Com mais de 4.000 km, a estrada que rasga a Amazônia enfrenta uma natureza implacável e deixa um legado de desafios sociais e ambientais.
Iniciada no governo Médici como parte do Plano de Integração Nacional (PIN), sua construção foi justificada pelo lema “Integrar para não Entregar”. Uma forte propaganda, com o slogan “Homens sem terra para uma terra sem homens”, ignorou os povos que já viviam na região. Na prática, o objetivo era abrir a floresta para a exploração de recursos por grandes empresas.
Uma construção perpétua: Os desafios de engenharia na selva
A engenharia da Transamazônica enfrenta uma batalha contínua. A maior parte dos seus 4.223 km abertos não tem pavimentação e vira um atoleiro intransitável no período de chuvas. O solo instável e os rios exigem obras de contenção constantes pelo DNIT. A rodovia não é uma obra pronta, mas um ciclo interminável de construção, colapso e reconstrução.
Desmatamento e o padrão espinha de peixe
A rodovia criou o padrão de desmatamento “espinha de peixe”. Estradas vicinais ilegais partem do eixo principal, abrindo caminho para a exploração de madeira, garimpos e pastagens. Dados de satélite do INPE confirmam que a maior parte da devastação amazônica se concentra ao longo das estradas, tornando o projeto um reconhecido desastre ambiental.
-
A usina hidrelétrica que moveu mais terra que o Canal do Panamá, tornando-se a obra de infraestrutura mais polêmica e monumental do Brasil
-
Anchieta-Imigrantes a construção monumental que desafiou a serra do mar
-
A construção da Rio-Niterói e os segredos do gigante de concreto
-
A aposta audaciosa que levou à construção de uma capital brasileira em 1.000 dias
A construção do drama humano
A construção da estrada foi uma catástrofe para os povos indígenas, como os Tenharim, que sofreram com doenças, violência e invasão de terras, levando a um colapso populacional. Para os colonos, a promessa de “terra” se revelou uma ilusão, resultando no fracasso da colonização, pobreza e intensos conflitos fundiários que beneficiaram grandes fazendeiros.
Entre o asfalto e os erros do ado
Hoje, a BR-230 é uma estrada de contrastes, com trechos modernos e outros abandonados. Novos investimentos do governo para a construção e pavimentação reascendem um velho debate: de um lado, o agronegócio defende a obra como corredor de exportação; de outro, ambientalistas alertam para o risco de repetir os mesmos erros, ampliando o desmatamento e os conflitos.