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China planeja megaferrovia de 3.400 km ligando Sudão ao Chade pelo deserto do Saara — e revoluciona o transporte no coração da África

Escrito por Valdemar Medeiros
Publicado em 06/06/2025 às 12:05
China planeja megaferrovia de 3.400 km ligando Sudão ao Chade pelo deserto do Saara — e revoluciona o transporte no coração da África
Foto: IA + CANVA + ADobe PS

China avança com plano de megaferrovia de 3.400 km entre Sudão e Chade, cruzando o Saara e transformando o transporte de cargas na África Central.

A construção de ferrovias tem ressurgido como uma estratégia central de desenvolvimento para o continente africano. À frente desse movimento está a China, que, por meio de acordos bilaterais e investimentos em infraestrutura, está viabilizando linhas férreas estratégicas que ligam regiões ricas em recursos minerais aos portos marítimos. Um dos projetos mais ambiciosos atualmente em planejamento é a ferrovia de 3.400 km entre Port Sudan e N’Djamena, capital do Chade, atravessando áreas inóspitas do deserto do Saara — um projeto que promete transformar as rotas logísticas da África Central.

A iniciativa se soma a outras já em andamento ou revitalização, como a TAZARA Railway entre Tanzânia e Zâmbia, e o Corredor de Lobito, que liga Angola, RDC e Zâmbia. Esses projetos compõem um novo mapa ferroviário africano, financiado majoritariamente por empresas estatais chinesas e bancos de fomento.

O projeto Sudão–Chade: rota de 3.400 km financiada por Pequim

Linha férrea transaariana: da costa ao Sahel

A ferrovia planejada entre o Sudão e o Chade, segundo acordo assinado em 2017 entre os dois governos com consultoria de empresas chinesas, terá como objetivo conectar Port Sudan, no Mar Vermelho, a N’Djamena, no interior africano. O projeto terá um traçado de aproximadamente 3.400 km, ando por cidades estratégicas como Al-Fashir, Nyala e Abéché.

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Participação chinesa

O estudo de viabilidade técnica foi confiado à China Railway Design Corporation e à China Friendship Development International Engineering Design & Consultation Company, ambas subsidiárias da China Railway Construction Corporation (CRCC). A China pretende transformar o corredor em uma espinha dorsal logística da região, assegurando o a recursos minerais chadianos como petróleo, urânio e ouro.

Segundo o Global Construction Review, o projeto faz parte da expansão africana da Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI), com expectativa de financiamento pelo Exim Bank of China e execução a cargo de empresas estatais chinesas, que detêm know-how em grandes obras em regiões áridas e politicamente instáveis.

Por que a ferrovia Sudão–Chade é tão estratégica para a China?

o ao mar para países sem litoral

Chade, assim como outros países africanos do interior, sofre com o isolamento logístico. O país depende de rotas caras e ineficientes para exportar seus produtos, como petróleo bruto, algodão e gado. Uma ligação ferroviária direta com o Mar Vermelho reduziria drasticamente o tempo e o custo de transporte até os mercados internacionais.

Alternativa à instabilidade regional

Com o recrudescimento de conflitos no Níger e Mali, a rota via Sudão aparece como uma alternativa estratégica para o escoamento de commodities, evitando regiões de risco crescente para insurgência e terrorismo.

Expansão da influência da China

O projeto é um exemplo claro da geopolítica de infraestrutura que a China adota na África: ao construir e financiar grandes obras, Pequim fortalece sua influência e assegura o privilegiado a matérias-primas em troca de concessões, contratos e garantias políticas.

A TAZARA Railway: ícone histórico da cooperação sino-africana + China

Construída entre 1970 e 1975, com financiamento e engenharia chinesa, a ferrovia TAZARA conecta a cidade portuária de Dar es Salaam (Tanzânia) a Kapiri Mposhi (Zâmbia). Com 1.860 km, a linha foi criada como alternativa logística ao apartheid sul-africano, permitindo que a Zâmbia, então sem saída para o mar, exportasse seu cobre por um corredor livre de controle colonial.

Reabilitação em 2025

Após décadas de deterioração e má gestão, a TAZARA entrou em processo de revitalização. Em 2025, a empresa chinesa China Civil Engineering Construction Corporation (CCECC) anunciou investimento de US$ 1,4 bilhão para modernizar a via, recapear trilhos, construir pontes e estações e fornecer 32 locomotivas novas e 762 vagões.

A nova TAZARA promete transportar até 5 milhões de toneladas por ano, o triplo da capacidade atual, e tornar-se o principal corredor de exportação do cinturão de cobre da África Central.

Corredor de Lobito: a nova fronteira logística do Atlântico

Outro projeto de destaque é o Corredor Ferroviário de Lobito, uma aliança inédita entre Angola, República Democrática do Congo (RDC) e Zâmbia, com financiamento internacional. A ferrovia liga Lobito (Angola) a Kolwezi (RDC), ando por Luau, Dilolo e Luena.

Envolvimento dos EUA e UE

A ferrovia, apesar de contar com estrutura chinesa herdada da era colonial, ou a ser reabilitada com apoio dos EUA, União Europeia e Banco Africano de Desenvolvimento, em contraponto à influência chinesa na região.

Segundo o Financial Times, o projeto busca transportar minerais estratégicos, como cobalto, cobre e lítio, com alta demanda na transição energética global.

Comparativo técnico entre os corredores ferroviários

ProjetoExtensão (km)Países envolvidosInvestimento estimadoStatus atual
Sudão–Chade3.400Sudão, ChadeUS$ 10 bilhões (prev.)Estudo de viabilidade
TAZARA1.860Tanzânia, ZâmbiaUS$ 1,4 bilhãoEm reabilitação
Corredor de Lobito1.300 (ferrovia)Angola, RDC, ZâmbiaUS$ 320 milhões (fase 1)Reabilitação em execução

Impactos esperados dos investimentos ferroviários da China

Econômicos

  • Redução de custos logísticos em até 40% para países do interior
  • Aumento das exportações de minérios, petróleo e produtos agrícolas
  • Criação de milhares de empregos diretos na construção e operação
  • Estímulo à industrialização em zonas hoje desabastecidas

Ambientais

  • Menor emissão de CO₂ com substituição do transporte rodoviário
  • Risco de degradação ambiental nas obras, especialmente em áreas florestais e de fauna sensível
  • Necessidade de planos de mitigação ecológica com base em estudos de impacto

Sociais e geopolíticos

  • Fortalecimento da soberania regional via corredores próprios de exportação
  • Disputa de influência entre China, EUA e UE por rotas estratégicas
  • Potencial para integração continental com base na AfCFTA (Zona de Livre Comércio Africana)

A nova corrida por trilhos no continente africano

A construção da ferrovia Sudão–Chade, aliada à revitalização da TAZARA e à modernização do Corredor de Lobito, representa um marco na história do continente africano. Os investimentos chineses têm se mostrado fundamentais para tirar projetos do papel e colocá-los sobre trilhos reais, mesmo em regiões politicamente instáveis ou geograficamente desafiadoras.

Mais do que infraestrutura, essas obras carregam o potencial de redefinir a geopolítica africana, redistribuir poder logístico e criar novas rotas de prosperidade. O que antes era deserto, isolamento ou dependência se transforma agora em conexão, comércio e soberania.

 Fontes:

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Valdemar Medeiros

Jornalista em formação, especialista na criação de conteúdos com foco em ações de SEO. Escreve sobre Indústria Automotiva, Energias Renováveis e Ciência e Tecnologia

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