Anunciada pela LKAB, a jazida de Per Geijer na Suécia contém mais de 2 milhões de toneladas de óxidos de terras raras, mas enfrenta um longo caminho até a produção em meio a desafios técnicos e socioambientais
A descoberta da jazida de Per Geijer, no norte da Suécia, pela estatal de mineração LKAB, representa um marco para a segurança de matérias-primas da Europa. Identificada como a maior jazida de terras raras da Europa, ela promete reduzir a profunda dependência do continente em relação à China para obter esses minerais, que são vitais para a produção de eletrônicos, veículos elétricos e turbinas eólicas.
No entanto, a jornada da descoberta à produção é longa e complexa. O projeto enfrenta desafios técnicos, ambientais e, crucialmente, uma forte oposição do povo indígena Sámi, em cujas terras ancestrais o depósito está localizado.
O que é a jazida de Per Geijer e sua importância para a Europa?
O anúncio inicial da LKAB em janeiro de 2023 mencionava mais de 1 milhão de toneladas de óxidos de Elementos de Terras Raras (ETR). Explorações subsequentes, até março de 2025, ampliaram drasticamente essa estimativa para 2,2 milhões de toneladas de óxidos de ETR in situ, dentro de um corpo mineral total de 1,2 bilhão de toneladas.
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Esta é a maior jazida de terras raras da Europa conhecida. Geologicamente, é um depósito de óxido de ferro-apatita, contendo todos os 17 elementos de terras raras, incluindo os estratégicos Neodímio, Praseodímio, Disprósio e Térbio, essenciais para ímãs permanentes. Reconhecendo sua importância, a União Europeia concedeu ao projeto o status de “Projeto Estratégico” sob a Lei de Matérias-Primas Críticas (CRMA).
A estratégia da LKAB e o projeto da maior jazida de terras raras da Europa
A LKAB estima que levará pelo menos 10 a 15 anos para que a mineração comercial em Per Geijer comece e as matérias-primas cheguem ao mercado. O plano de desenvolvimento é faseado e inclui a escavação de uma galeria de exploração de vários quilômetros, a 700 metros de profundidade.
A estratégia da empresa é inovadora e se baseia na iniciativa ReeMAP, que visa uma abordagem de economia circular. O plano envolve a extração de terras raras e fósforo (um nutriente crítico para fertilizantes) a partir da apatita, um mineral presente tanto nos resíduos da mineração de ferro existente quanto no minério de Per Geijer. Uma planta de demonstração em Luleå está em construção para validar a complexa tecnologia hidrometalúrgica.
A dependência da Europa em relação à China
A descoberta de Per Geijer é geopoliticamente significativa. A China domina o mercado global de terras raras, controlando cerca de 60-70% da mineração e quase 90% do processamento. Esta dependência deixa a Europa vulnerável a interrupções no fornecimento e à manipulação de preços.
A LKAB projeta que, a longo prazo, o projeto Per Geijer poderia suprir até 18% da demanda de terras raras da Europa. Embora não represente uma autossuficiência total, é uma contribuição substancial que diversifica as fontes de suprimento e aumenta o poder de barganha do continente.
O impacto ambiental e os direitos do povo indígena Sámi
O desenvolvimento de uma mina em larga escala no sensível ecossistema ártico enfrenta um rigoroso escrutínio ambiental. No entanto, o desafio mais proeminente é o social. O depósito de Per Geijer está localizado em terras ancestrais do povo indígena Sámi, o único povo indígena reconhecido na UE.
O Conselho Sámi e outros representantes expressaram forte oposição ao projeto, vendo-o como uma ameaça à sua cultura, aos seus meios de subsistência tradicionais (como a criação de renas) e uma violação de seus direitos ao Consentimento Livre, Prévio e Informado (CLPI). Eles temem que o licenciamento acelerado pela CRMA priorize a extração de recursos em detrimento de suas preocupações.
O papel da Lei de Matérias-Primas Críticas (CRMA) e o futuro da maior jazida de terras raras da Europa
A Lei de Matérias-Primas Críticas (CRMA) da UE, que entrou em vigor em maio de 2024, é uma peça legislativa fundamental. Ela visa diminuir a dependência de importações, estabelecendo metas para que, até 2030, a Europa realize domesticamente 10% da extração, 40% do processamento e 25% da reciclagem de materiais estratégicos.
O status de “Projeto Estratégico” concedido a Per Geijer pode agilizar seu licenciamento e o a financiamento. Contudo, o sucesso da CRMA e de projetos como Per Geijer dependerá da capacidade de equilibrar o desenvolvimento estratégico com a proteção ambiental rigorosa e o respeito aos direitos indígenas. A forma como a Europa e a Suécia navegarem neste delicado equilíbrio definirá o futuro da mineração sustentável no continente.