1. Início
  2. / Economia
  3. / Argentina de Milei busca US$ 20 bilhões do FMI para estabilizar economia — medida divide opiniões no país sobre o real destino do montante
Tempo de leitura 6 min de leitura Comentários 0 comentários

Argentina de Milei busca US$ 20 bilhões do FMI para estabilizar economia — medida divide opiniões no país sobre o real destino do montante

Publicado em 28/03/2025 às 10:09
Argentina, Javier Milei, Economia, Governo Milei, FMI
Foto: Reprodução
Seja o primeiro a reagir!
Reagir ao artigo

Governo Milei negocia novo empréstimo de US$ 20 bilhões com o FMI. Argentina tenta reforçar reservas e estabilizar economia. Veja detalhes das tratativas com o fundo

A Argentina deu mais um o na sua longa história de acordos com o Fundo Monetário Internacional (FMI). O país sul-americano busca um novo empréstimo de US$ 20 bilhões com o objetivo declarado de reforçar as reservas do Banco Central.

Segundo o governo de Javier Milei, o dinheiro não será usado para cobrir gastos ou déficits, mas para recapitalizar o ativo do Banco Central. A proposta, no entanto, tem gerado críticas e dividido opiniões entre economistas e especialistas locais.

Caputo anuncia valor e nega uso para despesas públicas

O ministro da Economia, Luis Caputo, anunciou o valor do novo empréstimo durante um evento do setor de seguros latino-americanos. Ele afirmou que o montante acordado com a equipe técnica do FMI ainda precisa da aprovação da diretoria do Fundo.

Dia
Xaomi 14T Pro tá um absurdo de potente e barato! Corre na Shopee e garanta o seu agora!
Ícone de Episódios Comprar

O montante que nós acordamos com o staff [equipe técnica do FMI], que o board [diretoria-executiva do Fundo] ainda precisa decidir se aprova ou não, é de US$ 20 bilhões. É muito superior ao montante que se vem escutando de algumas pessoas“, disse Luis Caputo, nesta quinta-feira (27), durante evento do setor de seguros latino-americanos.

Apesar do anúncio, ainda não há detalhes sobre as exigências do FMI para liberar os recursos. O governo argentino também negocia outros empréstimos com o Banco Mundial, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Banco de Desenvolvimento da América Latina e Caribe (CAF). A ideia é ampliar as fontes de financiamento internacional e reforçar a posição cambial do país.

Pressão cambial acelera busca por dólares na Argentina

O anúncio de Caputo aconteceu poucos dias depois de ele se recusar a dar informações sobre as negociações com o FMI. Para o diretor do Observatório da Dívida Pública Argentina, Alejandro Olmos Gaona, o ministro tentou acalmar o mercado financeiro após dias de forte pressão sobre o câmbio. Segundo ele, em um mês o governo gastou US$ 1,4 bilhão para conter a alta do dólar, sem sucesso.

Em um mês, US$ 1,4 bilhão foi gasto para acalmar o mercado de câmbio, e agora o dólar continua subindo. Esta declaração do ministro certamente, como ele disse, visa acalmar um pouco a taxa de câmbio e os mercados”, afirmou Olmos.

Ele acredita que o governo tenta manter um câmbio artificialmente baixo, vendendo dólares no mercado, e que isso exige reservas.

O governo precisa desesperadamente de dólares para fortalecer o Banco Central e seguir controlando a inflação [por meio da injeção de dólares na economia], porque esse é o único elemento que tem dado muito apoio ao presidente Milei. O que não se sabe é quanto vão mandar, que condições vão impor e o que vão fazer, depois, com esse dinheiro”, comentou o especialista.

Inflação desacelera, mas instabilidade do Governo Milei persiste

A inflação na Argentina, que chegou a 287% ao ano em março de 2024, caiu para 66% ao ano em fevereiro de 2025. Mesmo assim, o cenário econômico continua instável. O especialista aponta que as reservas do Banco Central vêm caindo de forma contínua, dificultando a manutenção de um câmbio estável.

Além disso, há rumores de que o FMI poderá exigir o fim dos controles sobre o câmbio, como o limite de compra de dólares por cidadãos argentinos.

Atualmente, cada pessoa só pode comprar até US$ 200 por mês. A possível mudança leva muitos argentinos a buscar mais dólares no mercado, o que aumenta ainda mais a pressão sobre o sistema financeiro.

Governo quer “sanear” reservas do Banco Central

Caso o acordo seja fechado até meados de abril, será o terceiro empréstimo do tipo desde 2018, quando o governo de Maurício Macri assinou um contrato de US$ 56 bilhões com o Fundo.

A atual proposta de Milei tem como meta “sanear” as reservas do Banco Central, substituindo os títulos do Tesouro por dólares. Com isso, a dívida deixaria de estar com o BC e aria ao FMI.

Caputo defende que a operação não aumentaria a dívida do país e ajudaria a dar maior estabilidade à moeda local, o peso argentino. “[O dinheiro] não é para financiar gastos, nem para financiar déficits, mas para recapitalizar o ativo do Banco Central. O que nós buscamos com este acordo é que a gente possa ficar tranquila que, finalmente, os pesos tenham respaldo no BC”, afirmou.

A expectativa é que, com o novo empréstimo, as reservas do BC subam para US$ 50 bilhões. Atualmente, o valor gira em torno de US$ 26 bilhões.

Para fins de comparação, o Banco Central do Brasil fechou o ano de 2024 com reservas de US$ 329,7 bilhões.

Especialistas alertam para riscos e dependência

Apesar do otimismo do governo, o historiador Alejandro Olmos vê riscos na operação. Ele critica a ideia de que a dívida com o FMI não representa problema por não ser considerada um aumento nominal. Para ele, dever ao Banco Central é diferente de dever a um organismo internacional.

“Não é o mesmo dever ao BC, que é da estrutura do Estado, que não faz exigências, não pede ajustes. Além disso, a dívida com o BC pode ser refinanciada permanentemente. Já o FMI estabelece condições muito restritas, exige regulamentações econômicas, monitorando e controlando a economia do país”, disse Olmos.

Atualmente, a dívida pública da Argentina está em US$ 471 bilhões, com um custo anual de US$ 22 bilhões em juros. O especialista destaca que, ao contrário da Argentina, o Brasil possui sua dívida majoritariamente em moeda local, o que facilita o pagamento e a rolagem dos ivos.

Futuro incerto da dívida Argentina

Para Olmos, seguir se endividando não é sustentável. Ele defende uma mudança estrutural na forma como o país lida com suas finanças públicas.

O problema é que o poder econômico, os economistas, os teóricos, insistem que a única via possível para o desenvolvimento de um país é por meio do endividamento. Entendem que a única solução é seguir se endividando e, lamentavelmente, a história da Argentina demonstra que todos esses acordos com FMI sempre fracassaram“, afirmou.

Mesmo assim, há quem acredite que a situação pode melhorar. A exploração das reservas de petróleo e gás na região de Vaca Muerta é vista por alguns setores como uma possível fonte de recursos no futuro. Isso poderia auxiliar o país a manter seus compromissos com credores internacionais.

Olmos, no entanto, faz uma crítica à ausência de um plano de longo prazo. “O que a é que são políticas conjunturais, não há planificação do Estado para um desenvolvimento sustentável”, concluiu.

A Argentina vive mais um capítulo da sua complexa relação com o FMI. Ao longo da história, o país já firmou 23 acordos com o Fundo. O atual, se aprovado, será mais um movimento importante da gestão Milei na tentativa de estabilizar a economia. Mas os efeitos, positivos ou negativos, ainda estão por vir.

Com informações de Agência Brasil.

Inscreva-se
Entre com
Notificar de
guest
0 Comentários
Mais recente
Mais antigos Mais votado
s
Visualizar todos comentários

Romário Pereira de Carvalho

Já publiquei milhares de matérias em portais reconhecidos, sempre com foco em conteúdo informativo, direto e com valor para o leitor. Fique à vontade para enviar sugestões ou perguntas

Compartilhar em aplicativos
0
Adoraríamos sua opnião sobre esse assunto, comente!x