O Memorando de Budapeste prometia segurança à Ucrânia em troca do desarmamento nuclear, mas a invasão russa expôs os limites dessas garantias. Agora, Zelensky exige proteção legal e adesão à OTAN
O chamado Memorando de Budapeste foi um marco para o desarmamento nuclear do pós-Guerra Fria. Em 1994, Ucrânia, Bielorrússia e Cazaquistão concordaram em abdicar das armas nucleares herdadas da União Soviética. Em troca, Estados Unidos, Reino Unido e Rússia prometeram respeitar a soberania e integridade desses países.
No caso da Ucrânia, a entrega das ogivas foi total. O país transferiu para a Rússia o terceiro maior arsenal nuclear do mundo, acreditando que as garantias de segurança seriam suficientes. Porém, os desdobramentos dos anos seguintes colocaram essa confiança em xeque.
Crimeia, guerra e desconfiança
Na época, a Ucrânia entregou cerca de 1.900 ogivas nucleares à Rússia. Em troca, recebeu promessas de respeito à sua integridade territorial e soberania.
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Essas promessas, no entanto, não impediram a anexação da Crimeia em 2014, nem a invasão em larga escala em 2022. O acordo, visto como histórico, ou a ser considerado simbólico e sem efeito prático.
Segundo analistas, a decisão ucraniana foi tomada sob forte pressão internacional. Havia também o custo alto de manter os arsenais, além da dependência de Moscou para operá-los.
Mesmo assim, o episódio se tornou um alerta global. Para muitos em Kiev, a lição foi clara: sem garantias jurídicas reais, segurança baseada em acordos políticos não é suficiente.
Zelensky pede adesão da Ucrânia à OTAN
Hoje, a Ucrânia tenta evitar repetir esse erro. O presidente Volodymyr Zelensky defende a entrada do país na OTAN, pedindo que a aliança ofereça proteção formal, por meio de um tratado com obrigações legais.
Apesar do apoio público à causa ucraniana, essa proposta ainda não se concretizou. Dentro da OTAN, o debate sobre a adesão da Ucrânia é antigo. Mas nunca ou de discussão. O medo de um confronto direto com a Rússia pesa mais que os argumentos pró-Ucrânia.
Adesão com restrições ao Artigo 5
Diante desse ime, Zelensky sugeriu um formato alternativo para adesão. Ele propôs que a Ucrânia entre na OTAN com uma condição especial. A cláusula mais importante da aliança, o Artigo 5, que trata de defesa mútua, não se aplicaria automaticamente às áreas ocupadas pela Rússia.
O presidente ucraniano argumenta que todo o território do país deve ser reconhecido como soberano. Mas aceita que o Artigo 5 fique temporariamente suspenso nessas regiões. Com isso, busca reduzir os riscos para os demais membros da OTAN, que temem se envolver diretamente na guerra.
Mesmo assim, a proposta encontra resistência. Muitos aliados ainda veem a adesão ucraniana como um o arriscado. O medo de escalar o conflito permanece forte.
Armas, não promessas
Enquanto a entrada na OTAN parece distante, outro tipo de apoio segue firme. A aliança, sob nova liderança, defende mais envio de armamentos à Ucrânia.
Mark Rutte, novo secretário-geral da OTAN, afirmou que antes de qualquer negociação com a Rússia, a Ucrânia deve estar em posição de força. Ele defende que reforçar o campo de batalha é essencial para garantir melhores termos em qualquer acordo futuro.
Mesmo assim, a OTAN segue reforçando a importância do apoio militar contínuo. Para os aliados, recuar agora seria abrir espaço para novos avanços da Rússia.
O futuro da guerra e da segurança europeia
O conflito ganhou intensidade nas últimas semanas. E o cenário segue imprevisível. A Ucrânia tenta sobreviver em meio a batalhas, promessas não cumpridas e negociações incertas.
O que está em jogo não é somente o destino de um país, mas a credibilidade das garantias internacionais. E isso, segundo Zelensky, não pode mais ser baseado só na palavra.
Com informações de Xataka.