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A crise oculta da construção civil brasileira: setor bate recordes de venda, mas enfrenta uma escassez de mão de obra que ameaça o futuro das obras

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 07/11/2024 às 01:46
Crise na construção civil: setor cresce, mas enfrenta falta de trabalhadores qualificados, aumentando custos e desafios nas obras.
Crise na construção civil: setor cresce, mas enfrenta falta de trabalhadores qualificados, aumentando custos e desafios nas obras.

Setor da construção civil brasileira enfrenta um desafio inusitado: enquanto cresce o número de obras, a escassez de mão de obra qualificada ameaça paralisar projetos e eleva os custos operacionais.

O setor de construção civil no Brasil vive um paradoxo inquietante: enquanto os números de vendas e contratações aumentam, a falta de mão de obra qualificada ameaça travar o crescimento.

A situação é mais complexa do que parece e envolve altos custos, deslocamentos entre regiões e até uma mudança no perfil dos trabalhadores.

Os números preocupam e revelam o tamanho do desafio, afetando desde pequenas obras residenciais até grandes empreendimentos de infraestrutura.

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Conforme a Sondagem da Construção da FGV IBRE, a falta de mão de obra qualificada se tornou a principal queixa das empresas do setor, ultraando até mesmo a falta de demanda por obras.

Nos últimos três anos, o número de empresas que enfrentaram dificuldades para contratar trabalhadores qualificados saltou de 10,7% para impressionantes 71,2%.

No Ceará, um dos estados mais afetados, o déficit é tão grave que empresas de construção pesada estão sendo forçadas a importar mão de obra de outras cidades e até de outros estados.

De acordo com uma matéria publicada na quarta-feira (06) pelo jornal Diário do Nordeste, esse movimento gera custos adicionais com acomodação e transporte de trabalhadores que ficam até 30 dias longe de suas residências, como explicou Eduardo Aguiar Benevides, vice-presidente financeiro do Sinconpe-CE (Sindicato da Indústria da Construção Pesada do Ceará).

Formação e treinamento como solução emergencial

Para tentar contornar a falta de trabalhadores qualificados, o Sinconpe-CE tem investido em programas de capacitação, especialmente para operadores de máquinas, uma das funções mais demandadas.

Patriolino Dias, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Ceará (Sinduscon-CE), pontuou que as próprias empresas têm oferecido capacitação para atrair mais profissionais, principalmente jovens, para o setor.

Dias alerta que a média de idade dos trabalhadores na construção subiu significativamente, ando de cerca de 25 a 28 anos para mais de 40 anos.

Esse envelhecimento da mão de obra preocupa, especialmente pela ausência de jovens ingressando na área, o que pode comprometer a renovação e o dinamismo do setor no futuro.

O peso do programa Minha Casa, Minha Vida

A alta demanda, estimulada por programas como o Minha Casa, Minha Vida e pelo cenário de emprego em alta, também agrava a crise de mão de obra, conforme explicou Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos de Construção do FGV Ibre.

Com a necessidade de manter a produtividade para evitar paralisações, as construtoras têm buscado adotar novas tecnologias e tornar o setor mais atrativo para grupos sub-representados, incluindo mulheres.

Castelo afirma que o setor precisa modernizar suas técnicas e aumentar o uso de processos industriais.

“A construção civil ainda é majoritariamente artesanal e sofre com a baixa industrialização”, explicou ela, destacando que essa transformação é urgente para reduzir a vulnerabilidade do setor diante de novas crises.

Custos em alta e o Índice Nacional do Custo de Construção

Para enfrentar a falta de trabalhadores, muitas empresas estão aumentando os salários e investindo em treinamentos e deslocamento de equipes.

Porém, esse movimento tem um preço. O Índice Nacional do Custo de Construção (INCC) de mão de obra acumula uma alta superior a 7%, superando a inflação no mesmo período.

Segundo Ana Maria Castelo, essa pressão inflacionária deve persistir, impactando o custo final das obras e o orçamento das empresas.

Apesar dos desafios, as empresas indicam que continuarão contratando mais do que demitindo, o que deve manter o mercado aquecido.

Contudo, o cenário exige adaptações para evitar que o custo crescente torne os projetos inviáveis.

Demanda de 360 mil profissionais para 2025 a 2027

Outro ponto importante é a demanda por mão de obra qualificada projetada para os próximos anos.

Segundo o Mapa do Trabalho Industrial do Observatório Nacional da Indústria, o setor industrial do Ceará precisará de cerca de 380 mil profissionais no período entre 2025 e 2027.

Desse total, 316 mil devem ar por treinamento e desenvolvimento para se manterem competitivos, enquanto apenas 64 mil representarão profissionais com formação inicial.

O setor de construção civil terá a segunda maior demanda, com uma necessidade de mais de 40 mil profissionais, especialmente aqueles com capacitação em treinamento e desenvolvimento.

Em outras áreas, como logística e transporte, e no setor de couro e calçados, a demanda também deve crescer consideravelmente.

Mudanças no perfil da mão de obra e desafios para o setor

Sônia Parente, gerente de Educação Profissional do Senai-CE, ressaltou a importância de mudar a visão sobre a construção civil.

“Trabalhar na construção civil não é apenas um trabalho manual; há oportunidades para quem investe em qualificação”, afirmou.

Ela destaca que o profissional pode começar como pedreiro, mas, ao investir em formação, pode evoluir para funções como revestidor cerâmico, ampliando suas possibilidades no setor.

A perspectiva de novas formas de edificação exige competências cada vez mais específicas, e o setor ainda carrega um estigma de trabalho puramente braçal, o que afasta muitos jovens.

Entretanto, como destaca Parente, a profissionalização é essencial para preencher as vagas que continuarão sendo geradas.

Futuro da construção civil: uma crise que exige ação

O setor de construção civil precisa repensar suas estratégias para contornar o déficit de trabalhadores.

A crise atual exige uma ação coordenada entre empresas, sindicatos e instituições de ensino, com foco em capacitação e atualização tecnológica.

O aquecimento do mercado, impulsionado por programas habitacionais e pelo aumento na demanda por infraestrutura, deixa claro que a transformação do setor é não só necessária, mas urgente.

Com tantas oportunidades e um mercado aquecido, a questão permanece: o setor da construção civil conseguirá superar a falta de mão de obra qualificada e se preparar para o futuro?

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Marcelo Juarez Fernandes
Marcelo Juarez Fernandes
11/02/2025 05:03

Sindicato da contrução civil nunca prestou é verdadeira mente uma porqueira um lixo isso é fato real 👍

Anderson Rodrigues
Anderson Rodrigues
10/02/2025 13:44

Pois eu trabalho na construção civil a mais de 20 anos de experiência pois é raro pra mim ter oportunidades de emprego como pedreiro azulejista carpinteiro encanador em falta no mercado pois o que falta mesmo pra mim é que as empresas ou construtoras,,saibam dar valor pra nós da mão de obra e pagar o salário que vale ,,pois isso pra mim é a verdade ,,e não dizer que falta mão de obra…
Se eu mesmo receber uma oferta de emprego e que os valores sejam justo aí sim tenho a capacidade de ir trabalhar em qualquer lugar do país que me chamarem,,,
Pois é isso a minha questão de opinião.
Obrigado a todos que leram essa Msg.

Fausto Costa
Fausto Costa
09/11/2024 00:19

A maioria dos profissionais estão aposentados e quando construtoras recrutam esses profissionais querem pagar pouco porque recebem benefício,a maioria deles prefere trabalhar por conta própria ou até abrir seu próprio negócio e essa tendência é um caminho sem volta porque eles ganham o triplo do que ganhariam por regime de C.L.T eles estão de saco cheio de canteiro de obras.

Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa, agens por canais de TV aberta e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas. Registro profissional: 0087134/SP. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: [email protected]. Não aceitamos currículos!

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