Saída líquida de US$ 8,3 bilhões em março supera marca registrada em 2020 e revela forte impacto da crise internacional nas contas externas brasileiras, segundo o Banco Central
Março terminou com um baque histórico para a economia brasileira. Dados divulgados nesta quarta-feira (9) pelo Banco Central mostram que o país registrou uma saída líquida de US$ 8,3 bilhões — o pior resultado para o mês desde o início da série histórica, iniciada em 1982. A última vez que o Brasil viu algo parecido foi em março de 2020, no auge da pandemia da Covid-19.
Canal financeiro lidera a sangria cambial
Segundo o relatório do Banco Central, a debandada de dólares foi puxada pela via financeira, com fuga de US$ 12,8 bilhões em março. Isso inclui movimentações como retirada de investimentos em ações e títulos, envio de lucros ao exterior por multinacionais e diminuição de aportes diretos estrangeiros no país.
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O canal financeiro reflete a percepção internacional sobre risco, juros e estabilidade — e neste momento, o Brasil parece estar perdendo pontos nesse jogo.
Comércio internacional ainda segura parte da pressão
Apesar do rombo financeiro, o canal comercial, responsável pelas exportações e importações, registrou entrada de US$ 4,5 bilhões em março. Ou seja, o saldo das vendas de bens e serviços ao exterior ainda foi positivo, o que evitou um estrago maior nas contas externas.
Mesmo assim, o impacto da fuga financeira, conforme o Banco Central, fez o saldo total do fluxo cambial ficar no vermelho — e com força.
No acumulado do ano, rombo a de US$ 15 bilhões
Somando os três primeiros meses de 2024, o Brasil já acumula um déficit de US$ 15,8 bilhões no fluxo cambial. Desse total, US$ 23,1 bilhões saíram pelo canal financeiro, enquanto US$ 7,3 bilhões entraram pela via comercial.
Esse desequilíbrio, segundo o próprio Banco Central, é um reflexo direto da instabilidade global agravada pelo “tarifaço” de Trump contra o aço e alumínio brasileiros, que gerou insegurança entre investidores internacionais.
Dólar caiu, mas o clima é de incerteza
Curiosamente, mesmo com a fuga de dólares, a moeda norte-americana caiu 3,51% em março e 7,63% no trimestre, sendo negociada nesta quarta-feira (9) a R$ 5,84 — uma reação imediata à pausa parcial nas tarifas americanas anunciada por Trump. No entanto, a volatilidade segue alta, e o próprio Banco Central tem atuado para tentar estabilizar o câmbio.
Entenda o papel do Banco Central nesse cenário
O Banco Central é o órgão responsável por monitorar o fluxo cambial e garantir o equilíbrio entre entrada e saída de divisas no país. A instituição também atua no mercado por meio de operações com reservas internacionais e leilões de câmbio para conter oscilações abruptas.
Quando os investidores retiram capital do país em grande escala, o real tende a se desvalorizar, gerando pressão inflacionária e aumentando o custo de importações. Daí a importância estratégica de manter as contas externas equilibradas.