacou Lina Ramirez, representante do consórcio G-PST.
Brasil ainda observa, enquanto o mundo avança no armazenamento de energia solar
Mesmo com sol e vento em abundância, o Brasil ainda caminha a os lentos. Atualmente, o país não possui um marco regulatório sólido para o uso de baterias em larga escala.
A proposta de Leilão de Reserva de Capacidade (LRCAP), que incluiria sistemas de armazenamento, tem sido adiada constantemente. Enquanto isso, a energia solar excedente é desperdiçada e a dependência de usinas térmicas — mais caras e poluentes — só aumenta.
A regulamentação da ANEEL também avança devagar. A Ação de Controle de Políticas (A 39/2023), que propõe diretrizes para o uso de baterias, está parada desde o fim do mandato do relator anterior. Com isso, o setor continua sem regras claras para remuneração e integração dessas tecnologias ao sistema nacional.
Oportunidade de ouro sendo negligenciada
Como afirmou Sergio Jacobsen, CEO da Micropower, “o Brasil está pronto. Falta vontade de avançar”. A empresa é uma das líderes em soluções de armazenamento e acredita que o momento é agora. A tecnologia está madura, os custos estão caindo, e os exemplos internacionais mostram que a independência energética está ao alcance.
O Brasil tem um dos maiores potenciais em energia solar do mundo. Mas sem investir em bateria e armazenamento, continuará desperdiçando energia limpa e permanecendo refém de combustíveis fósseis. A transição energética precisa sair do discurso e virar ação.
“Temos o sol, o vento e a capacidade técnica. Só falta ligar o forno”, concluiu Lina Ramirez no encerramento do Summit.