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A empresa chinesa que começou vendendo sapatos em um trem já enfrenta a Adidas

Escrito por Noel Budeguer
Publicado em 04/02/2025 às 09:31
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A empresa chinesa que começou vendendo sapatos em um trem já enfrenta a Adidas

Anta Sports, líder esportiva chinesa, está ando de fabricante local a um verdadeiro gigante global. Um exemplo da nova ambição industrial da China

Há pouco mais de trinta anos, um adolescente chinês chamado Ding Shizhong viajava de Fuzhou para Pequim carregando sapatos fabricados no negócio da família. Hoje, essa empresa não apenas superou a Adidas como a segunda maior marca esportiva na China, mas também está trilhando um novo caminho: se tornar um grande nome global no setor esportivo.

O poder financeiro de um gigante

Muita coisa mudou desde os tempos em que Shizhong carregava sapatos em um trem. Agora, a Anta Sports fatura quase 81 bilhões de dólares por ano, segundo dados do Financial Times sobre 2023, último ano com balanços financeiros apresentados.

A história da Anta representa muito mais do que apenas o crescimento meteórico de uma empresa: simboliza a transformação da China de “fábrica do mundo” para uma potência inovadora, capaz de competir com marcas ocidentais consolidadas.

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Seu crescimento global ainda precisa ser consolidado, mas seu avanço na China é inquestionável. Apenas no primeiro semestre de 2024, a Anta registrou 4,7 bilhões de dólares em receita, o que representa:

20% a mais que a Nike China.
160% a mais que a Adidas China.
Além disso, a Anta opera mais de 9.000 lojas de varejo, a maioria na China continental. Para se ter uma ideia da magnitude desse número: Nike e Adidas possuem entre 1.000 e 2.000 lojas cada, mas globalmente.

Já a Anta tem quase todas as suas 9.000 lojas concentradas exclusivamente na China.

De fato, a Anta já foi chamada de “a Nike da China”, inclusive na Espanha. Essa é uma forma rápida de definir sua essência. No entanto, seu fundador rejeita essa comparação:

“Não queremos ser a Nike da China, mas sim a Anta global”, declarou Shizhong.

Por enquanto, a empresa já conquistou marcos importantes. Atualmente, é a quarta empresa mais valiosa do setor esportivo no mundo, ficando atrás apenas de Nike, Lululemon e Adidas.

A aquisição da Amer Sports e sua importância

Um detalhe fundamental: a Amer Sports opera de forma independente, mas pertence à Anta desde sua aquisição em 2019.

Isso significa que, se somarmos os valores de mercado de ambas, a Anta já rivaliza diretamente com Adidas e Lululemon, disputando o segundo lugar no setor esportivo mundial.

A ambição de Ding Shizhong tem um respaldo claro: a agressiva estratégia de aquisições internacionais da Anta, que já dura décadas. Alguns exemplos:

Em 2009, adquiriu os direitos da Fila para a China.

Em 2019, comprou o grupo finlandês Amer Sports.

A compra da Amer Sports deu à Anta o controle de marcas como Salomon, Arc’teryx e Wilson.
Essa estratégia permitiu à Anta crescer muito mais rápido do que rivais que estavam em posições similares no início da década ada, como Li-Ning e Xtep.

Aliás, a Anta está situada no coração da indústria chinesa de calçados esportivos, em Jinjiang, uma região que historicamente foi um polo de produção para empresas ocidentais.

Mas, com o tempo, essa região aprendeu muito e ou a criar suas próprias marcas, tornando-se um motor de inovação.

De fabricante a inovadora

A Anta não se limita mais à fabricação de calçados esportivos. Agora, investe pesadamente em inovação.

Em 2018, destinou 5,2% de sua receita para Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), segundo Nice Kicks.
Em 2021, anunciou um plano de investimento direto de 5,5 bilhões de dólares para melhorar seu sistema global de P&D.

Os resultados desse investimento incluem:

O Laboratório de Ciências do Esporte ANTA, o primeiro desse tipo na China.

Uma rede global de centros de P&D, incluindo instalações em Los Angeles, Tóquio, Seul e Milão.
Mais de 1.500 patentes registradas.

Materiais inovadores, como os tecidos reciclados REPREVE, que reduzem o consumo energético em 44% em comparação ao nylon tradicional.

O império de marcas da Anta

Compreender a Anta significa olhar além de sua própria marca. Sua estratégia de aquisições e expansão a transformou em um conglomerado esportivo semelhante à Xiaomi, possuindo diversas marcas estratégicas sob seu controle.

As principais marcas do grupo Anta:

Anta – Sua marca principal, responsável por 50% da receita. Oferece equipamentos esportivos profissionais a preços íveis, mas não atua no segmento de luxo nem no low-cost. Compete diretamente com Nike e Adidas.

Fila – Desde que foi adquirida em 2009, tornou-se o segundo pilar da empresa, representando 40% da receita. Na China, a Fila foi reposicionada como uma marca esportiva , muito mais voltada para o luxo do que no Ocidente. Atualmente, a Fila vende mais na China do que na Itália, seu país de origem.

A compra da Amer Sports em 2019 (por 5,6 bilhões de euros) deu à Anta o controle de diversas marcas renomadas do Ocidente, incluindo:

Arc’teryx (Canadá) – Roupas técnicas de montanha, com cerca de 140 lojas pelo mundo.

Salomon (França) – Especialista em calçados de trail running e equipamentos de esqui, com 114 lojas próprias e liderança em nichos esportivos técnicos.

Wilson (EUA) – Ícone dos esportes, referência no tênis, com distribuição global e presença em vários esportes.

Atomic (Áustria) – Fabricante especializado em esqui alpino e equipamentos de inverno.

Peak Performance (Suécia) – Marca de moda esportiva com forte presença nos países nórdicos.
Além dessas aquisições, a Anta também estabeleceu t ventures (50%-50%) com marcas especializadas:

Descente – Parceria com essa marca japonesa de roupas de esqui para explorar o mercado chinês.
Kolon Sport – Aliança com essa marca coreana de outdoor para expandir sua presença na Ásia.

E, no final de 2023, a Anta fez mais uma aquisição estratégica: Maia Active, uma marca chinesa de athleisure (roupas casuais esportivas) focada no mercado feminino.

Esse portfólio diversificado ajudou a Anta a mudar seu modelo de negócios nos últimos anos.

Transformação no modelo de vendas

Desde 2020, a Anta mudou de um sistema atacadista para um modelo de controle direto das lojas em grandes cidades.

Isso permitiu à empresa:

Responder mais rápido às novas tendências – enquanto concorrentes levam cerca de um ano e meio, a Anta consegue lançar novos produtos em três meses.

Controlar diretamente a experiência da marca.

Obter dados em tempo real sobre as preferências dos consumidores.
Gerenciar estoques de forma mais eficiente.

Essa estratégia multimarca, internacional e direct-to-consumer (DTC) é única entre as empresas esportivas chinesas. Enquanto concorrentes como Li-Ning tentam desenvolver marcas próprias, a Anta prefere adquiri-las e reposicioná-las no mercado.

No entanto, essa diversificação de marcas pode ser um desafio: alguns analistas apontam que essa estratégia pode diluir recursos da marca principal.

O próximo o: expansão global

Apesar do sucesso na China, a Anta quer expandir sua presença globalmente. Seu foco inicial é o Sudeste Asiático, onde já opera lojas próprias em Singapura, Malásia, Filipinas e Tailândia.

A aposta internacional da Anta ganhou ainda mais força com um movimento inesperado:

O impacto da contratação de Kyrie Irving

Em setembro de 2024, a Anta chamou a atenção do mercado ao contratar a estrela da NBA Kyrie Irving.

Ele visitou a loja da Anta em Bangkok, na Tailândia, atraindo multidões como nunca antes, segundo Nikkei Asia.

O contrato de 125 milhões de dólares por cinco anos com Irving também inclui um cargo importante: Diretor Criativo da Anta Basketball.

O mais simbólico desse acordo? Irving rompeu com a Nike após quase uma década como um dos atletas mais rentáveis da marca.

Segundo Nice Kicks, os produtos assinados por Kyrie geraram 2,6 bilhões de dólares em receita para a Nike em sete anos.

Agora, uma estrela de elite escolheu com uma marca chinesa em vez de continuar com a Nike. Isso marca um ponto de inflexão no setor esportivo global.

A Anta está replicando a fórmula que fez da Nike um fenômeno global: combinar inovação técnica com o carisma das estrelas esportivas.

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A transformação final

A Anta representa a terceira onda de marcas chinesas de sucesso global, depois dos avanços em tecnologia com Huawei e Xiaomi e dos veículos elétricos com BYD e NIO.

O próximo grande teste da empresa será sua oferta pública inicial (IPO) na Bolsa de Nova York, avaliada em 10 bilhões de dólares.

Essa abertura de capital não é apenas uma jogada financeira – simboliza a transformação da Anta de um simples fabricante para um verdadeiro gestor de marcas globais.

A estratégia da empresa está clara:

Verticalizar para controlar a experiência do cliente.

Diversificar por meio de aquisições para reduzir riscos.

Investir em inovação para competir em valor agregado.

O sucesso não é garantido. Nike e Adidas ainda dominam o setor globalmente, enquanto marcas como Lululemon, Hoka e On Running crescem rapidamente em mercados específicos.

Mas uma coisa já está clara:

A Anta não é mais apenas “a Nike chinesa”. Agora, é um gigante global do esporte que, por acaso, nasceu na China.

A verdadeira questão não é se as marcas chinesas podem competir no segmento globalmente.

A Anta já está provando que sim.

A pergunta agora é:

Quanto tempo levará para dominar o mercado esportivo mundial?

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Armando
Armando
05/02/2025 11:13

Excelente matéria. Parabéns!!

Noel Budeguer

Sou jornalista argentino, actualmente radicado en Río de Janeiro, Brasil, con trayectoria enfocada en la cobertura de temas militares, defensa, ciencia, tecnología, energía y geopolítica. Mi objetivo es traducir información técnica y compleja en contenidos accesibles y relevantes para un público amplio, siempre manteniendo el rigor periodístico. Sou apaixonado por explorar como a tecnologia y defensa impactam a sociedade eo desenvolvimento econômico. https://muckrack.com/noel-budeguer?

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