China avança com plano de megaferrovia de 3.400 km entre Sudão e Chade, cruzando o Saara e transformando o transporte de cargas na África Central.
A construção de ferrovias tem ressurgido como uma estratégia central de desenvolvimento para o continente africano. À frente desse movimento está a China, que, por meio de acordos bilaterais e investimentos em infraestrutura, está viabilizando linhas férreas estratégicas que ligam regiões ricas em recursos minerais aos portos marítimos. Um dos projetos mais ambiciosos atualmente em planejamento é a ferrovia de 3.400 km entre Port Sudan e N’Djamena, capital do Chade, atravessando áreas inóspitas do deserto do Saara — um projeto que promete transformar as rotas logísticas da África Central.
A iniciativa se soma a outras já em andamento ou revitalização, como a TAZARA Railway entre Tanzânia e Zâmbia, e o Corredor de Lobito, que liga Angola, RDC e Zâmbia. Esses projetos compõem um novo mapa ferroviário africano, financiado majoritariamente por empresas estatais chinesas e bancos de fomento.
O projeto Sudão–Chade: rota de 3.400 km financiada por Pequim
Linha férrea transaariana: da costa ao Sahel
A ferrovia planejada entre o Sudão e o Chade, segundo acordo assinado em 2017 entre os dois governos com consultoria de empresas chinesas, terá como objetivo conectar Port Sudan, no Mar Vermelho, a N’Djamena, no interior africano. O projeto terá um traçado de aproximadamente 3.400 km, ando por cidades estratégicas como Al-Fashir, Nyala e Abéché.
-
Maior rota de avião do mundo tem duração de 18 horas e 40 minutos e percorre 15.348 km sem pousar para reabastecimento ou manutenção da aeronave – uma verdadeira “maratona aérea”
-
No Japão, motoristas entram em greve, mas continuam trabalhando e se recusam a cobrar agem para não prejudicar os ageiros
-
Caça stealth do Irã foi anunciado como revolução militar — mas imagens revelaram que ele nem conseguia voar
-
Esse é o ônibus elétrico brasileiro com 250 km de autonomia com 15 metros de comprimentos
Participação chinesa
O estudo de viabilidade técnica foi confiado à China Railway Design Corporation e à China Friendship Development International Engineering Design & Consultation Company, ambas subsidiárias da China Railway Construction Corporation (CRCC). A China pretende transformar o corredor em uma espinha dorsal logística da região, assegurando o a recursos minerais chadianos como petróleo, urânio e ouro.
Segundo o Global Construction Review, o projeto faz parte da expansão africana da Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI), com expectativa de financiamento pelo Exim Bank of China e execução a cargo de empresas estatais chinesas, que detêm know-how em grandes obras em regiões áridas e politicamente instáveis.
Por que a ferrovia Sudão–Chade é tão estratégica para a China?
o ao mar para países sem litoral
O Chade, assim como outros países africanos do interior, sofre com o isolamento logístico. O país depende de rotas caras e ineficientes para exportar seus produtos, como petróleo bruto, algodão e gado. Uma ligação ferroviária direta com o Mar Vermelho reduziria drasticamente o tempo e o custo de transporte até os mercados internacionais.
Alternativa à instabilidade regional
Com o recrudescimento de conflitos no Níger e Mali, a rota via Sudão aparece como uma alternativa estratégica para o escoamento de commodities, evitando regiões de risco crescente para insurgência e terrorismo.
Expansão da influência da China
O projeto é um exemplo claro da geopolítica de infraestrutura que a China adota na África: ao construir e financiar grandes obras, Pequim fortalece sua influência e assegura o privilegiado a matérias-primas em troca de concessões, contratos e garantias políticas.
A TAZARA Railway: ícone histórico da cooperação sino-africana + China
Construída entre 1970 e 1975, com financiamento e engenharia chinesa, a ferrovia TAZARA conecta a cidade portuária de Dar es Salaam (Tanzânia) a Kapiri Mposhi (Zâmbia). Com 1.860 km, a linha foi criada como alternativa logística ao apartheid sul-africano, permitindo que a Zâmbia, então sem saída para o mar, exportasse seu cobre por um corredor livre de controle colonial.
Reabilitação em 2025
Após décadas de deterioração e má gestão, a TAZARA entrou em processo de revitalização. Em 2025, a empresa chinesa China Civil Engineering Construction Corporation (CCECC) anunciou investimento de US$ 1,4 bilhão para modernizar a via, recapear trilhos, construir pontes e estações e fornecer 32 locomotivas novas e 762 vagões.
A nova TAZARA promete transportar até 5 milhões de toneladas por ano, o triplo da capacidade atual, e tornar-se o principal corredor de exportação do cinturão de cobre da África Central.
Corredor de Lobito: a nova fronteira logística do Atlântico
Outro projeto de destaque é o Corredor Ferroviário de Lobito, uma aliança inédita entre Angola, República Democrática do Congo (RDC) e Zâmbia, com financiamento internacional. A ferrovia liga Lobito (Angola) a Kolwezi (RDC), ando por Luau, Dilolo e Luena.
Envolvimento dos EUA e UE
A ferrovia, apesar de contar com estrutura chinesa herdada da era colonial, ou a ser reabilitada com apoio dos EUA, União Europeia e Banco Africano de Desenvolvimento, em contraponto à influência chinesa na região.
Segundo o Financial Times, o projeto busca transportar minerais estratégicos, como cobalto, cobre e lítio, com alta demanda na transição energética global.
Comparativo técnico entre os corredores ferroviários
Projeto | Extensão (km) | Países envolvidos | Investimento estimado | Status atual |
---|---|---|---|---|
Sudão–Chade | 3.400 | Sudão, Chade | US$ 10 bilhões (prev.) | Estudo de viabilidade |
TAZARA | 1.860 | Tanzânia, Zâmbia | US$ 1,4 bilhão | Em reabilitação |
Corredor de Lobito | 1.300 (ferrovia) | Angola, RDC, Zâmbia | US$ 320 milhões (fase 1) | Reabilitação em execução |
Impactos esperados dos investimentos ferroviários da China
Econômicos
- Redução de custos logísticos em até 40% para países do interior
- Aumento das exportações de minérios, petróleo e produtos agrícolas
- Criação de milhares de empregos diretos na construção e operação
- Estímulo à industrialização em zonas hoje desabastecidas
Ambientais
- Menor emissão de CO₂ com substituição do transporte rodoviário
- Risco de degradação ambiental nas obras, especialmente em áreas florestais e de fauna sensível
- Necessidade de planos de mitigação ecológica com base em estudos de impacto
Sociais e geopolíticos
- Fortalecimento da soberania regional via corredores próprios de exportação
- Disputa de influência entre China, EUA e UE por rotas estratégicas
- Potencial para integração continental com base na AfCFTA (Zona de Livre Comércio Africana)
A nova corrida por trilhos no continente africano
A construção da ferrovia Sudão–Chade, aliada à revitalização da TAZARA e à modernização do Corredor de Lobito, representa um marco na história do continente africano. Os investimentos chineses têm se mostrado fundamentais para tirar projetos do papel e colocá-los sobre trilhos reais, mesmo em regiões politicamente instáveis ou geograficamente desafiadoras.
Mais do que infraestrutura, essas obras carregam o potencial de redefinir a geopolítica africana, redistribuir poder logístico e criar novas rotas de prosperidade. O que antes era deserto, isolamento ou dependência se transforma agora em conexão, comércio e soberania.
Fontes:
- Global Construction Review – Sudão-Chade
- Reuters – TAZARA
- Wikipedia – TAZARA Railway
- Financial Times – Corredor Lobito
- European Commission – Global Gateway Angola-Zâmbia