1. Início
  2. / Marítimo
  3. / A queima de óleo combustível pesado combinada com o uso de depuradores ainda é a alternativa mais eficaz e economicamente viável para o transporte marítimo a granel
Tempo de leitura 6 min de leitura Comentários 0 comentários

A queima de óleo combustível pesado combinada com o uso de depuradores ainda é a alternativa mais eficaz e economicamente viável para o transporte marítimo a granel

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 08/04/2025 às 22:12
óleo combustível, depuradores, transporte marítimo, granel
Na foto está o navio Hedwig Oldendorff no Porto de Taicang, China, antes do início da viagem de monitoramento de emissões. Crédito: Patricia Stathatou

No setor de transporte marítimo a granel, a busca por soluções sustentáveis enfrenta desafios técnicos e econômicos. Atualmente, a queima de óleo combustível pesado aliada ao uso de depuradores é vista como a alternativa mais viável

Uma nova pesquisa científica desafia ideias antigas sobre a poluição causada por navios graneleiros. O estudo, publicado na revista Environmental Science and Technology, mostra que queimar óleo combustível pesado com depuradores pode ser tão ou mais ecológico do que usar combustíveis marítimos com baixo teor de enxofre.

Os dados vêm de uma análise detalhada feita por cientistas do MIT, da Georgia Tech e de outras instituições, em parceria com a empresa Oldendorff Carriers.

A conclusão surpreende parte da indústria marítima e de formuladores de políticas ambientais.

Dia
Xaomi 14T Pro tá um absurdo de potente e barato! Corre na Shopee e garanta o seu agora!
Ícone de Episódios Comprar

Desde 2020, a queima de combustíveis com alto teor de enxofre ou a ser limitada em nível internacional.

Esperava-se, então, que as opções menos poluentes seriam combustíveis mais caros e refinados. Mas os números mostraram outra coisa.

A escolha após a regra de 2020

Em 2020, a Organização Marítima Internacional (IMO) impôs um limite ao teor de enxofre dos combustíveis marítimos.

O objetivo era reduzir danos à saúde humana e ao meio ambiente. O novo teto foi de 0,5% para a maioria dos mares e de 0,1% para regiões próximas a grandes cidades ou ecossistemas sensíveis.

Com isso, as empresas do setor marítimo ficaram diante de três opções principais: adotar combustíveis com baixo teor de enxofre, como o óleo de gás marinho; instalar depuradores para continuar usando óleo combustível pesado; ou tentar alternativas como biocombustíveis — que são pouco disponíveis.

A solução mais prática acabou sendo a instalação de depuradores. Antes da mudança nas regras, menos de mil navios usavam esse sistema.

Hoje, são mais de 5.800 embarcações com depuradores em operação. A maioria com tecnologia de circuito aberto, que utiliza água do mar para limpar os gases da exaustão.

Como funciona o depurador

O depurador é um cilindro metálico gigante, instalado na chaminé do navio.

A água do mar é puxada, pulverizada e lançada sobre os gases quentes que saem do motor. Isso provoca uma reação química: o dióxido de enxofre vira sulfato, uma substância solúvel que já existe naturalmente no oceano.

O gás limpo segue para a atmosfera, e a água de lavagem, agora ácida, é devolvida ao mar. Isso gerou dúvidas. Será que essa água, misturada com subprodutos da queima, não seria tão poluente quanto o enxofre?

O estudo e os dados

Os pesquisadores decidiram investigar a fundo. Eles fizeram uma análise completa do ciclo de vida dos combustíveis e dos depuradores.

Isso incluiu desde a produção e transporte do combustível até a instalação e uso dos equipamentos a bordo.

Também houve medições reais, feitas dentro de um navio graneleiro operando na China.

Os cientistas compararam a queima de óleo combustível pesado com depuradores e a de combustíveis com baixo teor de enxofre. As condições de mar e de operação dos motores eram as mesmas.

Foram coletadas amostras de ar e de água de lavagem. Também foram medidas as emissões de gases e a concentração de mais de 60 substâncias químicas na água usada para o processo.

Resultados surpreendentes

As descobertas foram claras. Os depuradores reduziram em até 97% as emissões de dióxido de enxofre.

Na prática, isso colocaria o óleo combustível pesado no mesmo nível dos combustíveis com baixo enxofre, nesse aspecto específico.

Outros poluentes, como monóxido de carbono e óxidos de nitrogênio, também foram analisados, com resultados similares.

As amostras de água de lavagem mostraram níveis muito baixos de compostos químicos.

Todos estavam abaixo dos limites estabelecidos pela Organização Marítima Internacional. E, mesmo em relação a padrões mais rígidos, como os da União Europeia e da Agência de Proteção Ambiental dos EUA, os níveis ficaram geralmente bem abaixo.

Além disso, como essa água é liberada lentamente em mar aberto, e o navio está sempre em movimento, a diluição natural reduz ainda mais qualquer risco.

Comparando toda a cadeia de impacto

Um dos pontos fortes do estudo foi considerar o impacto completo, desde a origem dos combustíveis até o uso no mar.

Produzir combustíveis com baixo teor de enxofre requer mais etapas em refinarias, o que gera mais poluição na forma de gases e partículas.

O óleo combustível pesado, por ser menos processado, tem menor impacto antes mesmo de chegar ao navio. E quando se adiciona o uso de depuradores, com vida útil de cerca de 20 anos, o cenário muda de forma surpreendente.

A construção e instalação dos depuradores têm impacto ambiental pequeno quando diluído ao longo de duas décadas.

Assim, no balanço geral, a opção de queimar óleo pesado com depuradores se mostrou a menos prejudicial em quase todos os 10 fatores de impacto analisados.

Entre eles estão emissão de gases de efeito estufa, acidificação do solo, formação de ozônio e uso de recursos naturais.

Um estudo feito em alto-mar

A cientista Patricia Stathatou, principal autora da pesquisa, embarcou em um navio para colher os dados. Ela ou uma semana em alto-mar, lidando com o barulho dos motores, o calor e os equipamentos de segurança.

Essa foi, segundo ela, a parte mais difícil de toda a pesquisa. Mas os dados obtidos a bordo foram cruciais.

Eles ajudaram a validar os modelos teóricos e a confirmar que, na prática, os depuradores funcionam como o esperado — e talvez até melhor do que se imaginava.

Este estudo mostra que precisamos olhar o ciclo completo. Não dá pra decidir só com base no que sai da chaminé“, disse Patricia.

O futuro da pesquisa

Para os autores, os resultados reforçam a importância de basear políticas ambientais em estudos científicos abrangentes.

As decisões sobre combustíveis e tecnologias devem considerar dados reais e todas as etapas do processo.

Scott Bergeron, diretor da Oldendorff Carriers e coautor do estudo, destacou que o trabalho ajuda a esclarecer muitas dúvidas e mitos sobre os depuradores. “Agora temos dados reais. É disso que precisamos para fazer escolhas certas“, afirmou.

Já Thomas Klenum, do Registro Liberiano, acredita que esse tipo de estudo deve guiar as decisões da Organização Marítima Internacional nos próximos anos.

Novos caminhos e questionamentos

Apesar dos avanços, ainda há desafios. A transição para combustíveis alternativos — como amônia ou hidrogênio — está em debate, mas ainda sem respostas definitivas sobre seu real impacto ambiental.

Precisamos comparar as novas opções com as soluções que já existem. Às vezes o que parece novo e limpo pode esconder impactos maiores em outras partes do processo“, alertou Patricia.

A pesquisa trouxe uma visão nova sobre uma questão antiga. Em vez de apostar somente no que parece mais limpo, os cientistas sugerem olhar o quadro completo.

Isso inclui o que acontece antes, durante e depois da queima de cada combustível.

O estudo evidenciou que, ao considerar todo o ciclo de vida do combustível e da tecnologia, a combinação de óleo combustível pesado com depuradores não somente atende aos limites internacionais, mas também se destaca como a opção com menor impacto ambiental em diversas categorias.

Esses dados podem mudar o rumo das decisões políticas e tecnológicas no setor marítimo global nos próximos anos.

Inscreva-se
Entre com
Notificar de
guest
0 Comentários
Mais antigos
Mais recente Mais votado
s
Visualizar todos comentários
Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor. Para sugestões de pauta ou qualquer dúvida, entre em contato pelo e-mail [email protected].

Compartilhar em aplicativos
0
Adoraríamos sua opnião sobre esse assunto, comente!x